
As negociações entre os líderes europeus sobre como garantir a segurança da Ucrânia estão passando por uma transformação significativa. Inicialmente, o envio de tropas para ajudar a garantir um futuro cessar-fogo foi considerado uma das principais opções. Contudo, devido a uma série de obstáculos políticos, logísticos e financeiros, bem como à oposição da Rússia e dos Estados Unidos, as potências europeias estão agora avaliando alternativas mais viáveis.
Mudança de Direção nas Propostas de Segurança
Em vez de enviar tropas para o solo ucraniano, os esforços estão se voltando para outras soluções. “Eles estão recuando da ideia de tropas terrestres e tentando redimensionar o que estavam fazendo para algo mais sensato”, disse um diplomata europeu, que prefere manter o anonimato. Essa mudança de foco ocorre em um momento em que a situação no terreno e a postura política dos EUA, sob a administração de Donald Trump, tornam a ideia de um envolvimento militar direto europeu menos atraente.
A França, que tem trabalhado de perto com o Reino Unido para formular opções, será anfitriã de uma reunião com cerca de 30 líderes de diferentes países nesta quinta-feira, buscando avançar nas discussões. No entanto, apesar dos esforços conjuntos, ainda existe uma aceitação crescente de que o envio de uma força militar significativa não é a solução mais provável.
A Visão dos Especialistas de Segurança
Especialistas de segurança, tanto na Europa quanto nos EUA, têm se mostrado céticos quanto à viabilidade do envio de tropas para a Ucrânia. “Eu não posso enfatizar o suficiente como é importante definir uma missão clara para qualquer força antes de planejar suas capacidades”, afirmou Ben Hodges, ex-comandante das forças do Exército dos EUA na Europa. “Somente ao definir corretamente a missão é que podemos determinar o que é necessário para cumpri-la”, completou Hodges, ressaltando a complexidade de qualquer operação militar dessa magnitude.
Obstáculos Logísticos, Financeiros e Políticos
Além das questões militares, existem obstáculos logísticos, financeiros e políticos substanciais que dificultam a implementação de um plano de envio de tropas. Para a maioria dos países da União Europeia, o custo financeiro e a escassez de recursos humanos e equipamentos são problemas significativos. Além disso, a perspectiva de um possível confronto com as forças russas traz uma preocupação adicional para os aliados europeus, especialmente os países da OTAN.
Um alto funcionário de defesa europeu observou que, embora o foco tenha se afastado da ideia de uma força europeia substancial, isso não significa que os países individuais não enviarão tropas para fornecer treinamento e apoio à Ucrânia. No entanto, “mesmo que uma grande força terrestre europeia não seja considerada viável no momento, ainda estamos planejando para manter as opções em aberto”, disse ele.
A Perspectiva Ucraniana: Garantias de Segurança e o Futuro
Desde o início da invasão russa em 2022, a Ucrânia tem enfatizado que qualquer acordo de paz precisa de garantias de segurança firmes do Ocidente para evitar futuros ataques da Rússia. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e outros líderes políticos têm reiterado a importância de uma proteção robusta. “A Ucrânia não pode ser deixada vulnerável novamente. Precisamos de garantias concretas de que, se formos atacados novamente, a resposta será imediata e decisiva”, afirmou Zelensky em um discurso recente.
Além disso, autoridades ucranianas têm expressado preocupações sobre a eficácia das alternativas propostas pela Europa. “Não podemos simplesmente confiar em garantias vagas; a segurança real para a Ucrânia depende de ações concretas”, afirmou Iryna Gerashchenko, ex-deputada e conselheira presidencial ucraniana. “A presença militar de países como os EUA e o Reino Unido é vital para a nossa defesa, mas precisamos também de apoio europeu para reforçar nossa posição na mesa de negociações”, completou Gerashchenko.
Alternativas Propostas: Missões de Monitoramento e Reforço de Fronteiras
Uma das alternativas que está sendo discutida nas reuniões é a criação de uma força de monitoramento ou uma missão de paz sob os auspícios da ONU, embora essa ideia ainda seja vista como “hipotética”. O Subsecretário-Geral da ONU para Operações de Paz, Jean-Pierre Lacroix, afirmou na última terça-feira que a possibilidade de uma missão de monitoramento das Nações Unidas é “muito especulativa”, embora a discussão sobre esse tópico esteja se tornando mais frequente.
Além disso, a Europa pode desempenhar um papel de apoio, atuando como um reforço para as forças já presentes nos países vizinhos da Ucrânia, como a Romênia, e fortalecendo as forças da OTAN na região. Como afirmou o primeiro-ministro italiano, Giorgia Meloni, enquanto a adesão da Ucrânia à OTAN ainda não é uma possibilidade imediata, há espaço para expandir a aplicação do tratado de defesa mútua da OTAN para garantir assistência no caso de um novo ataque à Ucrânia.
O Papel dos EUA e da NATO nas Discussões Futuras
Os EUA também têm sido parte importante das discussões. Embora a administração Trump tenha inicialmente demonstrado apoio a algumas propostas europeias, o sentimento recente nos Estados Unidos tem sido mais cético. O enviado dos EUA, Steve Witkoff, ridicularizou as propostas de envio de tropas como “uma postura e uma pose”, em entrevista recente ao podcaster Tucker Carlson.
O envolvimento contínuo da NATO e dos EUA será crucial, especialmente no que diz respeito ao fortalecimento das defesas aéreas e marítimas da Ucrânia, conforme indicado pelo primeiro-ministro britânico Keir Starmer. “Estamos focados em garantir que os céus, os mares e as fronteiras da Ucrânia estejam seguros”, disse Starmer, destacando a necessidade de uma reação rápida a um possível acordo de paz.
Conclusão: Desafios e Oportunidades no Horizonte
À medida que os países europeus reavaliam suas opções de segurança para a Ucrânia, fica claro que as alternativas ao envio de tropas são vistas como mais viáveis, apesar dos desafios significativos. A criação de uma força de monitoramento, o reforço das defesas em países vizinhos e as garantias de segurança de longo prazo são algumas das opções que estão sendo exploradas. No entanto, como as discussões continuam a se desenrolar, o futuro da segurança ucraniana depende da vontade política das potências ocidentais, da disposição de envolver a Rússia e da capacidade da Ucrânia de negociar uma paz duradoura.
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