
Na noite de sábado, 28 de junho de 2025, a Polícia da Sérvia protagonizou intensos confrontos com manifestantes antigoverno que exigiam eleições antecipadas e o fim dos doze anos de governo do presidente Aleksandar Vučić. A ação ocorreu no entorno de edifícios oficiais, do Parlamento e do Pionirski Park, onde apoiadores de Vučić mantinham um ato paralelo.
A Concentração Paralela e a Eclosão da Violência
Riot police, equipados com cassetetes, escudos e gás lacrimogêneo, foram posicionados ao redor da Praça da República, do Parlamento e do Pionirski Park, onde apoiadores do presidente realizavam contra-manifestação. Por volta das 22h (20h GMT), após o término oficial do protesto antigoverno, grupos dissidentes lançaram garrafas, pedras e sinalizadores contra as linhas policiais, que reagiram dispersando os manifestantes em vários pontos do centro de Belgrado. Segundo o diretor da Polícia, Dragan Vasiljević, “várias dezenas” de pessoas foram detidas e seis policiais sofreram ferimentos leves.
Posicionamentos Oficiais
- Aleksandar Vučić: em publicação no Instagram, acusou “forças estrangeiras” de promoverem a instabilidade e afirmou que “quem atentou contra a ordem do Estado enfrentará a lei”. Reiterou a recusa em antecipar as eleições, apesar da pressão popular, e destacou que sua coalizão detém 156 de 250 assentos parlamentares.
- Ivica Dačić, ministro do Interior: declarou que a Polícia “tomará todas as medidas para restabelecer a ordem pública e prender os responsáveis pelos ataques” e reforçou que “a Lei será aplicada na plenitude de seu poder”.
- Movimento Estudantil: em nota na rede X, responsabilizou o governo pela escalada de violência, acusando-o de “escolher a repressão em vez do diálogo” e reiterou a estratégia dos protestos pacíficos até o atendimento das demandas por eleições antecipadas.
Novidades Políticas: Renúncia do Primeiro-Ministro
Em 28 de janeiro de 2025, o primeiro-ministro Miloš Vučević anunciou sua renúncia em resposta aos protestos anticorrupção, especialmente após o ataque a uma estudante em Novi Sad, ocorrido na noite anterior. A renúncia foi formalmente aceita pelo Parlamento em 19 de março de 2025, estabelecendo um prazo de 30 dias para a formação de um novo governo ou a convocação de eleições antecipadas.
Análise Política e Perspectivas
O embate evidencia a tensão entre o poder centralizado de Vučić e uma sociedade civil cada vez mais mobilizada. A renúncia de Vučević, aliado próximo do presidente, pode ser interpretada como tentativa de canalizar a insatisfação popular e reduzir tensões, mas não atende à principal demanda dos manifestantes: eleições gerais antecipadas.
Embora a coalizão governista possua ampla maioria no Parlamento, a pressão internacional — sobretudo da União Europeia, que acompanha o processo de adesão do país — aumenta o custo político de eventuais excessos repressivos. A formação de um governo interino ou a convocação de eleições ainda dependem de negociações nos bastidores, num cenário de incerteza democrática.
Repercussão Internacional
A Comissão Europeia expressou preocupação com relatos de uso excessivo da força e reforçou a importância do respeito ao direito de manifestação pacífica. Diversos países europeus e organismos de direitos humanos monitoram de perto os desdobramentos, já que qualquer retrocesso nas liberdades civis pode afetar o cronograma de adesão da Sérvia ao bloco europeu.
Conclusão
Os confrontos de 28 de junho são sintomáticos de uma crise política mais profunda, em que a resistência popular busca frear práticas autoritárias e restaurar princípios democráticos. A forma como o governo responderá aos próximos passos — formação de novo gabinete, diálogo com a oposição ou medidas repressivas — definirá não apenas a estabilidade interna, mas também o futuro europeu da Sérvia.
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