Militares israelenses revisam versão sobre mortes de trabalhadores humanitários em Gaza

Palestinos lamentam a morte de profissionais de saúde atingidos por fogo israelense em Khan Younis, em 31 de março de 2025. Foto: REUTERS/Hatem Khaled
Palestinos lamentam a morte de profissionais de saúde atingidos por fogo israelense em Khan Younis, em 31 de março de 2025. Foto: REUTERS/Hatem Khaled

Em uma reviravolta que adiciona mais camadas à controvérsia, o exército israelense revisou sua narrativa inicial sobre o incidente que vitimou 15 paramédicos e socorristas na região sul de Rafah, em Gaza.

No dia 23 de março, durante as primeiras horas da manhã, 15 trabalhadores de emergência — integrantes do Corpo da Cruz Vermelha Palestina, dos serviços de emergência civil e da equipe da ONU — foram mortos em circunstâncias que continuam a ser analisadas por investigadores. A revisão da versão inicial, que atribuía o disparo a veículos “suspiciosos” sem marcação, vem acompanhada de novas evidências que apontam para um cenário bem diferente.

Contexto do Incidente

O que aconteceu?

Na madrugada de 23 de março, enquanto as equipes de socorro se deslocavam pela região para atender vítimas de ataques aéreos israelenses, 15 paramédicos e socorristas foram alvejados e mortos. Os corpos foram inicialmente encontrados enterrados em uma sepultura rasa, e posteriormente recuperados por oficiais da ONU e do Crescente Vermelho Palestino, que identificaram veículos de emergência – ambulâncias e caminhões de bombeiros – claramente sinalizados e com as luzes acesas.

Versão Inicial vs. Evidências Recentes

A versão inicial do exército israelense afirmava que os soldados abriram fogo contra veículos que se aproximavam de sua posição de maneira “suspiciosa”, sem uso de luzes ou marcas identificadoras, o que supostamente teria resultado na morte de nove militantes do Hamas e da Jihad Islâmica que transitavam em veículos do Crescente Vermelho Palestino.

Contudo, vídeos recuperados do celular de um dos mortos — divulgados pelo Crescente Vermelho Palestino — demonstram de forma inequívoca que os veículos eram de emergência, com uniformes e sinalização claramente identificada. Munther Abed, o único sobrevivente conhecido do episódio, confirmou ter visto soldados abrindo fogo contra veículos marcados, evidenciando uma discrepância gritante entre a narrativa militar e as imagens registradas.

Revisão da Versão e o Processo de Investigação

Análise dos Vídeos e Testemunhos

Um oficial militar israelense anunciou que, após a obtenção dos vídeos, os investigadores estão reavaliando o episódio com base em “informações operacionais” que sugerem um equívoco na narrativa inicial. O relato original, que não mencionava a presença de luzes, pode ter sido fruto de um erro na comunicação do soldado que reportou o ocorrido.

Procedimentos e Novas Evidências

A investigação aponta para uma situação onde, por volta das 4h da manhã, os soldados teriam aberto fogo sobre um veículo, resultando na morte de dois membros das forças de segurança internas do Hamas. À medida que o tempo avançava, os militares passaram a receber informações via vigilância aérea de que um grupo de veículos – posteriormente identificados como de emergência – estava se aproximando, levando-os a adotar a mesma postura defensiva que justificaria a ação letal. Contudo, os relatos e imagens de vigilância demonstram que a distância e o posicionamento dos soldados indicavam um disparo efetuado de longe, refutando acusações de maus-tratos ou de terem algemado os paramédicos antes de atirar.

Reações Internacionais e Legitimidade do Direito Humanitário

Reações Globais e de ONGs

O episódio tem gerado forte repúdio internacional. Diversos países e organizações humanitárias exigem uma investigação independente. Em declaração, um porta-voz do Crescente Vermelho Palestino afirmou:

“Não podemos aceitar que equipes de emergência, claramente identificadas, sejam tratadas como alvos militares. Precisamos de transparência total sobre o ocorrido.”
Além disso, a ONU vem pressionando por acesso irrestrito à área para recuperar os corpos e realizar um inquérito detalhado, enquanto diversos governos de países europeus e da região reforçam a necessidade de responsabilização e apuração dos fatos.

Nota sobre o Direito Internacional Humanitário

Ataques deliberados contra equipes médicas e veículos de emergência violam normas fundamentais do direito internacional humanitário. Segundo especialistas, se comprovada a intenção de atingir civis e trabalhadores humanitários, os responsáveis podem ser enquadrados por crimes de guerra. Essa perspectiva reforça a urgência de uma investigação imparcial e abrangente, que assegure justiça e cumpra os padrões internacionais de proteção dos direitos humanos.

Análise e Reflexões Finais

A mudança na versão apresentada pelos militares israelenses, à luz de evidências visuais e depoimentos, reflete a complexidade dos conflitos e a dificuldade em obter uma narrativa unívoca em situações de intenso confronto. Enquanto os investigadores continuam a analisar as imagens e a testar as informações operacionais, a controvérsia se aprofunda, dividindo opiniões e ressaltando a necessidade de apuração independente para que a verdade dos fatos seja definitivamente esclarecida.

Em um contexto em que a precisão dos relatos pode determinar a responsabilidade política e legal, a revisão dessa narrativa é crucial para a legitimidade das forças envolvidas. O episódio serve como mais um exemplo da volatilidade que marca a região, onde a presença de diferentes atores – desde forças militares até organizações humanitárias – torna a verificação dos fatos um processo essencial para a manutenção do direito internacional e dos direitos humanos.

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