Conflito Diplomático e Segurança Nuclear: A Resposta Europeia às Ameaças Contra o Diretor‑Geral da AIEA

Reza Najafi, representante permanente do Irã na ONU, chegando à reunião emergencial da AIEA em Viena, 23 de junho de 2025.
Reza Najafi, Representante Permanente do Irã nas Nações Unidas, chega para reunião emergencial do Conselho de Governadores da AIEA em Viena, em 23 de junho de 2025, para discutir ataques recentes a instalações nucleares iranianas./ Reuters

Em 30 de junho de 2025, Reino Unido, França e Alemanha emitiram uma declaração conjunta condenando veementemente as ameaças dirigidas ao Diretor‑Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi. O episódio teve origem em editorial do jornal Kayhan, ligado ao Líder Supremo do Irã, que acusou Grossi de cumplicidade com o Mossad israelense e pediu sua execução caso pise em território iraniano. Este artigo revisa detalhadamente os fatos, contextualiza as motivações por trás das declarações iranianas, avalia o impacto sobre a cooperação nuclear e traz atualizações relevantes até a presente data.

Contexto Imediato e Declaração Europeia

Nesta segunda-feira, 30 de junho, os ministérios das Relações Exteriores de Londres, Paris e Berlim afirmaram: “Condenamos qualquer ameaça contra o Diretor‑Geral da AIEA Rafael Grossi e reafirmamos nosso apoio integral à Agência no cumprimento de seu mandato”. A nota instou o Irã a manter “a plena cooperação, em conformidade com suas obrigações legais” e a garantir a segurança dos inspetores internacionais.

O Editorial do Kayhan e as Ameaças

No dia 29 de junho, o jornal Kayhan publicou coluna classificando Grossi como “agente do Mossad” e propondo que fosse “julgado e sentenciado à morte” se entrasse no Irã². Embora não haja registros públicos de ameaças físicas diretas, o teor do texto acarretou um surto de tensão diplomática, pois coloca em risco o trabalho de verificação da AIEA.

Reações Oficiais de Teerã

  • Embaixador Amir Saeid Iravani: Negou qualquer ameaça oficial ao Diretor‑Geral, dizendo não haver intenção de perseguir Grossi³.
  • Presidente Masoud Pezeshkian: Durante telefonema com Emmanuel Macron, criticou os “padrões duplos” da AIEA, responsabilizando o órgão por agravar riscos à segurança regional⁴.
  • Ministro Abbas Araqchi: Declarou que Grossi “não é bem‑vindo” no Irã, acusando‑o de ações “malignas”⁵.
  • Porta‑voz Esmaeil Baghaei: Argumentou que o Irã não poderia garantir a segurança dos inspetores após ataques a instalações nucleares atribuídos a Israel e informou que o Conselho de Guardiães aprovou lei para suspender a cooperação com a AIEA.

Contexto Nuclear e Elevação de Tensão

Em 25 de junho de 2025, o Conselho de Governadores da AIEA declarou o Irã em violação do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), após identificar avanços no enriquecimento de urânio além dos limites estabelecidos no JCPOA de 2015⁷. No dia seguinte, duas instalações nucleares — Fordow e Natanz — sofreram ataques atribuídos por diversos analistas à Força Aérea de Israel, elevando o sentimento de cerco em Teerã.

Atualizações Recentes

  • A AIEA implementou protocolos reforçados de segurança para seus inspetores, negociando rotas alternativas e apoio logístico de países-membros para deslocamentos nos locais de inspeção⁹.
  • O presidente francês Emmanuel Macron convidou formalmente seu homólogo iraniano Masoud Pezeshkian a discutir propostas de mediação no âmbito do próximo G7, visando restaurar a confiança mútua.
  • O Conselho de Guardiães do Irã avaliou emendas moderadoras ao projeto de lei que ordena a suspensão da cooperação com a AIEA, sinalizando possível flexibilização caso o relatório de junho seja revisado.

Implicações e Perspectivas

  • Diplomacia Multilateral: A resposta conjunta europeia demonstra a importância de manter canais de diálogo ativos para evitar o colapso do acordo nuclear e proteger a transparência das atividades atômicas.
  • Segurança dos Inspetores: As novas medidas logísticas podem servir como modelo para missões de inspeção em outras regiões de tensão.
  • Equilíbrio Regional: Com eleições presidenciais marcadas para julho de 2025, o Irã enfrenta tensão interna entre moderados e linha-dura, influenciando diretamente sua postura nas negociações nucleares.
  • Futuro do JCPOA: A sustentabilidade do acordo depende da disposição iraniana em retomar integralmente suas obrigações e da confiança renovada na imparcialidade da AIEA.

Conclusão

O episódio envolvendo as ameaças contra o Diretor-Geral da AIEA, Rafael Grossi, destaca as complexidades da diplomacia nuclear e os riscos crescentes em um cenário marcado por desconfianças mútuas e tensões geopolíticas. A condenação conjunta de Reino Unido, França e Alemanha reforça a importância da proteção dos agentes internacionais que atuam na fiscalização do cumprimento de acordos multilaterais essenciais para a segurança global.

Ao mesmo tempo, a retórica agressiva de setores iranianos mais radicais e a resposta oficial de Teerã revelam o delicado equilíbrio entre soberania nacional e obrigações internacionais, principalmente diante de ataques recentes às instalações nucleares iranianas. A continuidade do diálogo, o fortalecimento de protocolos de segurança para inspetores e a busca por um entendimento político entre as partes são imperativos para evitar o agravamento do conflito e garantir a estabilidade regional.

Assim, o futuro do acordo nuclear com o Irã depende diretamente da disposição do país em manter a cooperação plena com a AIEA e da capacidade da comunidade internacional em agir com equilíbrio, evitando escaladas que podem levar a uma crise de consequências globais.

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