Presidente sírio visita os Emirados Árabes Unidos em busca de apoio político e econômico

Ahmed al-Sharaa durante entrevista no palácio presidencial em Damasco, 10 de março de 2025.
O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, durante entrevista à Reuters no palácio presidencial em Damasco, em 10 de março de 2025. REUTERS/Khalil Ashawi

O presidente sírio Ahmed al-Sharaa realiza neste domingo sua segunda visita oficial a um país do Golfo desde que assumiu o poder, viajando aos Emirados Árabes Unidos acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Assad al-Shibani. A informação foi divulgada pela agência estatal SANA, que afirmou que os líderes discutirão “questões de interesse mútuo”, sem fornecer mais detalhes.

A viagem ocorre em um momento de reaproximação entre a Síria e seus vizinhos árabes, enquanto o novo governo tenta consolidar sua posição internacional após a derrubada de Bashar al-Assad em dezembro, pelas forças da coalizão sunita lideradas pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS).

Reaproximação com o Golfo em meio à desconfiança

Não é a primeira vez que Sharaa realiza uma visita a um país do Golfo. Em fevereiro, ele esteve na Arábia Saudita para uma reunião com o príncipe herdeiro, marco simbólico de sua primeira viagem ao exterior. (Leia também: O presidente sírio Sharaa se reúne com o príncipe herdeiro saudita em Riad em sua primeira viagem ao exterior)

Embora os Emirados Árabes tenham se posicionado de forma hostil a grupos islamistas no passado, a visita de Sharaa é vista como uma tentativa de construir pontes com governos que até então viam o HTS com desconfiança. Abu Dhabi é um dos maiores críticos do islamismo político na região, especialmente após as experiências traumáticas com grupos similares no Egito, Sudão e Líbia.

Em 2022, o Ministério das Relações Exteriores dos EAU chegou a declarar que “o extremismo e o colapso do Estado sírio representam ameaças existenciais à segurança regional”.

Declaração oficial de Sharaa e objetivos da visita

Durante uma recente entrevista à SANA, Sharaa afirmou:

“Nosso objetivo é reconstruir a Síria como um país inclusivo e seguro para todos os seus cidadãos. Buscamos cooperação com nossos irmãos árabes para garantir estabilidade, desenvolvimento e soberania.”

Desafios internos e pressões externas

O novo governo enfrenta o desafio de manter a ordem em um país devastado por 14 anos de guerra civil, enquanto tenta provar à comunidade internacional que pode liderar um processo de transição estável e representativo.

Segundo dados do Banco Mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) da Síria encolheu cerca de 80% desde 2011, e quase 90% da população vive abaixo da linha da pobreza. Além disso, as sanções dos Estados Unidos e da União Europeia continuam a restringir severamente o acesso a capitais e ajuda humanitária.

Tanto Washington quanto Bruxelas têm observado com ceticismo o novo governo sírio. Fontes diplomáticas ocidentais disseram à Reuters que o reconhecimento formal de Sharaa dependerá de “progressos verificáveis em termos de inclusão política, respeito aos direitos humanos e combate a grupos extremistas como o Estado Islâmico”.

Cenário geopolítico em transformação

A queda de Assad marcou uma virada no cenário regional. Analistas apontam que a ascensão de uma liderança sunita em Damasco abre espaço para uma maior aproximação com países do Golfo, mas ainda há muitas incógnitas. O Irã, antigo aliado de Assad, tem mantido silêncio, enquanto a Rússia tem limitado seu envolvimento na Síria após priorizar sua guerra na Ucrânia.

O sucesso da viagem de Sharaa aos Emirados pode representar um primeiro passo para tirar a Síria do isolamento internacional, mas os obstáculos diplomáticos, econômicos e ideológicos ainda são significativos.

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