
Em 9 de maio de 2025, o líder da oposição ugandense e cantor pop Robert Kyagulanyi Ssentamu, mais conhecido como Bobi Wine, confirmou que concorrerá novamente à presidência da Uganda na eleição marcada para janeiro de 2026. Aos 43 anos, Wine desafiará o incumbente Yoweri Museveni, de 80 anos, no poder desde 1986 e candidato provável à sua sétima vitória consecutiva.
Contexto histórico e legado de 2021
Na eleição de 2021, Bobi Wine ficou em segundo lugar, mas rejeitou o resultado oficial, alegando falsificação de votos, intimidação de eleitores e violência de agentes de segurança. Autoridades negaram as acusações, porém relatórios de organizações como Human Rights Watch documentaram prisões arbitrárias e uso excessivo de força durante o pleito.
Wine afirma que sua nova candidatura é “uma oportunidade de luta para desnudar e expor o regime e galvanizar o povo da Uganda a se erguer e se libertar”. O adversário Museveni mantém controle sobre instituições-chave, criando um ambiente eleitoral desigual.
Denúncia das violações de direitos humanos e críticas ao Ocidente
Bobi Wine dirigiu críticas duras a governos ocidentais, acusando-os de serem “cúmplices” ao privilegiarem interesses comerciais e segurança regional em detrimento da condenação a abusos no país. Ele questiona: “Se defendessem os valores que proclamam, estariam punindo essas graves violações de direitos humanos”.
A Uganda é aliada estratégica no combate a jihadistas na Somália e no Sahel. Wine argumenta que essa parceria de segurança funciona como escudo diplomático, blindando o regime de críticas mesmo diante de denúncias de tortura e desaparecimentos forçados.
Caso Eddie Mutwe e prova de tortura
Em abril de 2025, Eddie Mutwe, ativista do partido NUP e guarda-costas de Wine, foi detido por uma semana sem acesso a advogado. O ministro da Justiça constatou sinais de tortura, enquanto Muhoozi Kainerugaba, filho de Museveni e comandante militar, admitiu mantê‑lo “no porão” e usá‑lo “como saco de pancadas”. Mutwe relatou ter sido eletrocutado, submetido a afogamento simulado e espancado.
Autoridades policiais e militares se negaram a comentar. Esse episódio reforça a denúncia de Wine sobre o uso de violência sistemática para silenciar a oposição.
Propostas de governo de Bobi Wine
Se eleito, Wine planeja:
Restauração de direitos civis e políticos
- Libertação imediata de presos políticos.
- Garantia de liberdade de imprensa e de manifestação pacífica.
Combate à corrupção
- Transparência total nos gastos públicos.
- Reforma de órgãos de controle para eliminar nepotismo.
Reforma eleitoral
- Observação independente por organizações internacionais.
- Modernização do sistema de apuração de votos.
Reparação às vítimas
- Comissão de verdade e reconciliação.
- Apoio psicológico e financeiro a vítimas de abusos.
Essas medidas visam restaurar a confiança na democracia e condicionar a ajuda internacional ao respeito aos direitos humanos.
Ambientes de campanha e desafios
Museveni mantém vantagem institucional: controle da mídia estatal, das forças de segurança e de agências eleitorais. Analistas alertam para um possível recrudescimento de prisões arbitrárias, restrições a reuniões e censura durante o período pré-eleitoral.
Segundo relatório de maio de 2025 da Anistia Internacional, houve aumento de 40% nos casos de detenções políticas em comparação a 2024, além de bloqueios de sinal de internet em regiões de maior apoio à oposição.
Impacto regional e perspectivas internacionais
A reeleição de Museveni garantiria continuidade da cooperação ocidental em segurança, mas perpetuaria o cerceamento de liberdades. A vitória de Wine sinalizaria uma guinada na política africana, pressionando potências a vincular assistência ao cumprimento de padrões democráticos.
Especialistas em relações internacionais sugerem que sanções direcionadas a indivíduos responsáveis por abusos e condicionamento de ajuda poderiam equilibrar a disputa eleitoral, embora governos ocidentais demonstrem resistência a arriscar parcerias de segurança.
Conclusão
A candidatura de Bobi Wine para 2026 transcende a disputa eleitoral: é um movimento de denúncia e pressão moral contra um regime de quatro décadas. Ao expor a aliança entre Museveni e parceiros externos, Wine busca mobilizar eleitores e a comunidade internacional. O pleito de janeiro de 2026 se desenha como um termômetro para a tensão entre segurança regional e direitos humanos na África.
Informação adicional
segundo monitoramento da rede Freedom House publicado em abril de 2025, a Uganda foi reclassificada de “parcialmente livre” para “não livre” em sua avaliação de direitos políticos e liberdades civis, reflexo direto do endurecimento do regime nos últimos dois anos.
Faça um comentário