
Em uma movimentação diplomática inédita, a Síria respondeu por escrito às exigências dos Estados Unidos para possível alívio parcial de sanções. A carta, obtida com exclusividade pela Reuters, detalha concessões sírias em áreas sensíveis como armas químicas e desaparecimentos de americanos, mas também aponta a necessidade de “entendimentos mútuos” para avanços em temas mais delicados. O gesto marca um novo capítulo nas negociações internacionais e pode redefinir os rumos da normalização entre Damasco e o Ocidente.
Contexto e importância
Desde 2011, a economia síria sofre colapso profundo em razão de 14 anos de guerra civil, agravada por sanções rígidas impostas por Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia para pressionar o regime de Bashar al-Assad. Em janeiro de 2025, Washington concedeu uma isenção parcial de seis meses para permitir o fluxo de ajuda humanitária, mas seu impacto foi limitado.
Em março, fontes da Reuters revelaram que a vice-assistente de Estado Natasha Franceschi entregou ao chanceler sírio Asaad al-Shibani uma lista de oito condições para possível extensão de alívio de sanções por dois anos, incluindo destruição de estoques de armas químicas e permissão para ataques antiterroristas coordenados.
Principais pontos da carta síria
A carta, datada de 14 de abril de 2025, responde ponto a ponto à lista norte-americana. Destacam-se:
- Armas químicas
- Síria detalha medidas já tomadas para eliminar estoques remanescentes, em cooperação com a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq).
- Promete acelerar verificações e permitir inspeções regulares. citeturn0search2
2. Jornalista desaparecido
- Anuncia criação de um gabinete de ligação no Ministério das Relações Exteriores para localizar o americano Austin Tice, dado como desaparecido desde 2012.
3. Militantes estrangeiros
- Reconhece debate prévio com o ex-enviado Daniel Rubinstein, mas afirma que o tema “exige um entendimento mútuo”.
- Suspensão da promoção de seis combatentes estrangeiros, sem confirmar reversão de patentes já concedidas.
4. Contra-terrorismo e ataques coordenados
- Afirma que coordenação de ataques requer “entendimentos mútuos” e promete medidas legais para proteger interesses ocidentais, sem detalhar o formato.
“O tema exige um entendimento mútuo” — diz a carta síria sobre a coordenação de ações antiterroristas.
5. Grupos palestinos
- Comitê formado para monitorar facções palestinas; promete não permitir ações fora do controle estatal, visando inclusive a não-ameaça a Israel.
6. Reabertura de embaixadas e normalização
- Carta expressa desejo de retomar diálogos sobre reabertura de missões diplomáticas e levantamento de sanções, condicionados a encontros detalhados sobre cada ponto.
Análise de especialistas
Segundo International Crisis Group, a oferta síria demonstra vontade de recompor canais de diálogo, mas “faltam compromissos concretos” sobre retirada de militantes estrangeiros e autorização de ataques antiterroristas coordenados, cruciais para Washington.
Para a ONG Human Rights Watch, o destaque na destruição de armas químicas é positivo, mas o governo de Assad precisa de “garantias verificáveis” por inspeções independentes antes que qualquer alívio seja concedido.
Implicações geopolíticas
- EUA: Avaliam resposta antes de decidir extensão da isenção. Departamento de Estado confirmou recebimento, mas não deu prazo para retorno oficial.
- Rússia e Irã: Prováveis beneficiários indiretos; um alívio de sanções pode reforçar influência de Moscou e Teerã em Damasco.
- Oposição síria: Vê movimentos como manobra de Assad para ganhar legitimidade sem mudanças estruturais no regime.
Análise de riscos e cenários futuros
Cenário | Descrição | Impacto potencial |
---|---|---|
Aceitação pelos EUA | Os EUA reconhecem os compromissos sírios como suficientes e estendem a isenção de sanções por dois anos. | Normalização lenta e controlada, fluxo de ajuda humanitária aumenta, mas vigilância internacional permanece rígida. |
Recusa dos EUA | Washington julga as garantias vagas e mantém sanções. | Pressão econômica continua, agravamento da crise humanitária e possível realinhamento sírio com aliados extra-regionais. |
Diálogo adicional | Negociações seguem ponto a ponto em fóruns multilaterais. | Abertura gradual de canais diplomáticos, possível retorno de embaixadores, mas sem suspensão imediata de sanções. |
Conclusão
A carta síria de 14 de abril de 2025 representa um passo inicial em direção à diplomacia condicional, atendendo plenamente cinco das oito exigências dos EUA e propondo “entendimentos mútuos” para as demais. Resta agora à administração norte-americana avaliar se os compromissos, em sua maioria juridicamente vagos, são suficientes para justificar a extensão de alívio de sanções e avanços na normalização das relações bilaterais.
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