
Nos bastidores das reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial em Washington, o Iene e a política de juros do Banco do Japão (BOJ) despontaram como pontos-chave para as próximas rodadas de negociações comerciais entre Japão e Estados Unidos. Embora Tóquio tenha evitado pressão explícita por um iene mais forte, declarações oficiais e o histórico recente indicam que câmbio e juros seguirão no centro do debate.
Por que a política do BOJ é tão sensível
“O BOJ, responsável por décadas de políticas ultraexpansionistas, tem influência direta sobre o câmbio global, afetando a competitividade japonesa e a balança comercial americana.”
Desde os anos 1990 o BOJ manteve estímulos maciços para combater deflação e estimular o crescimento, terminando só em 2024 um programa de compra de ativos que durou uma década. Esse histórico faz com que qualquer sinal de mudança em sua taxa básica repercuta imediatamente no valor do iene e nas expectativas de exportadores e importadores.
Linha do tempo recente
Data | Evento | Fonte |
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Janeiro 2025 | BOJ eleva sua taxa básica de 0 % para 0,5 %, primeiro aumento desde o fim do estímulo. | Reuters |
Abril 2025 | Reunião de 50 min entre o ministro Kato e o secretário Bessent, sem alvo cambial definido. | Reuters |
Próxima semana | Segunda rodada de negociações bilaterais em Washington, conduzida por Ryosei Akazawa. | Reuters |
Destaques do encontro Kato × Bessent
- Sem metas cambiais: “Não discutimos alvo de câmbio nem estrutura para controlar o iene”, afirmou Kato.
- Compromisso de diálogo: Ambos “afirmaram continuar consultas estreitas sobre questões cambiais em relação ao comércio bilateral”.
Analistas veem nesse compromisso uma porta aberta para Washington reapresentar demandas cambiais no pacote de comércio, especialmente se a segunda rodada não trouxer avanços significativos.
Citações de fontes externas
- Bloomberg sobre volatilidade do iene: “O iene pode ter escapado desta rodada, mas permanece vulnerável a mais volatilidade em futuras negociações”, alertou a Bloomberg
- FMI sobre tensões cambiais: O comitê de políticas do FMI destacou que “tensões comerciais elevam a volatilidade cambial e ameaçam a estabilidade financeira global”, sublinhando a importância de coordenação de políticas monetárias.
Cenários e implicações
- Conciliatório: Japão acelera discretamente alta de juros e reforça moderação cambial.
- Conflito: EUA exigem metas rígidas para o iene e criticam ritmo de elevação de juros do BOJ, elevando o risco de retaliações comerciais.
- Meio-termo: Acordo para “consultas contínuas” sem compromissos firmes, mantendo incerteza sobre iene e juros.
Uma escalada poderia desestabilizar mercados globais, aumentar a volatilidade de moedas emergentes e pressionar bolsas na Ásia e nos EUA.
Conclusão
Embora tenha havido alívio momentâneo por não haver pressão direta do Tesouro dos EUA, o histórico de políticas ultraexpansionistas do BOJ e as críticas recorrentes de Trump sinalizam que câmbio e taxa de juros seguirão no centro das negociações. A próxima visita de Ryosei Akazawa a Washington será decisiva para saber se o iene será formalmente incorporado aos debates comerciais ou permanecerá restrito a “consultas” informais.
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