
Em 9 de junho de 2025, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos incluiu Los Chapitos — facção do Cartel de Sinaloa liderada pelos filhos de Joaquín “El Chapo” Guzmán — na lista de Specially Designated Global Terrorists (SDGT), congelando seus ativos em solo norte-americano e impondo severas restrições a quaisquer transações com indivíduos e empresas associadas. A medida faz parte da estratégia da administração Trump para conter o tráfico transfronteiriço de fentanil e desmantelar organizações criminosas que alimentam a epidemia de opioides nos EUA.
Origens e Estrutura de Los Chapitos
- Ascensão: Após a queda de “El Chapo” e sua extradição em 2019, Ivan Archivaldo e Jesús Alfredo Guzmán Salazar, junto a Ovidio e Joaquín Guzmán López, consolidaram a facção “Los Chapitos”, controlando rotas de contrabando e redes de extorsão em Sinaloa, Sonora e Durango.
- Modus operandi:
- Fentanil: Especialização no processamento e envio de fentanil — opioide até 100 vezes mais potente que a morfina — contribuindo diretamente para o aumento de overdoses nos EUA.
- Lavagem de dinheiro: Uso de empresas de fachada em Mazatlán e remessas eletrônicas via fronteira para ocultar lucros ilícitos.
Instrumentos Legais das Sanções
- Base normativa
- Executive Order de fevereiro de 2025: amplia autoridades antiterrorismo e antidrogas, permitindo classificar cartéis como FTOs ou SDGTs.
- Alvos principais
- Ivan Archivaldo e Jesús Alfredo: recompensas de até US$ 10 milhões para informações que levem à captura de cada um.
- Rede de apoio: empresas e operadores logísticos em pontos estratégicos do México.
- Consequências imediatas
- Congelamento de ativos em território americano.
- Proibição de negócios com cidadãos e empresas dos EUA.
- Sanções secundárias: intermediários podem também ser penalizados.
Impacto na Epidemia de Fentanil
- Crise sanitária: O fentanil é apontado como principal causa de mortalidade por overdose nos EUA, com mais de 100 000 mortes em 2024.
- Objetivo: Interromper cadeias de fornecimento de precursores químicos e a distribuição final, atacando simultaneamente produção, tráfico e financiamento.
- Abordagem integrada: Combina sanções financeiras, operações da DEA e fortalecimento de fronteira, além de cooperação trilateral com o México.
Desdobramentos no México
- Onda de prisões: Até maio de 2025, foram detidos 72 membros de Los Chapitos, frente a 23 da facção rival “La Mayiza” (leal a Ismael “El Mayo” Zambada), segundo dados oficiais.
- Captura de “Berna”: Moisés Barnabé Barraza, braço direito de Los Chapitos, foi preso em operação conjunta em Sinaloa, enfraquecendo ainda mais a facção.
- Violência interna: O conflito com “La Mayiza” e tentativas de aliança com o Cartel Jalisco Nueva Generación (CJNG) agravam o nível de homicídios e disputas territoriais na região.
- Posicionamento do governo: A presidência de Claudia Sheinbaum intensificou operações policiais e pediu maior transparência ao Departamento de Estado dos EUA sobre negociações de redução de pena para membros já detidos.
Desafios e Perspectivas
- Resiliência cartelística
- Estruturas descentralizadas podem gerar novas células, levando a um ciclo contínuo de violência.
- Cooperação internacional
- Necessária harmonização jurídica e compartilhamento de inteligência entre EUA, México e países da América Central.
- Saúde pública
- A eficácia das sanções dependerá também do reforço de programas de tratamento de dependentes e de campanhas de conscientização para redução de danos.
Conclusão
A designação de Los Chapitos como terroristas globais simboliza uma transição na política americana de combate ao narcotráfico, incorporando ferramentas antiterrorismo à luta antidrogas. Apesar do impacto imediato — com bloqueio de ativos e aumento de riscos para financiadores —, o sucesso a longo prazo exigirá uma estratégia multifacetada, que inclua ação policial coordenada, políticas de saúde pública eficazes e adaptabilidade frente à fragmentação das organizações criminosas.
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