China pressiona pelos EUA para cancelar tarifas e encerrar guerra comercial

Vista geral dos terminais de contêineres em Kwai Chung, Hong Kong, China, em 6 de março de 2025.
Terminais de contêineres em Kwai Chung, Hong Kong, refletem a importância estratégica da China no comércio global. 6 de março de 2025. Foto: Tyrone Siu/Reuters.

Autoridades chinesas intensificaram o apelo pelo cancelamento de todas as tarifas unilaterais impostas pelos Estados Unidos, como condição para pôr fim ao prolongado conflito comercial entre as duas maiores economias do planeta. A posição oficial de Pequim veio em duas frentes: declarações do Ministério do Comércio e do Ministério das Relações Exteriores, além de iniciativas voltadas a tranquilizar empresas estrangeiras presentes na China.

Posicionamento oficial de Pequim

Ministério do Comércio

O porta-voz He Yadong declarou em entrevista coletiva em Pequim que, “quem bateu o sino deve desatá-lo” — referência direta às tarifas que Washington impôs de maneira unilateral. Para He, a retirada dessas medidas seria a condição indispensável para qualquer avanço nas tratativas bilaterais. Ele acusou o governo dos EUA de criar um “problema político” em torno de questões essencialmente econômicas .

Ministério das Relações Exteriores

Em pronunciamento separado, o porta-voz Guo Jiakun desmentiu categoricamente notícias sobre conversas tarifárias já ocorridas entre Pequim e Washington, classificando-as como “notícias falsas”. Segundo ele, não houve nem mesmo consultas preliminares sobre o tema, muito menos qualquer tipo de acordo .

Citação de especialistas

A exigência chinesa de cancelamento total das tarifas funciona como uma poderosa tática de barganha, pois força os EUA a demonstrarem boa-fé antes de qualquer contraproposta”, avalia Dr. Marcos Vinícius, professor de Economia Internacional da Fundação Getulio Vargas. Para ele, esse movimento também visa testar a coesão interna da administração Trump, pressionando por sinais claros de flexibilização antes de retomar negociações formais.

Cenários futuros possíveis

CenárioDescriçãoConsequências principais
1. Redução parcial de tarifasEUA cancelam parte das tarifas (para 50–65%) e mantêm o restante como “garantia”.– Retomada gradual de investimentos estrangeiros na China
– Alívio imediato em cadeias de suprimento globais
– Base para negociações setoriais posteriores
2. Impasse prolongadoNenhuma das partes cede; impasse persiste.– Aumento de disputas na OMC e retaliações legais
– Maior volatilidade em mercados financeiros
– Empresas buscam alternativas de produção fora de China e EUA
3. Acordo comercial parcialNegociação de um pacote limitado, com cláusulas de revisão periódica.– Estabelecimento de “rodadas” de descongelamento de tarifas
– Criação de mecanismos de monitoramento de desequilíbrios
– Potencial modelo para futuros acordos multilaterais

Reação das empresas estrangeiras na China

Preocupadas com o impacto das tarifas elevadas em seus custos e operações, mais de 80 empresas e câmaras de comércio estrangeiras participaram, em Pequim, de uma mesa-redonda promovida pelo Ministério do Comércio. O vice-ministro Ling Ji encorajou esses investidores a “transformar crises em oportunidades”, comprometendo-se a solucionar entraves regulatórios e operacionais.

Defesa do sistema multilateral

No âmbito do G20, em Washington D.C., o governador do Banco Popular da China, Pan Gongsheng, reafirmou o apoio de Pequim às regras de livre-comércio e ao sistema multilateral de comércio. Em discurso paralelo às reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial, ele advertiu contra o risco de fragmentação da economia global caso subsistam medidas unilaterais.

Conclusão

O convite de Pequim para que Washington “desate o sino” das tarifas unilaterais marca um momento crucial na guerra comercial. Enquanto os EUA avaliam reduzir alíquotas, a China reforça que não abrirá mão de sua posição de exigir o fim total das medidas punitivas como condição para negociações. O desfecho desse impasse terá impactos diretos não apenas nas economias chinesa e americana, mas em toda a dinâmica do comércio global e nas cadeias produtivas que já sofrem com incertezas.

Leia também: Casa Branca avalia reduzir tarifas sobre a China como gesto estratégico em negociações

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