Jonathan Reynolds, Secretário de Estado de Negócios e Comércio do Reino Unido, se reúne com Piyush Goyal, Ministro de Comércio e Indústria da Índia, para negociações comerciais em Londres, 28 de abril de 2025. Foto: Departamento de Negócios e Comércio/Handout via REUTERS.
Ontem, 6 de maio de 2025, Reino Unido e Índia concluíram um Acordo de Livre Comércio (ALC) que elimina ou reduz significativamente tarifas em setores-chave, após três anos de negociações interrompidas. O pacto, resultado de esforços intensificados pela turbulência das tarifas da administração Trump, visa elevar o comércio bilateral em £ 25,5 bilhões até 2040 e adicionar £ 4,8 bilhões anuais ao PIB britânico a longo prazo.
Reino Unido: estimam‑se até 50 000 novos empregos diretos e indiretos até 2030 em manufatura, logística e serviços de apoio, sobretudo nos setores de bebidas, automotivo e têxtil, segundo a Confederação da Indústria Britânica (CBI).
Índia – Têxteis: o Ministério de Têxteis projeta que o setor alcançará US $ 350 bilhões em valor de mercado e criará 35 milhões de empregos até 2030. A abertura de 99 % das linhas tarifárias permitirá aproveitar esse potencial de crescimento.
Automotivo indiano: responsável por 7,1 % do PIB global e 4ª colocação mundial em produção de veículos, o setor conta com roadmap para elevar produção a US $ 145 bilhões e exportações a US $ 60 bilhões, gerando até 2,5 milhões de empregos até 2030
Mobilidade profissional: vistos temporários facilitados e isenção de contribuições previdenciárias por até três anos—medida criticada como “dois níveis de taxação” no Reino Unido—visam dinamizar intercâmbio de especialistas em TI, engenharia e finanças.
Contexto e Motivação
As sobretaxas dos EUA sobre aço, alumínio e bens industriais incentivaram Londres e Nova Deli a buscar alternativas, interrompendo impasse de janeiro de 2022.
Para o Reino Unido pós‑Brexit, o ALC com a sexta maior economia mundial concretiza a estratégia “Global Britain”.
Nota:“Global Britain” (ou “Grã-Bretanha Global” ou “Reino Unido Global”) é uma expressão que descreve a estratégia do Reino Unido de se reposicionar no cenário global como uma nação independente, aberta ao comércio internacional e influente, especialmente após a sua saída da União Europeia (Brexit). O conceito reflete a ambição britânica de ampliar sua presença econômica e política no mundo, estreitando laços com países fora da UE, como a Índia.
Principais Termos do Acordo
Setor
Tarifa Atual
Tarifa Futuro
Observação
Whisky e gin
150 %
75 % (imediato) → 40 % em 10 anos
Redução gradual para proteger produtores locais
Automóveis
> 100 %
10 % via cotas
Abre mercado para montadoras britânicas
Têxteis e vestuário indiano
até 10 %
0 % (99 % das exportações)
Benefício quase universal
Mobilidade de profissionais
vedado
vistos facilitados; isenção previdenciária por 3 anos
Acordo paralelo de seguridade social
Impactos Econômicos e Setoriais
Whisky escocês: tarifas caem para 40 % em dez anos, potencial de incremento de até £ 1 bilhão em exportações em cinco anos.
Automóveis e componentes: exportações de peças britânicas podem ganhar £ 1 bilhão anuais adicionais até 2040, com joint ventures para montagem local.
Têxteis indianos: expansão de 30 % no volume exportado para o Reino Unido até 2030, com oportunidades em cadeias de valor sustentáveis.
Desafios e Críticas
Protecionismo residual: alimentos processados e químicos mantêm barreiras que só cairão gradualmente.
Meio ambiente: o texto não aborda isenção no Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira da UE (CBAM), pleito indiano relevante.
Transparência: o acordo ainda aguarda publicação integral, checagem legal e ratificação parlamentar, suscitando questionamentos sobre detalhes.
Geopolítica e o “Poder Brando”
Diversificação de parcerias: Índia busca equilíbrio entre EUA, China e Europa; Reino Unido reforça imagem de economia aberta.
Região Indo‑Pacífico: o pacto fortalece o eixo Londres‑Nova Deli frente a desafios estratégicos na Ásia.
Análise Setorial Mais Profunda
Bebidas destiladas: adaptações de blends ao paladar indiano devem elevar em 20 % as vendas de destilarias escocesas até 2035.
Autopeças: cotas de 10 % para veículos e expansão de componentes podem estimular investimentos de até £ 500 milhões em fábricas na Índia.
Têxteis: alianças com produtores orgânicos e de comércio justo agregam valor e atendem à crescente demanda britânica por moda sustentável.
Serviços de TI e engenharia: previsão de três novos centros de P&D de empresas britânicas na Índia até 2028, em fintech, IA e infraestrutura verde.
Perspectivas para o Futuro
Balança comercial: acréscimo médio de £ 1 bilhão ao ano, modesto frente ao PIB de £ 2,6 trilhões, mas crucial para setores exportadores.
Investimento: tratativas de Tratado de Investimento Bilateral seguem abertas, especialmente em serviços financeiros.
Modelo para outros acordos: referencial para pactos futuros com Canadá, Austrália, Mercosul e UE.
Conclusão
O ALC Reino Unido–Índia inaugura uma nova era de cooperação econômica, estimulada por realinhamentos globais. Com cortes tarifários substanciais e facilidades migratórias, o pacto oferece ganhos concretos, mas enfrenta desafios em transparência, sustentabilidade e ratificação. Sua implementação testará tanto a visão “Global Britain” quanto a capacidade da Índia de conciliar crescimento com inclusão social e ambiental.
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