Tesla enfrenta queda nas vendas globais em meio à competição acirrada e controvérsias políticas

Tesla enfrenta concorrência crescente de marcas chinesas mais baratas no mercado global de veículos elétricos.
A crescente competição no mercado global de veículos elétricos desafia a liderança da Tesla, agora pressionada por marcas chinesas de baixo custo. [Arquivo: Aaron Favila/AP] / Al Jazeera

No segundo trimestre de 2025, a Tesla registrou um declínio de 13,5 % nas entregas globais de veículos elétricos em comparação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 384.122 unidades. Este desempenho reflete não apenas o fortalecimento da concorrência — sobretudo de fabricantes chineses de baixo custo como a BYD e de montadoras tradicionais que aceleram seus lançamentos eletrificados — mas também o impacto das recentes polêmicas políticas envolvendo o CEO Elon Musk. Com o fim antecipado dos incentivos fiscais nos Estados Unidos e sinais de maior escrutínio regulatório sobre suas iniciativas de direção autônoma, a empresa atravessa um momento desafiador, embora mantenha perspectivas de retomada para a segunda metade do ano.

Desempenho de vendas e principais fatores de retração

  • Entregas globais em queda: no 2º trimestre de 2025, a Tesla entregou 384.122 veículos, ante 443.956 em Q2 2024, redução de 13,5 % ano a ano.
  • Cenário setorial: a Volvo reportou retração de 26 % nas vendas de modelos 100 % elétricos em junho, e a Rivian registrou queda de 22,7 % no mesmo comparativo.

Principais motivos da desaceleração:

  1. Concorrência intensificada: a BYD, XPeng e NIO ganharam tração expressiva na China, e montadoras como GM, Volkswagen e Toyota ampliam sua oferta de EVs.
  2. Incentivos fiscais em fim de ciclo: o crédito federal de até US$ 7.500 nos EUA está em vias de extinção, gerando adiamentos de compra.
  3. Incertezas tarifárias: temores sobre tarifas a veículos chineses provocam cautela nos mercados de importação.

Destaque ao mercado chinês

  • Queda na China: as vendas de EVs da Tesla no mercado chinês caíram cerca de 18 % no acumulado até maio de 2025, frente ao ano anterior.
  • Força da BYD: em junho, a BYD entregou 377.628 veículos de passeio (sendo 206.884 totalmente elétricos), superando isoladamente a produção mensal da Tesla em Shanghai.
  • Percepção de marca: pesquisa da UBS aponta que a preferência por Tesla na China recuou de 18 % para 14 % entre consumidores, ficando atrás de BYD e até da Xiaomi.

Desempenho financeiro e reação dos investidores

  • Indicadores projetados para Q2 2025 (consenso pré-earnings):
    • Receita total estimada em US$ 19,3 bilhões, queda de 9 % ano a ano;
    • Receita automotiva estimada em US$ 14 bilhões, recuo de 20 %;
    • Margem bruta do segmento automotivo projetada em 16,2 % (–2,3 p.p.);
    • Receita de Geração e Armazenamento de Energia em US$ 2,7 bilhões (+67 % YoY), com margem de 28,8 %.
  • Reação do mercado:
    • As ações da Tesla subiram cerca de 3 % no pregão pós‑entrega, refletindo alívio de investidores por números não piores do que o esperado.
    • Apesar do salto imediato, o papel acumula queda de 3 % na semana anterior, indicando nervosismo quanto às perspectivas de médio prazo.

O “efeito Musk” na percepção pública e no mercado

  • Atuação política: Musk doou mais de US$ 270 milhões à campanha de Donald Trump em 2024 e criticou abertamente o pacote orçamentário federal (“Big Beautiful Bill”), gerando boicotes e protestos em concessionárias.
  • Retaliação governamental: Trump chegou a acionar o “Departamento de Eficiência Governamental” para revisar subsídios da Tesla, fazendo as ações caírem 5,3 % ao fim do dia.
  • Autodeclaração de Musk: em comunicações recentes, o CEO afirmou esperar um “major rebound” nas vendas assim que os clientes tiverem acesso às novas versões do Model Y.

Perspectivas para o segundo semestre de 2025

  1. Aumento de produção dos Model Y e 3: produzidos 396.835 veículos destes modelos no trimestre, alta de quase 15 % em relação ao primeiro trimestre.
  2. Refresh do Model Y: atualização prevista para o terceiro trimestre deve renovar o apelo de mercado e estimular reservas.
  3. Novas frentes de negócio:
    • Robotaxis em testes em Austin (Texas), apesar de investigações da NHTSA por incidentes em pistas contrárias;
    • Software de direção autônoma e robótica, alavancados pela Tesla AI Day e eventos como o Robotaxi Day.

Visão de mercado
“Acreditamos que a Tesla retomará um crescimento acelerado a partir do segundo semestre, com o facelift do Model Y e o reenquadramento de incentivos em mercados internacionais”, avalia Dan Ives, analista da Wedbush Securities.

Desafios regulatórios e de segurança

  • Fiscalização da NHTSA: exigência de relatórios detalhados após vídeos de robô‑táxis em contramão.
  • Homologação global: diferentes padrões e crash tests na Europa e Ásia podem atrasar lançamentos de software e hardware.

Considerações Finais

A Tesla já não desfruta do monopólio de outrora no segmento de veículos elétricos. Com crescente disputa de preço e tecnologia, somada à retirada gradual de subsídios e ao impacto das posições políticas de seu CEO, a fabricante enfrenta um teste crucial de resiliência. Embora exista potencial de recuperação no segundo semestre de 2025 — ancorado em atualizações de produto, ramp‑up produtivo e eventuais renovações nos incentivos fiscais globais — o sucesso dependerá também da capacidade de mitigar riscos de reputação e de garantir conformidade regulatória em múltiplos mercados.

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