Irã e EUA Iniciam Fases Técnicas para Estrutura de Acordo Nuclear

Ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, durante reunião com o Ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, em Roma, 19 de abril de 2025.
"O Ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, participa de uma reunião com o Ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, em Roma, no dia 19 de abril de 2025. Foto via Telegram/Handout via REUTERS.

Hoje, sábado, 19 de abril de 2025, Teerã e Washington deram um passo inédito rumo à reconstrução de um pacto nuclear que havia sido abandonado em 2018 pelo governo de Donald Trump. Durante uma segunda rodada de conversas indiretas em Roma, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, e o enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, acordaram em designar especialistas técnicos para traçar a estrutura de um possível acordo nuclear.

Contexto Histórico e Político

Em 2015, o entendimento multilateral — conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) — limitou o programa nuclear iraniano em troca do levantamento gradual de sanções internacionais. No entanto, três anos depois, o governo Trump rompeu unilateralmente com o acordo, reinstaurando medidas punitivas contra o Irã e ameaçando retaliar militarmente caso Teerã persistisse no aumento de seu enriquecimento de urânio. Desde 2019, o país ultrapassou amplamente os limites estabelecidos em 2015, acumulando estoques que excedem o necessário para fins exclusivamente civis.

Negociações em Roma e a Nova Fase


Segundo Araqchi, as negociações que se estenderam por quase quatro horas foram conduzidas “em atmosfera construtiva” e resultaram em “progresso em princípios e objetivos” comuns. Ficou decidido que, a partir de quarta-feira, equipes de expert‑level meetings se reunirão em Omã para delinear um framework inicial do acordo. Em seguida, no sábado seguinte, os principais negociadores revisarão o trabalho realizado para avaliar sua aderência às diretrizes acordadas.

“Chegamos a um entendimento melhor sobre os pontos centrais. Seguiremos adiante com cautela, sem otimismo exagerado nem pessimismo infundado”, afirmou Araqchi à televisão estatal.

Do lado norte-americano, ainda não houve pronunciamento oficial sobre os resultados desse encontro, mas o presidente Trump reforçou seu objetivo: “Quero impedir que o Irã desenvolva uma arma nuclear. Desejo que o país seja próspero e seguro, mas sem capacidade para ameaçar o mundo.”

Impacto das Sanções e Vozes da Sociedade Civil


Para a população iraniana, as sanções econômicas significaram inflação elevada, desvalorização da moeda e dificuldades de acesso a medicamentos e produtos básicos. Em Teerã, a professora universitária Sara Mahdavi, 42 anos, conta que tem recorrido ao mercado paralelo para comprar remédios para o pai, portador de diabetes:

“O custo triplicou nos últimos anos. Vejo pessoas indo ao exterior em busca de tratamentos que se tornaram inacessíveis aqui.”

Organizações como a Anistia Internacional e o Human Rights Watch têm alertado para o impacto humanitário dessas medidas, que penalizam principalmente os grupos mais vulneráveis. Ao mesmo tempo, o Nuclear Threat Initiative, think tank com sede em Washington, destaca que a retomada do diálogo, mesmo que cautelosa, reduz o risco de um confronto indireto na região.

Perspectivas Regionais e Reações de Aliados


O Israel, principal opositor do programa nuclear iraniano, não descartou ações militares contra instalações nucleares do Irã nas próximas semanas. Fontes anônimas do governo israelense afirmam que o país monitora de perto cada fase da negociação, pronto para intervir caso considere que o pacto não seja suficientemente rígido.(ja falamos sobre isso:https://xn--hojenomundopoltico-uyb.com/israel-ira-ataque-limitado/)

Já países europeus — signatários originais do JCPOA — saudaram o anúncio em Roma como um passo importante. França, Alemanha e Reino Unido têm pressionado por um acordo que combine garantias técnicas sobre o programa nuclear iraniano com o alívio das restrições econômicas a Teerã.

Análise e Cenários Possíveis

Grupos regionais e milícias apoiadas por Teerã podem retaliar medidas americanas no Iraque ou Síria.

Acordo Restaurado com Limitações Claras

As equipes de especialistas definem barreiras ao nível de enriquecimento e número de centrífugas.

Em troca, as sanções econômicas começam a ser suspensas gradualmente.

Impasse Técnico e Diplomaticamente Armamentista

Falhas em concordar sobre verificações da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) geram desconfiança.

Possibilidade de retaliações econômicas ou militares por ambas as partes.

Interferência de Terceiros e Desgaste Político

Pressões internas no Irã (Conselho Supremo de Segurança Nacional) e nos EUA (Congresso) podem travar o processo.

Conclusão

O reinício das negociações, ainda que indiretas, sinaliza uma disposição mútua em retomar o controle sobre o programa nuclear iraniano, revertendo anos de tensão que colocaram o Oriente Médio na iminência de um novo ciclo de conflitos. A designação de especialistas técnicos para desenhar o arcabouço do acordo representa o reconhecimento de que a retomada de um pacto tão complexo exige não apenas vontade política, mas também rigor científico e diplomático. Resta agora observar se, em Omã, esse novo formato de diálogo produzirá um entendimento robusto o bastante para garantir a não proliferação sem agravar ainda mais o sofrimento de cidadãos comuns, já duramente afetados por sanções e insegurança regional.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*