
Continuando com mais um episódio envolvendo essa premiê tailandesa, Paetongtarn Shinawatra, o governo de Bangkok enfrenta sua primeira grande prova de fogo parlamentar desde que a crise na fronteira com o Camboja veio à tona.
No final de junho de 2025, o Bhumjaithai Party — segunda maior sigla da coalizão governista, com 69 cadeiras na Câmara dos Deputados — anunciou sua saída do bloco liderado pelo Pheu Thai Party, alegando que o vazamento de uma conversa entre Paetongtarn e o ex-primeiro-ministro cambojano Hun Sen feria a soberania nacional. Em resposta, o partido resolveu protocolar, já na abertura da sessão parlamentar de 3 de julho, uma moção de desconfiança contra a primeira-ministra e todo o seu gabinete.
A Moção de Desconfiança
Para apresentar oficialmente a moção, o Bhumjaithai precisa de ao menos 100 assinaturas — o equivalente a um quinto dos 500 deputados — e conta com suas 69 cadeiras para iniciar o processo. Restam, portanto, cerca de 31 deputados a serem convencidos entre oposição e dissidentes de outros partidos da coalizão. Uma vez aceita, a proposta dará margem a até três dias de debates e, por fim, à votação, na qual a premiê precisa da maioria simples para sobreviver ao escrutínio.
Repercussões Internas
– Pressão na Coalizão: Além do Bhumjaithai, o United Thai Nation (UTN) demonstrou insatisfação e deixou claro que poderia retirar seu apoio se Paetongtarn não apresentasse concessões significativas. Isso reduz o núcleo duro governista de 261 para potencialmente 243 assentos, abaixo dos 247 necessários para uma maioria confortável.
– Remanejamento Ministerial: Em uma tentativa de apaziguar aliados desconfiados, a premiê aprovou um amplo pacote de US$ 3,5 bilhões em projetos de infraestrutura, prometendo realocar pastas-chave e mexer no desenho da equipe ministerial após o recesso parlamentar.
– Pressão Judicial: Petições enviadas ao Tribunal Constitucional e ao órgão anti-corrupção buscam investigar formalmente a conduta de Paetongtarn em relação ao suposto “submissão” ao líder cambojano e ao vazamento da conversa, o que pode resultar em sua inabilitação política.
Impactos na Crise de Fronteira
O incidente que originou o conflito político foi o tiroteio, em 28 de maio, que resultou na morte de um soldado cambojano na região do Triângulo de Esmeralda. Desde então, o Exército tailandês fechou 13 postos de fronteira em sete províncias, interrompendo turismo e comércio, e Phnom Penh retaliou suspendendo importações de combustíveis e serviços de energia em áreas acusadas de abrigar centros de golpes eletrônicos.
Protestos e Mobilização Popular
A partir de 28 de junho, coletivos estudantis e grupos pró-democracia programaram manifestações em Bangkok e em cidades-fronteira, pedindo a renúncia da premiê e convocando seus parlamentares a assinarem a moção. Foi oficialmente lançada uma “Jornada da Soberania” pelas redes sociais, que ganhou adesão de diversas ONGs nacionalistas
Cenários Possíveis
- Queda no Parlamento: Se a moção for aprovada, Paetongtarn terá de renunciar e abrir caminho para a formação de um novo governo ou para eleições antecipadas.
- Eleição Antecipada: A dissolução do Legislativo poderia ser a saída estratégica para o Pheu Thai Party, embora seja um movimento arriscado diante da instabilidade política e econômica.
- Estancamento e Negociações: Num cenário intermédio, a premiê poderia buscar acordos de última hora, oferecendo ministérios e projetos para dobrar dissidentes e manter a cadeira.
O desenlace da votação de confiança, previsto para a primeira semana de julho, não apenas definirá o rumo imediato do governo de Paetongtarn Shinawatra, mas também servirá como termômetro da influência civil sobre as Forças Armadas e da saúde institucional da Tailândia, num momento em que a país busca retomar o crescimento econômico pós-pandemia e consolidar seu papel na ASEAN.
Conclusão
A moção de desconfiança revela a fragilidade de coalizões amplas diante de crises diplomáticas e pressões militares. Para sobreviver, Paetongtarn precisará negociar concessões que, embora garantam sua permanência, podem reduzir sua autoridade. Caso fracasse, eleições antecipadas ou até intervenção das Forças Armadas se tornam cenários plausíveis. Em suma, o desfecho em julho testará a capacidade da Tailândia de resolver disputas políticas de forma democrática e soberana.
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