Tribunal tunisiano impõe penas de 13 a 66 anos a líderes da oposição por “conspiração”

Ahmed Nejib Chebbi, líder da Frente de Salvação Nacional, fala durante uma coletiva de imprensa em Túnis, Tunísia, em 15 de fevereiro de 2023.
Ahmed Nejib Chebbi, líder da coalizão opositora Frente de Salvação Nacional, durante coletiva de imprensa em Túnis, Tunísia — 15 de fevereiro de 2023. (Foto: REUTERS/Jihed Abidellaoui)

Hoje, sábado, um tribunal de Tunis condenou 40 figuras da oposição — entre políticos, empresários e advogados — a penas de prisão que variam de 13 a 66 anos, no que críticos classificam como um julgamento político e uma demonstração do caráter autoritário do presidente Kais Saied.

Contexto de autoritarismo crescente

Desde julho de 2021, quando Saied dissolveu o Parlamento por decreto e assumiu plenos poderes, a independência judicial e as liberdades civis em Tunísia vêm sofrendo retrocessos significativos. Em 2022, ele extinguiu o Conselho Superior da Magistratura e demitiu dezenas de juízes, concentrando o controle do Judiciário nas mãos do Executivo.

Detalhes das sentenças

  • .Kamel Ltaif, empresário, recebeu a pena mais severa: 66 anos de prisão.
  • O político Khyam Turki foi sentenciado a 48 anos.
  • Os opositores Ghazi Chaouachi, Issam Chebbi, Jawahar Ben Mbrak e Ridha Belhaj foram condenados a 18 anos cada um.
  • Esses líderes estavam detidos desde 2023, acusados de conspirar para “desestabilizar” o país e derrubar Saied

Reação de organizações de direitos humanos

Grupos como a Human Rights Watch criticam o uso de detenção arbitrária para silenciar opositores, descrevendo o processo como parte de uma “política repressiva” que mina as conquistas da Primavera Árabe de 2011. A Anistia Internacional também alertou para “acusações fabricadas” e instou parceiros internacionais da Tunísia a condenar a perseguição política e a exigir a libertação imediata dos detidos.

Vozes da oposição e defesa

Advogados de defesa qualificaram o julgamento de farsa e denunciam sentenças previamente definidas, sem investigação transparente dos fatos. Familiares e apoiadores realizaram protestos em frente ao tribunal, exigindo a libertação dos réus e acusando as autoridades de usar o sistema judiciário para “criminalizar a oposição”.

Impacto doméstico e internacional

As condenações aprofundam o isolamento político de Saied, que já prendeu ou forçou o exílio de líderes de destaque, como Abir Moussi (Partido Livre Constitucional) e Rached Ghannouchi (Ennahda). No cenário internacional, aliados europeus e os EUA têm manifestado preocupação com o retrocesso democrático e avaliam medidas de pressão diplomática e condicionamento de ajuda financeira.

Implicações para a democracia tunisiana

Especialistas apontam que o caso simboliza o fim do pluralismo político na Tunísia, país-teste da Primavera Árabe. A escalada autoritária ameaça não só a liberdade de expressão e de associação, mas também prejudica reformas econômicas e a estabilidade social, abrindo espaço para instabilidade a médio prazo.

Conclusão


As penas draconianas impostas nesta semana representam um marco na consolidação do poder pessoal de Kais Saied e um severo golpe ao processo democrático tunisiano. Enquanto o governo sustenta que age para proteger a ordem interna, observadores internos e externos veem nas sentenças uma tentativa de silenciar vozes dissidentes. O futuro político de Tunísia dependerá agora da pressão da sociedade civil, das instituições internacionais e da capacidade de resistência da oposição, que luta para manter viva a chama da democracia no país que deu início à Primavera Árabe.

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