Na noite de 8 para 9 de maio de 2025, uma enxurrada violenta arrastou casas inteiras às margens do rio Kasaba, em Kasaba, província de South Kivu, leste da República Democrática do Congo (RDC). As chuvas torrenciais fizeram o rio romper barreiras naturais, levando pedras, troncos e lama com força suficiente para arrasar vilarejos inteiros.
Vítimas e Estragos
Autoridades locais confirmaram que mais de 100 pessoas perderam a vida – em sua maioria crianças e idosos – e outras 28 ficaram feridas. Estima-se que cerca de 150 residências tenham sido destruídas pela força das águas, deixando centenas de pessoas desabrigadas. Entre os corpos resgatados, muitas vítimas foram encontradas ainda dentro de suas casas, tragicamente surpreendidas enquanto dormiam.
Resposta Humanitária e Desafios
As operações de resgate foram dificultadas não apenas pela destruição das vias de acesso, mas também pelo colapso das linhas de telefonia na região, impossibilitando comunicações emergenciais. Atualmente, apenas a Cruz Vermelha atua no local, com equipes de voluntários pressionadas pela falta de equipamentos e pelo relevo acidentado. Autoridades locais e chefes comunitários estão mobilizados, porém enfrentam dificuldades para garantir abrigo, alimento e atendimento médico imediato às famílias afetadas.
“A água veio com uma força avassaladora, carregando tudo em seu caminho. Perdemos nossa casa e três parentes”, relatou um morador de Kasaba.
Fatores Ambientais e Mudanças Climáticas
Desastres dessa magnitude são repetitivos nas margens dos Grandes Lagos congoleses. O desmatamento intenso nas encostas que cercam o lago Kivu enfraqueceu o solo, tornando as encostas mais suscetíveis a deslizamentos e inundações repentinas. Especialistas em meio ambiente alertam que o aumento da frequência de chuvas extremas, associado à crise climática global, tende a agravar ainda mais esses eventos:
- Desflorestação: reduz a capacidade do solo em absorver água.
- Chuvas cada vez mais intensas: elevam o risco de transbordamento de rios.
- Urbanização precária: vilarejos sem infraestrutura de drenagem ficam ainda mais vulneráveis.
Contexto de Conflito e Deslocamento
A província de South Kivu já enfrenta um dos maiores desafios humanitários do mundo. Desde janeiro de 2025, o avanço do grupo rebelde M23 e outros movimentos armados agravou o deslocamento interno, com milhões de pessoas vivendo em acamparmentos improvisados. Essa crise prolongada sobrecarrega as poucas instituições de socorro presentes, tornando a resposta a desastres naturais ainda mais lenta e fragmentada.
Perspectivas e Recomendações
- Reflorestamento das margens do lago e encostas para restaurar a capacidade de retenção de água.
- Fortalecimento das infraestruturas de alerta precoce e sistemas de drenagem em áreas vulneráveis.
- Coordenação ampliada entre governo, ONGs internacionais (Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras) e agências de clima (PNUMA, OMM).
- Campanhas de conscientização junto às comunidades locais sobre práticas de uso do solo e evacuação emergencial.
Somente com uma abordagem integrada que una ações ambientais, planejamento urbano e resposta humanitária será possível mitigar o impacto desses desastres recorrentes no leste da RDC.
Conclusão
As inundações no leste da República Democrática do Congo são um lembrete brutal da vulnerabilidade das comunidades em áreas propensas a desastres naturais, especialmente em um contexto de conflito armado e deslocamento forçado. Embora o país enfrente desafios significativos relacionados à mudança climática, desmatamento e a falta de infraestrutura, é imperativo que as autoridades nacionais, organizações internacionais e a sociedade civil unam esforços para mitigar os efeitos dessas tragédias.
A tragédia em South Kivu não deve ser vista apenas como um desastre natural, mas também como parte de um ciclo maior de crises que incluem o impacto das guerras, a crise humanitária e a fragilidade do governo em várias regiões do país. Para salvar vidas e evitar futuras catástrofes, é essencial priorizar não apenas as intervenções emergenciais, mas também políticas de longo prazo que envolvam a restauração ambiental, o fortalecimento das capacidades de resposta e uma coordenada atuação internacional.
O comprometimento de todas as partes envolvidas será fundamental para reverter a tendência de desastres cada vez mais frequentes e intensos que afetam as populações mais vulneráveis, principalmente aquelas que já carregam os fardos da guerra e da pobreza.
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