EUA designam “Los Chapitos” como terroristas globais e intensificam ofensiva na crise do fentanil

Secretário do Tesouro dos EUA Scott Bessent testemunhando perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara em Washington, D.C., maio de 2025.
Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, durante audiência no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, Washington, D.C., 7 de maio de 2025. REUTERS/Nathan Howard/File Photo

Em 9 de junho de 2025, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos incluiu Los Chapitos — facção do Cartel de Sinaloa liderada pelos filhos de Joaquín “El Chapo” Guzmán — na lista de Specially Designated Global Terrorists (SDGT), congelando seus ativos em solo norte-americano e impondo severas restrições a quaisquer transações com indivíduos e empresas associadas. A medida faz parte da estratégia da administração Trump para conter o tráfico transfronteiriço de fentanil e desmantelar organizações criminosas que alimentam a epidemia de opioides nos EUA.

Origens e Estrutura de Los Chapitos

  • Ascensão: Após a queda de “El Chapo” e sua extradição em 2019, Ivan Archivaldo e Jesús Alfredo Guzmán Salazar, junto a Ovidio e Joaquín Guzmán López, consolidaram a facção “Los Chapitos”, controlando rotas de contrabando e redes de extorsão em Sinaloa, Sonora e Durango.
  • Modus operandi:
    • Fentanil: Especialização no processamento e envio de fentanil — opioide até 100 vezes mais potente que a morfina — contribuindo diretamente para o aumento de overdoses nos EUA.
    • Lavagem de dinheiro: Uso de empresas de fachada em Mazatlán e remessas eletrônicas via fronteira para ocultar lucros ilícitos.

Instrumentos Legais das Sanções

  1. Base normativa
    • Executive Order de fevereiro de 2025: amplia autoridades antiterrorismo e antidrogas, permitindo classificar cartéis como FTOs ou SDGTs.
  2. Alvos principais
    • Ivan Archivaldo e Jesús Alfredo: recompensas de até US$ 10 milhões para informações que levem à captura de cada um.
    • Rede de apoio: empresas e operadores logísticos em pontos estratégicos do México.
  3. Consequências imediatas
    • Congelamento de ativos em território americano.
    • Proibição de negócios com cidadãos e empresas dos EUA.
    • Sanções secundárias: intermediários podem também ser penalizados.

Impacto na Epidemia de Fentanil

  • Crise sanitária: O fentanil é apontado como principal causa de mortalidade por overdose nos EUA, com mais de 100 000 mortes em 2024.
  • Objetivo: Interromper cadeias de fornecimento de precursores químicos e a distribuição final, atacando simultaneamente produção, tráfico e financiamento.
  • Abordagem integrada: Combina sanções financeiras, operações da DEA e fortalecimento de fronteira, além de cooperação trilateral com o México.

Desdobramentos no México

  • Onda de prisões: Até maio de 2025, foram detidos 72 membros de Los Chapitos, frente a 23 da facção rival “La Mayiza” (leal a Ismael “El Mayo” Zambada), segundo dados oficiais.
  • Captura de “Berna”: Moisés Barnabé Barraza, braço direito de Los Chapitos, foi preso em operação conjunta em Sinaloa, enfraquecendo ainda mais a facção.
  • Violência interna: O conflito com “La Mayiza” e tentativas de aliança com o Cartel Jalisco Nueva Generación (CJNG) agravam o nível de homicídios e disputas territoriais na região.
  • Posicionamento do governo: A presidência de Claudia Sheinbaum intensificou operações policiais e pediu maior transparência ao Departamento de Estado dos EUA sobre negociações de redução de pena para membros já detidos.

Desafios e Perspectivas

  1. Resiliência cartelística
    • Estruturas descentralizadas podem gerar novas células, levando a um ciclo contínuo de violência.
  2. Cooperação internacional
    • Necessária harmonização jurídica e compartilhamento de inteligência entre EUA, México e países da América Central.
  3. Saúde pública
    • A eficácia das sanções dependerá também do reforço de programas de tratamento de dependentes e de campanhas de conscientização para redução de danos.

Conclusão

A designação de Los Chapitos como terroristas globais simboliza uma transição na política americana de combate ao narcotráfico, incorporando ferramentas antiterrorismo à luta antidrogas. Apesar do impacto imediato — com bloqueio de ativos e aumento de riscos para financiadores —, o sucesso a longo prazo exigirá uma estratégia multifacetada, que inclua ação policial coordenada, políticas de saúde pública eficazes e adaptabilidade frente à fragmentação das organizações criminosas.

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