
O Parlamento da Moldávia aprovou hoje (17), por 57 votos favoráveis e 32 abstenções, a realização de eleições parlamentares para o próximo dia 28 de setembro. A expectativa é de que esse pleito seja um dos mais disputados das últimas décadas, com o possível realinhamento de forças políticas que poderá redefinir o rumo geopolítico e econômico do país.
Contexto Histórico e Político
Desde as eleições de julho de 2021, o Partido da Acção e Solidariedade (PAS), de orientação pró‑europeia e liderado pela presidente Maia Sandu, detém 63 dos 101 assentos no Parlamento, superando confortavelmente a maioria simples. A oposição se dividiu principalmente entre o Bloco Eleitoral de Comunistas e Socialistas (BECS), com 32 cadeiras, e partidos menores, como o Partido Șor, que reflete a tradição pró‑Moscou em determinadas regiões do leste.
Ao longo dos últimos anos, a Moldávia tem oscilado entre tendências de integração europeia e pressões de influência russa — em especial na região separatista da Transnístria. Essa tensão estrutural configura o pano de fundo das disputas eleitorais, onde a agenda de reformas e combate à corrupção se choca com narrativas de segurança e laços históricos com a Rússia.
Análise de Impacto Econômico
Dependência Energética
A Moldávia importa cerca de 80 % de seu gás natural da Rússia, via empresa Gazprom. Qualquer interrupção — seja por sanções, crises diplomáticas ou falta de liquidação de dívidas — ameaça o abastecimento doméstico e industrial.
Efeito das Sanções
Sanções econômicas impostas ao Kremlin desde 2022 reverberam na Moldávia: o aumento no preço do gás e na volatilidade cambial pressionam os custos de produção e o poder de compra da população.
Eleições e Políticas Econômicas
- Vitória do PAS: espera‑se continuidade na diversificação de fornecedores (por gasodutos alternativos e GNL), atração de investimentos europeus e aceleração de reformas no setor bancário.
- Vitória da Coligação de Stoianoglo: pode haver renegociação de contratos de energia com a Rússia, redução de tarifas de importação de combustíveis russos e maior abertura a linhas de crédito de Moscou, em troca de concessões políticas.
Reações Internas e Internacionais
- Sociedade Civil: Organizações pró‑democracia intensificaram campanhas de engajamento para aumentar a participação, especialmente entre jovens e residentes no exterior. Há, porém, polarização acirrada em debates públicos, refletindo desigualdades regionais e econômicas.
- Comunidades Minoritárias: A população de língua russa, concentrada no leste, demonstra maior simpatia pela oposição pró‑Moscou, enquanto as áreas mais ocidentais (pró‑romenas) reforçam a adesão ao PAS.
- União Europeia e EUA: Ofereceram apoio técnico ao processo eleitoral e alertam para a importância de transparência e monitoramento. Financiamentos para observadores internacionais já foram confirmados.
- Rússia: Mantém postura ambígua, criticando “pressões ocidentais” e, ao mesmo tempo, declarando que respeitará o resultado — mas analistas apontam para possíveis campanhas de desinformação visando influenciar eleitores.
Expectativas para o Futuro
Cenário Pró‑Europeu (Vitória do PAS)
- Aceleração no processo de adesão à UE;
- Aumento de fundos de coesão e investimentos em infraestrutura;
- Fortalecimento de iniciativas anticorrupção e judicial.
Cenário Equilibrado (Empate ou Coligação Moderada)
- Governabilidade mais complexa, com necessidade de entendimentos pontuais no Parlamento;
- Políticas de balanço entre abertura ao mercado europeu e acordos pragmáticos com a Rússia;
- Maior volatilidade nas decisões de Estado.
Cenário Pró‑Russo (Vitória da Coligação de Stoianoglo)
- Reaproximação comercial e energética com Moscou;
- Redução de metas de integração europeia;
- Potencial retórica nacionalista e aumento de tensões com Bucareste e Kiev.
Conclusão
A votação parlamentar em 28 de setembro de 2025 marcará uma encruzilhada decisiva para a Moldávia. Os eleitores escolherão não apenas representantes, mas também o alinhamento estratégico do país entre duas grandes influências: a União Europeia, promissora de modernização e apoio financeiro, e a Rússia, detentora de laços históricos e influências diretas em setores-chave. Com a economia vulnerável a choques externos e a sociedade dividida, o pleito moldavo poderá definir o equilíbrio geopolítico na fronteira oriental da Europa pelos próximos anos.
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