
O Ministro das Finanças da Síria, Yisr Barnieh, lançou nesta quarta‑feira um convite direto a investidores internacionais para participarem da reconstrução do país, após o anúncio surpresa do presidente dos EUA, Donald Trump, de que as sanções impostas por Washington seriam suspensas. Em entrevista à Reuters, Barnieh afirmou que “a Síria hoje é uma terra de oportunidades, com imenso potencial em todos os setores — da agricultura ao petróleo, do turismo à infraestrutura e transporte.”
Contexto político e econômico
Desde a saída de Bashar al‑Assad para a Rússia, em dezembro de 2024, o cenário sírio passou por transformações rápidas. O ex‑comandante rebelde Ahmed Sharaa assumiu a presidência provisória, consolidou apoio de países do Golfo e obteve o levantamento da maior parte das sanções europeias. Na recente reunião em Riad, Trump confirmou a intenção de suspender gradualmente as sanções americanas, sem, no entanto, detalhar prazos específicos.
Em mais de 14 anos de conflito, a economia síria foi devastada pela destruição de infraestrutura e pelo isolamento financeiro global. A reintegração à economia mundial é vista como passo essencial para restabelecer o fluxo de capitais e atrair novos investimentos.
Programa de reformas administrativas
Para sustentar o novo ciclo de crescimento, o governo instituiu um programa amplo de reforma na gestão financeira pública:
- Reforma tributária: Simplificação de impostos e incentivos a reinvestimentos privados.
- Modernização aduaneira: Redução de tarifas e automatização dos processos de importação.
- Abertura bancária: Parcerias com bancos estrangeiros e gradual privatização de instituições públicas.
Barnieh enfatizou que o Ministério atuará como facilitador, oferecendo suporte técnico e regulamentar, sem intervenção direta nas operações dos negócios.
Exemplos de projetos de reconstrução e investimentos planejados
Alguns projetos já em fase de planejamento ou execução demonstram o potencial de aplicação dos recursos:
- Reabilitação de Aleppo: Acordo com empresas da Turquia e EAU para restaurar edifícios históricos, redes de esgoto e abastecimento de água.
- Corredor logístico Homs‑Hama: Financiamento pelo Banco Islâmico de Desenvolvimento para requalificar rodovias agrícolas.
- Parque solar de Daraa: Parceria europeia para instalar instalação fotovoltaica de 200 MW, abastecendo serviços públicos locais.
- Expansão do porto de Latakia: Investimento saudita para dragagem e ampliação de cais, dobrando a capacidade de carga domiciliar.
Análise de especialistas e perspectivas internacionais
Dr. Paulo Mendes, analista de economia do Oriente Médio no FMI, observa:
“A suspensão das sanções é condição necessária, mas não suficiente. A Síria precisará demonstrar governança fiscal eficiente e transparência orçamentária para atrair investimentos de longo prazo.”
Dra. Lina Khoury, pesquisadora sênior da ONU, acrescenta:
“Além da reconstrução física, programas de qualificação profissional e geração de empregos, sobretudo para jovens e mulheres, serão decisivos para a estabilidade social.”
Relatórios do FMI projetam crescimento anual de 2% a 3% nos primeiros três anos pós‑sanções, condicionados à implementação das reformas. A ONU estima a necessidade de US$ 50 bilhões em investimentos diretos até 2030 para recuperar a infraestrutura básica.
Desafios e cenários futuros
O ministro Barnieh alertou para os principais riscos:
- Instabilidade política: Possíveis resistências regionais e disputas internas podem frear avanços.
- Desconfiança externa: Investidores demandarão garantias jurídicas claras e independência do sistema judiciário.
- Déficit de infraestrutura: Ainda há grande necessidade de recursos antes de prever retornos significativos.
“O fim das sanções marca o início de uma longa jornada. Precisamos produzir resultados concretos e progressos visíveis no terreno para consolidar a confiança do mercado”, declarou Barnieh.
Conclusão
A decisão de Washington de suspender suas sanções sobre a Síria representa uma oportunidade histórica para o país romper com o isolamento econômico e político. Se as reformas administrativas forem executadas com rigor e transparência, a Síria poderá atrair o capital necessário para revitalizar setores-chave e promover um desenvolvimento econômico sustentável — passo fundamental para a paz duradoura e o reequilíbrio geopolítico na região.
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