
Em 30 de junho de 2025, Reino Unido, França e Alemanha emitiram uma declaração conjunta condenando veementemente as ameaças dirigidas ao Diretor‑Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi. O episódio teve origem em editorial do jornal Kayhan, ligado ao Líder Supremo do Irã, que acusou Grossi de cumplicidade com o Mossad israelense e pediu sua execução caso pise em território iraniano. Este artigo revisa detalhadamente os fatos, contextualiza as motivações por trás das declarações iranianas, avalia o impacto sobre a cooperação nuclear e traz atualizações relevantes até a presente data.
Contexto Imediato e Declaração Europeia
Nesta segunda-feira, 30 de junho, os ministérios das Relações Exteriores de Londres, Paris e Berlim afirmaram: “Condenamos qualquer ameaça contra o Diretor‑Geral da AIEA Rafael Grossi e reafirmamos nosso apoio integral à Agência no cumprimento de seu mandato”. A nota instou o Irã a manter “a plena cooperação, em conformidade com suas obrigações legais” e a garantir a segurança dos inspetores internacionais.
O Editorial do Kayhan e as Ameaças
No dia 29 de junho, o jornal Kayhan publicou coluna classificando Grossi como “agente do Mossad” e propondo que fosse “julgado e sentenciado à morte” se entrasse no Irã². Embora não haja registros públicos de ameaças físicas diretas, o teor do texto acarretou um surto de tensão diplomática, pois coloca em risco o trabalho de verificação da AIEA.
Reações Oficiais de Teerã
- Embaixador Amir Saeid Iravani: Negou qualquer ameaça oficial ao Diretor‑Geral, dizendo não haver intenção de perseguir Grossi³.
- Presidente Masoud Pezeshkian: Durante telefonema com Emmanuel Macron, criticou os “padrões duplos” da AIEA, responsabilizando o órgão por agravar riscos à segurança regional⁴.
- Ministro Abbas Araqchi: Declarou que Grossi “não é bem‑vindo” no Irã, acusando‑o de ações “malignas”⁵.
- Porta‑voz Esmaeil Baghaei: Argumentou que o Irã não poderia garantir a segurança dos inspetores após ataques a instalações nucleares atribuídos a Israel e informou que o Conselho de Guardiães aprovou lei para suspender a cooperação com a AIEA.
Contexto Nuclear e Elevação de Tensão
Em 25 de junho de 2025, o Conselho de Governadores da AIEA declarou o Irã em violação do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), após identificar avanços no enriquecimento de urânio além dos limites estabelecidos no JCPOA de 2015⁷. No dia seguinte, duas instalações nucleares — Fordow e Natanz — sofreram ataques atribuídos por diversos analistas à Força Aérea de Israel, elevando o sentimento de cerco em Teerã.
Atualizações Recentes
- A AIEA implementou protocolos reforçados de segurança para seus inspetores, negociando rotas alternativas e apoio logístico de países-membros para deslocamentos nos locais de inspeção⁹.
- O presidente francês Emmanuel Macron convidou formalmente seu homólogo iraniano Masoud Pezeshkian a discutir propostas de mediação no âmbito do próximo G7, visando restaurar a confiança mútua.
- O Conselho de Guardiães do Irã avaliou emendas moderadoras ao projeto de lei que ordena a suspensão da cooperação com a AIEA, sinalizando possível flexibilização caso o relatório de junho seja revisado.
Implicações e Perspectivas
- Diplomacia Multilateral: A resposta conjunta europeia demonstra a importância de manter canais de diálogo ativos para evitar o colapso do acordo nuclear e proteger a transparência das atividades atômicas.
- Segurança dos Inspetores: As novas medidas logísticas podem servir como modelo para missões de inspeção em outras regiões de tensão.
- Equilíbrio Regional: Com eleições presidenciais marcadas para julho de 2025, o Irã enfrenta tensão interna entre moderados e linha-dura, influenciando diretamente sua postura nas negociações nucleares.
- Futuro do JCPOA: A sustentabilidade do acordo depende da disposição iraniana em retomar integralmente suas obrigações e da confiança renovada na imparcialidade da AIEA.
Conclusão
O episódio envolvendo as ameaças contra o Diretor-Geral da AIEA, Rafael Grossi, destaca as complexidades da diplomacia nuclear e os riscos crescentes em um cenário marcado por desconfianças mútuas e tensões geopolíticas. A condenação conjunta de Reino Unido, França e Alemanha reforça a importância da proteção dos agentes internacionais que atuam na fiscalização do cumprimento de acordos multilaterais essenciais para a segurança global.
Ao mesmo tempo, a retórica agressiva de setores iranianos mais radicais e a resposta oficial de Teerã revelam o delicado equilíbrio entre soberania nacional e obrigações internacionais, principalmente diante de ataques recentes às instalações nucleares iranianas. A continuidade do diálogo, o fortalecimento de protocolos de segurança para inspetores e a busca por um entendimento político entre as partes são imperativos para evitar o agravamento do conflito e garantir a estabilidade regional.
Assim, o futuro do acordo nuclear com o Irã depende diretamente da disposição do país em manter a cooperação plena com a AIEA e da capacidade da comunidade internacional em agir com equilíbrio, evitando escaladas que podem levar a uma crise de consequências globais.
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