
Em meio a crescentes tensões na fronteira sul do Líbano, o presidente libanês Joseph Aoun afirmou que o desarmamento do Hezbollah é uma questão “sensível, delicada” que requer condições favoráveis e diálogo cuidadoso para não comprometer a paz interna do país. Segundo Aoun, qualquer tentativa precipitada de retirar as armas do grupo pode levar o Líbano “ao caos e à ruína”, reforçando que decisões sobre a paz e a guerra devem ser prerrogativa exclusiva do Estado libanês.
Pressão internacional e prazo para 2025
O governo dos Estados Unidos vem exercendo pressão sustentada para que o Líbano avance no controle monopólico das armas pelo Estado. Na semana passada, a enviada americana Morgan Ortagus ressaltou a urgência em desarmar grupos armados como o Hezbollah “o mais rápido possível” e elogiou esforços do Exército Libanês para confiscar arsenais no sul do país. Em resposta, Aoun mencionou sua meta de concluir o processo até o final de 2025, enfatizando que o desarmamento deve ocorrer “passo a passo” e em ambiente de entendimento mútuo.
Atuação do Exército Libanês e fim de ataque iminente
Pouco antes das declarações de Aoun, o Exército Libanês anunciou que havia frustrado um ataque com foguetes direcionado a Israel, o primeiro desde o cessar-fogo de novembro de 2024. Tropas realizaram uma operação na região de Sidon, apreenderam foguetes, plataformas de lançamento e prenderam suspeitos envolvidos em ações anteriores contra território israelense. O episódio reforça a crescente capacidade e vontade do Líbano de impor sua autoridade sobre grupos armados dentro de suas fronteiras.
Violação do cessar‑fogo e mortes em ataques aéreos
Enquanto isso, Israel continuou a realizar ataques aéreos em áreas do sul do Líbano, resultando na morte de pelo menos duas pessoas. Um dos alvos foi uma residência na vila de Hula, onde um míssil matou um civil, e outro ataque com drone atingiu um veículo em Kaoutariyet as‑Siyad, vitimando outra pessoa. O Exército israelense afirmou que um dos mortos era Hussein Ali Nasr, vice‑chefe de uma unidade do Hezbollah acusada de tráfico de armas e fundos com apoio iraniano. Essas ações são vistas por Beirute como violações do acordo de cessar‑fogo de novembro, que previa a retirada de Israel de pontos no sul e o fim das hostilidades.
Reação de organizações internacionais e direitos humanos
A UNIFIL (Força Interina das Nações Unidas no Líbano) manifestou preocupação com os constantes incidentes ao norte da Linha Azul, ressaltando que a presença de civis e de peace‑keepers aumenta o risco de violações do direito internacional humanitário. Por sua vez, a Human Rights Watch denunciou que ataques deliberados contra posições da ONU podem configurar crimes de guerra e solicitou investigação internacional para apurar todas as possíveis violações cometidas pelas partes. Essas vozes reforçam a urgência de uma solução política sustentável, que evite novos ciclos de violência e garanta a proteção de civis.
Posição intransigente do Hezbollah
Apesar do cenário adverso, o diretor do Hezbollah, Naim Qassem, declarou que o movimento “não permitirá que ninguém o desarme”, enquanto Israel mantiver forças e realizar ataques em solo libanês. O grupo argumenta que suas armas são essenciais para a liberdade e segurança do Líbano, sobretudo diante das contínuas violações israelenses do espaço aéreo libanês e da ocupação de postos no sul.
Citações de Especialistas
Para aprofundar a análise, incluímos abaixo opiniões de analistas políticos, acadêmicos e ex‑diplomatas:
Segundo Elias Hanna, ex‑general e analista de defesa, “o Exército Libanês já demonstrou capacidade de neutralizar ameaças no Sul, mas esbarrará em limites técnicos e políticos se o Hezbollah não for parceiro no processo. A cooperação entre Estado e grupo é o único caminho viável para evitar um novo derramamento de sangue.”
“O desarmamento do Hezbollah sem um acordo político abrangente e garantias regionais corre o risco de fragmentar ainda mais o Líbano,” aponta o ex‑embaixador libanês em Genebra Karim El‑Chami. “É necessário um processo negociado que envolva Síria e Irã, além de garantias de segurança para todas as comunidades.”
Dra. Lara Haddad, professora de Relações Internacionais na Universidade Americana de Beirute, afirma: “Qualquer abordagem unidimensional — apenas militar ou apenas diplomática — falhará. É preciso combinar controle de fronteiras, inclusão política do Hezbollah e reformas na segurança nacional.”
Desafios futuros e caminho para o diálogo
O desarmamento do Hezbollah representa um divisor de águas para o Líbano: exige conciliar as exigências de soberania nacional e monopólio do Estado sobre o uso da força com a necessidade de não desencadear um novo conflito interno ou regional. Para especialistas, a chave está no diálogo inclusivo entre o governo, o Exército Libanês, o Hezbollah e parceiros internacionais, respeitando acordos de paz e resoluções da ONU. Somente assim, argumentam, será possível avançar para um Líbano mais estável, onde o monopólio estatal da violência seja efetivo e respeitado por todos os atores.
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