UE Propõe Investimento Nuclear no Orçamento 2028–2034: Implicações e Desafios

Reunião oficial do Colégio de Comissários da União Europeia em Bruxelas.
Comissários da União Europeia reunidos na sede da Comissão em Bruxelas, durante sessão formal do Colégio, 2024.

Em 17 de julho de 2025, a Comissão Europeia apresentou uma proposta que introduz a energia nuclear no próximo Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2028–2034, de cerca de €2 trilhões. Pela primeira vez, Estados‑Membros poderão alocar parte de sua cota nacional — aproximadamente €865 bilhões — para financiar novas centrais nucleares e prolongar a vida útil das existentes. A iniciativa busca reforçar a segurança energética, avançar na descarbonização e manter a competitividade industrial do bloco.

Contexto Histórico e Político

A energia nuclear sempre dividiu o bloco:

  • Defensores: França e Suécia apontam sua baixa emissão de CO₂ e segurança de abastecimento.
  • Opositores: Alemanha e Áustria mantêm‑se contrárias, citando riscos de acidentes, desafios de armazenamento de resíduos e altos custos de construção. Desde Fukushima (2011), a Alemanha acelerou o desligamento de seus reatores, concluído em 2022.

Essas visões antagônicas moldaram a política energética europeia nas últimas décadas e continuam influenciando a atual negociação orçamentária.

Detalhes da Proposta Orçamentária

  • Montante estimado: A Comissão calcula que serão necessários €241 bilhões até 2050 para elevar a capacidade nuclear de 98 GW (2025) para 109 GW, englobando extensões de vida útil e novos reatores de grande porte. Não inclui investimentos adicionais em pequenos reatores modulares (SMRs).
  • Instrumentos de apoio: PPAs (contratos de compra de energia) com garantias do Banco Europeu de Investimento; fundo‑piloto de estudos de viabilidade de até €500 milhões.

Reações dos Estados‑Membros

  • Alemanha: Rejeitou formalmente a proposta, defendendo soberania nacional e proteção do contribuinte.
  • Áustria, Luxemburgo, Dinamarca e Portugal: Preparam ação no Tribunal de Justiça da UE, questionando a base legal e o impacto na taxonomia verde.
  • França, Finlândia, Polônia e outros dez países: Criaram coalizão pró‑nuclear, defendendo financiamento conjunto para acelerar a transição energética.

Implicações Econômicas e de Mercado

Projetos nucleares europeus têm enfrentado atrasos e estouros de orçamento (ex.: usina de Flamanville), elevando o custo de capital e afastando investidores privados. A cada cinco anos de atraso, estima‑se um acréscimo de até €45 bilhões ao total projetado de investimentos até 2050.

Segurança Energética e Geopolítica

Após a guerra na Ucrânia (iniciada em fevereiro de 2022), a dependência de urânio enriquecido russo (até 30% do consumo da UE) tornou‑se vulnerabilidade estratégica. Em resposta, a Bélgica estendeu a operação de reatores até 2035 e vários Estados exploram SMRs (small modular reactors) para diversificar a cadeia de suprimentos, reduzir prazos de construção e agilizar a resposta a picos de demanda.

Desafios Ambientais e Climáticos

Apesar da geração com baixas emissões, o ciclo de vida nuclear envolve: extração de urânio, gestão de resíduos e descomissionamento pluridecenal. Em 2023, a Finlândia inaugurou o Onkalo, o primeiro depósito geológico permanente de resíduos nucleares, demonstrando avanços na segurança de longo prazo — embora o debate sobre custos e impactos ambientais persista.

Tabelas de Destaque

Capacidade Nuclear na UE

AnoCapacidade Instalada (GW)
202598
2050 (meta)109

Investimentos Estimados

CategoriaValor (€ bilhões)
Novos reatores de grande porte205
Extensão de vida útil de centrais36
Total até 2050241

SMRs: Potencial e Desafios

Os SMRs surgem como alternativa para enfrentar oposição pública e restrições orçamentárias de grandes obras. Com capacidades de 50–300 MW por módulo, prometem:

  • Tempo de construção reduzido: 3–5 anos contra até 15 anos de um reator convencional.
  • Menor investimento inicial: custos unitários menores e escalonáveis conforme a demanda.

Todavia, ainda carecem de certificação regulatória em vários países e de garantias claras de viabilidade econômica em larga escala. França e Polônia lideram programas-piloto na UE com previsão de licenciamento a partir de 2028.

Perspectivas para as Negociações

A aprovação no QFP 2028–2034 requer unanimidade entre os 27 Estados‑Membros. As conversas devem se estender até 2027, misturando concessões em outras áreas (clima, pesquisa, coesão) para atrair votos divergentes. Pequenos avanços em países tradicionalmente contrários, como Alemanha e Dinamarca, sinalizam possibilidade de acordo, mas sem maioria definida, o desfecho permanece incerto.

Considerações Finais

A inclusão da energia nuclear no QFP marca um ponto de inflexão na política energética da UE, equilibrando segurança de abastecimento, metas climáticas e competitividade industrial. À medida que as negociações avançam, o futuro do nuclear europeu dependerá não só de cálculos econômicos, mas também de alianças políticas e de como o bloco lida com os desafios ambientais e geopolíticos contemporâneos.

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