Comissão da Verdade aponta Violações de Direitos Humanos em Adoções Internacionais na Coreia do Sul: Impactos e Repercussões

Crianças observam a vista de Seul coberta por uma densa camada de neblina causada pela poluição, em Seul, Coreia do Sul, 15 de janeiro de 2019. REUTERS/Kim Hong-Ji/Foto de Arquivo.
Crianças observam a cidade de Seul encoberta por forte poluição do ar, em 15 de janeiro de 2019. REUTERS/Kim Hong-Ji/Foto de Arquivo.

Após dois anos de investigação, a Comissão de Verdade e Reconciliação da Coreia do Sul divulgou um relatório contundente que aponta violações de direitos humanos em processos de adoção internacional. O documento revela práticas desumanas adotadas por agências de adoção, que, por décadas, enviaram crianças para o exterior de forma mecânica – chegando a serem tratadas como “bagagem” – com registros fraudulentos e manipulações de identidade.

Falhas no Sistema de Adoção

O relatório evidencia que, entre 1964 e 1999, agências de adoção sul-coreanas enviaram crianças para países como Estados Unidos, França, Dinamarca e Suécia, muitas vezes registrando bebês como órfãos mesmo quando seus pais eram conhecidos. Em casos trágicos, quando um bebê falecia antes da viagem, outro era enviado com sua identidade, perpetuando fraudes e desrespeitando os direitos das crianças e das famílias envolvidas. Fotografias de 1984, que mostram bebês amarrados aos assentos de aviões, ilustram a dimensão e a gravidade do problema.

Declarações Oficiais e Reações Governamentais

Para reforçar a credibilidade do relatório, declarações oficiais foram incluídas, ampliando a compreensão dos fatos. Park Sun-young, presidente da Comissão de Verdade, declarou:

“Essas violações jamais deveriam ter ocorrido. É imperativo que a Coreia do Sul reconheça publicamente esses erros e inicie um processo de reparação para os afetados.”
A comissão recomenda que o governo emita um pedido de desculpas oficial e inicie investigações complementares para identificar outros casos de fraude. Até o momento, o governo sul-coreano ainda não se pronunciou formalmente sobre o relatório, embora haja uma pressão crescente tanto interna quanto internacional para que medidas imediatas sejam adotadas.

Impacto na Vida dos Adotados

O impacto das fraudes na adoção internacional se estende muito além dos documentos e das estatísticas. Há inúmeros relatos de adultos que descobriram, décadas depois, que suas origens haviam sido ocultadas ou adulteradas. Muitos descrevem uma profunda crise de identidade, sentimentos de abandono e dificuldades para estabelecer vínculos com suas famílias biológicas ou adotivas.
Um desses relatos relata:

“Descobrir que minha história foi manipulada mudou minha vida para sempre. Senti que minhas raízes haviam sido arrancadas sem qualquer respeito ou cuidado.”
Essas histórias pessoais ilustram o trauma emocional causado pelas práticas abusivas e reforçam a necessidade urgente de reparações e de políticas que assegurem o direito à verdade e à identidade dos adotados.

Reações Internacionais e Pedidos de Reparação

O escândalo também repercutiu em países que receberam crianças adotadas. Governos e organizações de direitos humanos em nações como os Estados Unidos, França, Dinamarca e Suécia vêm exigindo investigações e a reparação das vítimas.
Em alguns desses países, representantes já pediram esclarecimentos e a implementação de medidas que garantam a proteção dos direitos dos adotados. Especialistas internacionais enfatizam que a transparência e a cooperação entre os países adotivos e a Coreia do Sul são fundamentais para enfrentar os erros do passado.

Resistências e Desafios no Âmbito Político

Apesar da pressão por mudanças, há resistência de alguns setores políticos e de entidades ligadas às antigas práticas de adoção. Alguns grupos argumentam que o sistema, embora falho, proporcionou a milhares de crianças oportunidades que, de outra forma, teriam sido negadas.
Essa defesa gera um debate intenso sobre como equilibrar a necessidade de reparação das injustiças cometidas e o reconhecimento dos aspectos positivos que a adoção internacional, mesmo com seus problemas, representou para muitas famílias. O desafio agora é implementar reformas que evitem a repetição desses erros, sem desconsiderar os benefícios alcançados por meio das adoções.

Conclusão

O relatório da Comissão de Verdade e Reconciliação da Coreia do Sul lança luz sobre um capítulo sombrio da história das adoções internacionais, revelando práticas que violaram direitos humanos e afetaram profundamente a vida de milhares de adotados. Com recomendações que incluem um pedido de desculpas oficial, investigações adicionais, levantamento da situação de cidadania dos adotados e a ratificação da Convenção de Haia, o documento exige ações imediatas para reparar os danos do passado.
A urgência de um posicionamento claro por parte do governo sul-coreano, a colaboração internacional e a implementação de medidas de reparação são passos essenciais para garantir que tais violações nunca mais se repitam e para restaurar a dignidade e os direitos dos afetados por esse escândalo.

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