Alemanha prevê contratação de 11.000 novos militares até o fim de 2025

Recrutas da Bundeswehr durante cerimônia de juramento em frente à Casa dos Representantes de Berlim, maio de 2025.
Recrutas do Exército alemão participam da cerimônia de juramento em Berlim, 23 de maio de 2025. Foto: REUTERS/Nadja Wohlleben.

Apesar de avanço modesto de 4% no efetivo, Berlim ainda está distante das metas ampliadas da OTAN e busca acelerar compras e fortalecer capacidades contra ameaça russa.

Panorama Geral

O governo alemão planeja reforçar as Forças Armadas (Bundeswehr) com a criação de 11.000 vagas extras até 31 de dezembro de 2025 — correspondendo a um aumento de cerca de 4% no efetivo total. Desse total, 10.000 serão destinados a soldados em serviço ativo e 1.000 a cargos civis de apoio em áreas como administração, logística e tecnologia da informação. A iniciativa faz parte do projeto de lei orçamentária suplementar que o gabinete federal deve aprovar na próxima semana.

Financiamento e “Freio ao Endividamento”

Para viabilizar o reforço de pessoal, Berlim utilizará recursos adicionais graças à emenda constitucional aprovada em março de 2025 que flexibilizou o chamado “freio ao endividamento” (Schuldenbremse). Esse mecanismo permitiu a criação de um fundo especial de €100 bilhões para investimentos na Bundeswehr, além de abrir espaço para elevar gastos recorrentes com defesa, que em 2024 chegaram a cerca de €90 bilhões (2,1% do PIB).

Meta da OTAN e Descompasso de Forças

Ainda que bem-vinda, a incorporação de 11.000 militares representa apenas um passo inicial frente às exigências da OTAN. Em Bruxelas, os ministros da Defesa acordaram novas metas que podem demandar até 60.000 tropas adicionais da Alemanha para preencher lacunas em brigadas terrestres, defesa antiaérea, sistemas de longo alcance e ciberdefesa. As diretrizes formariam parte de um esforço para dissuadir riscos crescentes vindos da Rússia, cujas forças perto das fronteiras organizam exercícios de larga escala.

Priorização de Compras e Modernização

Em 16 de junho de 2025, a agência de aquisições militares (BAAINBw) confirmou que dará preferência à rapidez na entrega de equipamentos, independentemente da origem do fornecedor, para reduzir atrasos históricos em concursos públicos. Aceleradores legislativos até o fim do ano deverão limitar recursos de contestação judicial e permitir cláusulas de segurança nacional que priorizem indústrias europeias quando necessário. Armas antiaéreas e estoques de munição são apontados como itens mais urgentes.

Ameaça Russa e Estratégia Interna

Um relatório confidencial do Estado-Maior alemão, vazado ao Spiegel em 20 de junho, classifica a Rússia como “risco existencial” para a Europa, prevendo que Moscou possa mobilizar até 1,5 milhão de militares em 2026. O documento recomenda o fortalecimento não apenas do aparato bélico, mas também de infraestrutura crítica e resiliência civil diante de possíveis ataques híbridos.

Desafios de Recrutamento e Possível Retorno do Serviço Militar Obrigatório

Apesar do esforço orçamentário, a Bundeswehr ainda sofre escassez crônica de pessoal: ao fim de 2024, havia cerca de 182.000 militares ativos, abaixo da meta anterior de 203.000. Levantamentos internos indicam que 25% dos voluntários abandonam o serviço durante o período probatório, e quase 30% das vagas permanecem abertas. Nesse contexto, o ministro Boris Pistorius admitiu que o retorno ao alistamento obrigatório — suspenso em 2011 — poderá ser reavaliado caso o recrutamento voluntário não alcance os níveis exigidos pela OTAN.

Perspectivas e Próximos Passos

Com a aprovação orçamentária iminente, o governo alemão dá o primeiro passo para reforçar sua defesa. Porém, especialistas alertam que, sem crescimento contínuo do efetivo, processos mais céleres de aquisição de armamentos e possíveis mudanças no modelo de serviço militar, o descompasso entre compromissos políticos e capacidade operacional poderá se agravar. O debate parlamentário sobre a reforma do recrutamento e as estratégias de modernização definirão se a Alemanha cumprirá suas novas obrigações dentro da OTAN ou permanecerá aquém das expectativas aliadas.

Conclusão

A iniciativa de recrutar 11.000 pessoas adicionais até o final de 2025 representa um avanço concreto no reforço das Forças Armadas alemãs, mas ainda é apenas um primeiro passo diante das exigências cada vez mais rígidas da OTAN. A capacidade de traduzir compromissos políticos em força militar operacional dependerá de um esforço contínuo de recrutamento, modernização de equipamentos e, possivelmente, de novos debates sobre o modelo de serviço militar na Alemanha. À medida que o governo segue para a fase legislativa, o acompanhamento parlamentar e a vigilância da sociedade civil serão fundamentais para garantir que os recursos alocados não só aumentem o efetivo, mas também fortaleçam a prontidão, a resiliência e a segurança de longo prazo do país e de seus aliados.

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