
Em 28 de junho de 2025, dezenas de milhares de estudantes, professores, agricultores e manifestantes anti‑corrupção ocuparam Slavija e a Nemanjina, em Belgrado, exigindo a dissolução imediata do Parlamento e a convocação de eleições antecipadas. Convocada para coincidir simbolicamente com o Dia de São Vito (Vidovdan), a mobilização reflete oito meses de crescente descontentamento popular, após o colapso de uma cobertura da estação ferroviária de Novi Sad que matou 16 pessoas — tragédia atribuída pelos protestos a falhas de segurança e corrupção endêmica no governo do presidente Aleksandar Vučić.
Origens e Catalisador: Tragédia de Novi Sad
- 1º de novembro de 2024: O desabamento da cobertura recém‑reformada da estação de Novi Sad deixou 16 mortos.
- Reação: Universidades de Belgrado, Novi Sad, Kragujevac, Niš e Novi Pazar suspenderam aulas e iniciaram bloqueios, apontando negligência estatal e corrupção como causas do desastre.
Dinâmica dos Protestos e Demandas
- Ultimato Estudantil: Em 25 de junho, líderes estudantis deram ao governo até as 21h de 28 de junho para apresentar proposta de lei para eleições antecipadas, sob pena de civil disobedience mais intensa.
- Escala: Além de Belgrado, atos ocorreram simultaneamente em 32 cidades, bloqueando pontes (Branko, Gazela) e estradas principais das 18h às 21h16.
Reação do Governo e Medidas de Segurança
Desdobramentos Policiais:
- Prisão de seis pessoas acusadas de planejar atos contra a ordem constitucional e de um estudante por suposta “preparação de terrorismo”.
- Interrupção de trens, citada pela AP, após ameaça de bomba para dificultar participação no protesto.
- Desdobramento de dezenas de oficiais em trajes anti‑distúrbios ao redor do Parlamento, prédios governamentais e Pionirski Park, onde apoiadores de Vučić realizaram contra‑ato.
Posicionamento de Vučić:
- Culpou “poderes estrangeiros” pela mobilização.
- Advertiu que “baderneiros” responderão judicialmente se recorrerem à violência e ordenou que as forças de segurança mantivessem “restrição”, mas sem tolerar distúrbios.
- Seu partido mantém 156 de 250 cadeiras no Parlamento, garantindo maioria confortável que dificulta a convocação de eleições antes de 2027.
Apoio Popular e Contra‑Protestos
- Mensagem Rural e Popular: Agricultores de Sid e outras regiões, como Sladjana Lojanović, 37 anos, uniram‑se aos estudantes, denunciando “usurpação das instituições” e ceticismo quanto a uma saída pacífica de Vučić.
- Movimento de Base: O Partido Progressista organizou transporte de apoiadores para Pionirski Park, reforçando tom populista e demonstrando a amplitude do embate social.
Repercussões Internacionais e Pressão da UE
- Declaração de Marta Kos: Em 29 de abril, a Comissária para o Alargamento da UE se reuniu com Vučić e o recém‑nomeado primeiro‑ministro Đuro Macut, insistindo que “as exigências dos estudantes estão em linha com as da Comissão Europeia” e advertindo que futuros alinhamentos de Belgrado com Moscou poderiam comprometer o processo de adesão.
- Liberdade de Imprensa em Risco: Relatórios da Media Freedom Rapid Response apontam duplicação de ataques a jornalistas no último ano e uso de spyware pelo governo, recomendando que a UE congele negociações de adesão se a repressão persistir.
- Pressão Parlamentar: Em 6 de maio de 2025, o Parlamento Europeu pediu investigações independentes sobre irregularidades na obra de Novi Sad e garantias de proteção a manifestantes, sublinhando que “as demandas dos estudantes coincidem com os requisitos de reforma democrática para a adesão”.
Perspectivas e Desdobramentos Futuros
- Cenário Interno:
- Sem apoio parlamentar para uma dissolução voluntária, o governo pode recorrer a concessões pontuais (resignações ministeriais, inquéritos públicos) na tentativa de apaziguar os ânimos.
- A continuidade das paralisações acadêmicas e a adesão de sindicatos de professores e trabalhadores rurais elevam o risco de paralisação econômica.
- Influência Externa:
- UE – condiciona o processo de adesão ao respeito ao Estado de Direito e à liberdade de imprensa.
- Rússia e China – continuam fornecendo apoio político e investimentos, oferecendo a Vučić uma alternativa ao ocidente.
Conclusão
O protesto de 28 de junho consolidou-se como um marco decisivo no ciclo de mobilizações que sacode a Sérvia desde novembro de 2024. À medida que estudantes, oposição e setores populares pressionam por eleições antecipadas, o governo de Aleksandar Vučić enfrenta um dilema: ceder a demandas democráticas ou apostar em controle institucional e repressão pontual. O desfecho desse impasse definirá não apenas o futuro político interno, mas também a trajetória de Belgrado rumo à União Europeia e seu equilíbrio geopolítico entre Ocidente e blocos autoritários.
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