Irã desconfia de negociações com os EUA: ceticismo marca preparativos para reunião em Omã

Líder supremo do Irã, Ali Khamenei, antes de negociações com os Estados Unidos
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, durante uma reunião em Teerã, em 8 de março de 2025. Foto: Gabinete do Líder Iraniano/WANA/Divulgação via REUTERS.

As negociações EUA-Irã previstas para este final de semana estão sendo vistas com desconfiança por Teerã, que tem pouca expectativa de avanços.

Segundo autoridades iranianas ouvidas pela agência Reuters, há profundas suspeitas quanto às intenções de Washington, especialmente diante das ameaças militares feitas por Donald Trump desde seu retorno à Casa Branca, em janeiro de 2025.

As negociações foram anunciadas na segunda-feira (7) pelo próprio presidente dos EUA, que afirmou que o encontro será direto e acontecerá em Omã, no sábado. No entanto, Teerã mantém a posição de que qualquer diálogo deve ocorrer de forma indireta, por meio de mediação. Segundo o chanceler iraniano Abbas Araqchi, isso se deve ao “tom de pressão e ameaça” adotado pelos Estados Unidos.

“Negociações indiretas podem garantir um diálogo genuíno e eficaz”, afirmou Araqchi à agência estatal iraniana IRNA.

As conversas devem ser lideradas por Abbas Araqchi e por Steve Witkoff, enviado especial de Trump para o Oriente Médio. O ministro das Relações Exteriores de Omã, Badr al-Busaidi, atuará como mediador.

Teerã exige gesto concreto nas negociações EUA-Irã

Fontes iranianas e diplomatas regionais afirmam que o Irã só aceita uma conversa direta caso os Estados Unidos demonstrem boa vontade, como o levantamento parcial de sanções ou o desbloqueio de recursos iranianos congelados.

“Os iranianos nos disseram que as conversas diretas são possíveis, mas precisam de um gesto de boa vontade. Suspender algumas sanções ou descongelar parte do dinheiro seria um começo”, disse um diplomata da região.

A postura de Teerã tem sido consistente, como reforçado em declarações recentes de outros líderes iranianos. Um artigo publicado em nosso site detalha que o Irã está aberto a negociações indiretas com os EUA, segundo assessor de Khamenei, reforçando a linha diplomática cautelosa adotada pela República Islâmica.

Rússia apoia e reforça laços com o Irã

O Kremlin, por meio do porta-voz Dmitry Peskov, declarou apoio a qualquer formato de diálogo entre Teerã e Washington, desde que contribua para a redução das tensões regionais. “Sabemos que certos contatos, diretos e indiretos, estão planejados em Omã”, afirmou.

Essa postura segue a linha adotada por Moscou nos últimos meses. Em março, a Rússia condenou os ultimatos e ameaças bombásticas de Trump contra o Irã, classificando-os como contraproducentes para a estabilidade regional.

Na mesma linha, o parlamento russo ratificou na terça-feira (8) um acordo de parceria estratégica de 20 anos com o Irã, sinalizando uma intensificação nas relações militares e geopolíticas entre Moscou e Teerã.

Histórico de impasses

O padrão de avanços e recuos nas negociações nucleares entre o Irã e o Ocidente, amplamente abordado por este portal, volta ao centro do debate. Em 2015, o Irã firmou um acordo com seis potências mundiais — EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha — comprometendo-se a limitar seu programa nuclear. No entanto, em 2017, Trump retirou unilateralmente os Estados Unidos do pacto, durante seu primeiro mandato, e desde então as tratativas estagnaram.

Como temos acompanhado ao longo dos últimos meses, a crescente instabilidade no Oriente Médio — com guerras em Gaza, Líbano, Síria e Iêmen — tem elevado o grau de tensão em toda a região produtora de petróleo. As constantes ameaças de ação militar por parte dos EUA apenas acentuam esse cenário volátil.

Irã resiste à pressão por um “novo acordo”

Autoridades iranianas afirmam que o objetivo de Trump é impor um novo acordo que envolva não apenas o desmonte do programa nuclear, mas também a contenção da influência iraniana na região e o fim do programa de mísseis balísticos. Para Teerã, essas exigências são inaceitáveis.

“Trump quer um novo acordo: acabar com a influência regional do Irã, desmontar seu programa nuclear e frear seu projeto de mísseis. Isso é inaceitável para Teerã. Nosso programa nuclear não pode ser desmontado”, declarou um alto funcionário iraniano.

Outro oficial reforçou a posição inegociável do país:

“Nossa defesa não está em discussão. Como podemos nos desarmar se Israel possui ogivas nucleares? Quem nos protegeria em caso de ataque?”

Israel observa de perto

Israel, que sempre considerou o Irã como sua maior ameaça regional, derrotou recentemente o Hezbollah, aliado libanês de Teerã. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, esteve com Trump no momento do anúncio das negociações, e voltou a defender uma solução diplomática “completa”, fazendo alusão ao desmantelamento do programa nuclear líbio.

Conclusão

O cenário que se desenha em Omã reflete um jogo diplomático de alto risco. Com desconfianças mútuas, aliados atentos e interesses estratégicos em jogo, o desenrolar dessas conversas pode redefinir o rumo da política nuclear no Oriente Médio — ou, ao contrário, reacender velhas chamas num barril já em combustão.

Negociações EUA-Irã Foto: Brasil Escola
Omã é um país estrategicamente localizado na Península Arábica, próximo ao Estreito de Ormuz — rota vital para o transporte global de petróleo —, e tem atuado como mediador neutro em disputas no Oriente Médio, incluindo as negociações entre Irã e Estados Unidos. Foto: Brasil Escola

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