
No dia 15 de junho de 2025, o Banco Central da Síria realizou com sucesso sua primeira transferência internacional direta pelo sistema SWIFT desde o início da guerra civil, em dezembro de 2011. O governador Abdelkader Husriyeh anunciou à Reuters que a remessa partiu de uma instituição síria para um banco italiano, abrindo caminho para transações similares, inclusive com bancos norte-americanos nas próximas semanas. Este movimento emblemático sinaliza o fim de uma era de isolamento financeiro e marca o início de uma reintegração gradual da Síria ao sistema bancário global.
Contexto Histórico e Isolamento Financeiro
Desde a repressão a protestos em 2011 e a subsequente guerra civil, as sanções impostas pelo Ocidente, em especial o Caesar Act de 2019, vedaram o acesso dos bancos sírios ao SWIFT. Como consequência, empresários, importadores e a diáspora síria foram forçados a operar por canais informais, elevando custos e riscos de compliance no envio e recebimento de recursos.
A Transferência Histórica
Na manhã de domingo, 15 de junho de 2025, uma entidade bancária síria concluiu uma remessa direta para um banco italiano via SWIFT. O anúncio veio de Abdelkader Husriyeh, que destacou: “A porta está agora aberta para mais transações desse tipo.” Ele também afirmou que operações com bancos dos EUA poderiam começar em questão de semanas.
Reintegração de Códigos SWIFT
Em maio de 2025, o Banco Central iniciou a reativação técnica dos códigos SWIFT de mais de 50 bancos sírios, coincidindo com a suspensão parcial das sanções pela União Europeia e o significativo afrouxamento das restrições norte-americanas. Movimentos diplomáticos, como o encontro entre o presidente interino Ahmed al‑Sharaa e o presidente dos EUA, Donald Trump, em Riyadh no mês anterior, pavimentaram o terreno para esse avanço.
Implicações Econômicas
- Fluxo de Capital e Investimentos: Estima-se que cerca de US$ 250 bilhões mantidos pela diáspora síria no exterior poderão retornar ao país. Especialistas projetam que, em até 12 meses, 10% desses recursos devem ser canalizados para projetos de reconstrução e empreendedorismo local, impulsionando setores-chave como construção e energia.
- Comércio Exterior: Importadores de alimentos, combustíveis e medicamentos ganham acesso direto a pagamentos internacionais, reduzindo a dependência do câmbio paralelo e fortalecendo a libra síria. Analistas veem potencial de queda de até 20% nos prêmios de risco cambial com a consolidação das operações SWIFT.
Âmbito Político e Diplomático
A queda de Bashar al‑Assad em dezembro de 2024 por ofensiva de grupos rebeldes islâmicos e a subsequente formação de governo interino sob Ahmed al‑Sharaa promoveram a reaproximação com potências ocidentais. A abertura do SWIFT é interpretada como um gesto de confiança mútua, configurando-se como pré‑requisito para negociações com instituições como o FMI e potenciais escritórios de correspondentes de bancos americanos em Damasco.
Desafios e Riscos
Apesar do marco, ainda há deficiências na governança corporativa, compliance e combate à lavagem de dinheiro nas instituições locais. A vulnerabilidade a retrocessos políticos, renovação de sanções ou desestabilização interna pode interromper o fluxo de transações internacionais e afetar a confiança dos parceiros.
Perspectivas Futuras
Husriyeh projeta que, em poucas semanas, os primeiros bancos norte-americanos — como JP Morgan, Morgan Stanley e Citibank — estarão aptos a retomar laços de corresponsabilidade com instituições sírias, após conferência virtual realizada em 18 de junho. A médio prazo, discute-se a emissão de Sukuk para financiar obras de infraestrutura e habitação social, além de um plano de estabilização cambial de 6 a 12 meses.
Conclusão
A reativação do acesso ao SWIFT representa um divisor de águas para a recuperação econômica da Síria. Se acompanhada de reformas sólidas em transparência, governança e regulação financeira, poderá atrair investimentos e acelerar a reconstrução do país. Contudo, o êxito desta abertura dependerá da manutenção de um ambiente político estável e do compromisso contínuo das autoridades com práticas bancárias internacionais.
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