
Em 1º de junho de 2025, a Ucrânia executou a Operação Spiderweb, uma ofensiva inédita de ataques com drones contra múltiplas bases aéreas russas, marcando o maior conjunto de ataques de um só dia a alvos militares russos desde o início da guerra em fevereiro de 2022. A ação, cuidadosamente planejada ao longo de um ano e meio, tinha como principal objetivo danificar a aviação estratégica russa em regiões remotas, como Murmansk, Irkutsk, Ivanovo, Ryazan e Amur, a milhares de quilômetros das linhas de frente.
Contexto Operacional
A Operação Spiderweb foi desenvolvida pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), com supervisão pessoal do presidente Volodymyr Zelensky e do chefe do SBU, Vasyl Maliuk. Segundo fontes ucranianas, a preparação envolveu 18 meses de planejamento logístico, construção de estruturas de lançamento móveis e infiltração de agentes em solo russo para montar depósitos secretos de drones dentro de contêineres de madeira, montados em caminhões que se aproximaram clandestinamente das bases. Esse método permitiu ocultar centenas de drones FPV (First Person View) equipados com explosivos até o momento do disparo.
Execução da Operação
Na madrugada de domingo, os caminhões — com contêineres cujo teto era erguido remotamente — foram posicionados a uma curta distância das pistas de voo das bases aéreas. Assim que as aberturas foram acionadas, dezenas de drones alçaram voo em direção aos hangares e áreas de estacionamento das aeronaves. Em Murmansk (Olenya) e Irkutsk (Belaya), parte dos bombardeiros Tu-95, Tu-160 e Tu-22M3, além de uma aeronave de alerta aéreo A-50, foram atingidos, resultando em incêndios que exigiram esforço das equipes russas de combate a incêndio. Nas regiões de Ryazan (Dyagilevo), Ivanovo (Ivanovo Severny) e Amur (Voskresensk), as defesas antiaéreas russas alegaram ter interceptado a maioria dos vetores, mas confirmaram que ataques ocorreram, sobretudo em Dyagilevo e Voskresensk. Até o momento, as autoridades russas não reportaram vítimas fatais, embora haja relatos de pelo menos uma pessoa detida por envolvimento na operação.
Impacto Material e Orçamentário
O SBU estimou que os danos causados superam US$ 7 bilhões, atingindo cerca de 41 aeronaves estratégicas, o que corresponderia a 34% da capacidade russa de bombardeiros de longo alcance. Imagens — ainda não totalmente verificadas — mostram colunas de fumaça em Belaya e Olenya, bem como destroços de partes de fuselagem próximas às pistas de pouso. Caso confirmados na totalidade, esses estragos podem paralisar temporariamente lançamentos de mísseis de cruzeiro baseados em Tu-95 e Tu-160, reduzindo significativamente a projeção de poder aéreo russa contra o território ucraniano.
Repercussões Estratégicas
Ao atacar bases aéreas em regiões siberianas, a Ucrânia demonstrou capacidade de projeção de poder para além das linhas de frente tradicionais, forçando o Kremlin a reavaliar sua logística de segurança interna. A ação expôs vulnerabilidades na proteção de infraestruturas militares distantes, colocando em xeque a suposição russa de que áreas como Murmansk e Irkutsk estariam livres de ameaças diretas. Como resposta, o governo russo promete reforçar a vigilância interna e, possivelmente, realocar recursos de combate para proteger pontos logísticos críticos, o que pode gerar sobrecarga no orçamento de defesa.
Simultaneamente aos ataques ucranianos, a Rússia lançou 472 drones sobre o território ucraniano na noite anterior, o maior total desde 2022, além de disparar sete mísseis lacrimogêneos, segundo a Força Aérea da Ucrânia. Isso reflete um ciclo de escalada mútua: enquanto Kiev prova alcance profundo em solo russo, Moscou reforça ofensivas aéreas para pressionar áreas civis e militares no leste ucraniano, causando 12 mortes e 69 feridos em bombardeios na região de Donetsk e Luhansk.
Reações Internacionais
Países membros da OTAN e da União Europeia saudaram, de forma velada, a Operação Spiderweb como uma demonstração de inovação militar ucraniana, mas evitaram declarar apoio explícito, para não alimentar tensões bilaterais com Moscou. Fontes ocidentais apontam que o ataque reflete uma guerra híbrida em expansão, com presença de células de sabotagem em solo russo, prevendo possíveis desdobramentos de ataques semelhantes contra outras infraestruturas críticas, como bases navais e redes de energia.
O Kremlin qualificou a ofensiva ucraniana como “ato terrorista”, alegando que a Ucrânia violou soberania e direito internacional. Autoridades russas ameaçaram retaliação nuclear, aumentando o tom retórico para pressionar pela retirada de tropas ucranianas e pela suspensão imediata das negociações de paz. O ministro da Defesa russo minimizou publicamente os danos em três das cinco regiões atacadas, embora admitisse vulnerabilidades detectadas em Murmansk e Irkutsk, exigindo medidas emergenciais de segurança interna.
Consequências para as Negociações de Paz
A Operação Spiderweb ocorreu ontem, às vésperas das negociações de paz em Istambul, marcadas para hoje, 2 de junho de 2025. Kiev envia uma delegação liderada pelo ministro da Defesa Rustem Umerov, com pauta que inclui:
- Cessar-fogo total e incondicional;
- Libertação de prisioneiros de guerra e retorno de crianças sequestradas;
- Recusa em reconhecer quaisquer reivindicações territoriais russas sobre regiões ocupadas;
- Condicionamento de suspensão de sanções e liberação de ativos russos a garantias de segurança e reparações à Ucrânia.
O ataque de ontem reforça a posição de Kiev, uma vez que demonstra a capacidade operacional de atingir pontos estratégicos russos, mesmo em profundidade, e pressiona Moscou a negociar sob risco de novas perdas materiais e simbólicas. Para o governo russo, ceder a essas exigências pode ser politicamente desgastante, mas ignorar a escalada ucraniana também é arriscado, pois cabe ao Kremlin decidir se aceita termos que preservem parte de sua aviação estratégica ou se arrisca novas sanções e isolamento diplomático.
Oleksandr Tkachenko, professor de Relações Internacionais, avalia que “esta operação demonstra, pela primeira vez, a habilidade da Ucrânia de desferir um golpe cirúrgico a dezenas de milhares de quilômetros da linha de frente, comprometendo a moral e a capacidade de dissuasão russa”. Para ele, o impacto psicológico sobre o alto comando militar russo pode ser tão danoso quanto as próprias perdas físicas, pois revela falhas graves em segurança interna.
Natalia Ivanova, pesquisadora em defesa russa, pondera que “embora a quantidade de aeronaves perdidas possa ser inflacionada pelas fontes ucranianas, o simples fato de drones terem penetrado em bases consideradas ‘intocáveis’ altera a correlação de forças e obriga a Rússia a reassumir prioridades de proteção, desviando recursos de outras frentes”. Já Pierre Dubois, analista de geopolítica na Universidade de Lyon, destaca: “no médio prazo, a Rússia terá de gastar bilhões em reforçar defesas antiaéreas e contraespionagem, o que elevará os custos de manutenção de sua operação militar externa, acelerando o desgaste econômico”.
Observadores independentes apontam que, se a Ucrânia mantiver o ritmo de ataques profundos, a pressão internacional sobre o Kremlin aumentará, dificultando qualquer estratégia de continuidade do conflito sem definição política ou militar.
Conclusão
A Operação Spiderweb, ao atingir bases aéreas russas situadas em regiões tão distantes quanto Murmansk e Irkutsk, marcou um ponto de inflexão no conflito: não se trata apenas de danos materiais, mas de uma mensagem estratégica clara de que a Ucrânia dispõe de meios tecnológicos e humanos para romper barreiras geográficas, repercutindo diretamente nas negociações de paz em Istambul. Ao forçar a Rússia a proteger instalações outrora consideradas seguras, Kiev não só mitiga ataques aéreos contra suas cidades, mas também fortalece sua posição diplomática.
À medida que as conversações se iniciam hoje, 2 de junho de 2025, caberá ao alto comando russo decidir se atenderá às exigências de cessar-fogo imediatas, libertação de prisioneiros e reconhecimento dos limites territoriais ucranianos, ou se optará por prosseguir com a escalada militar, arriscando maior isolamento econômico e político. A eficácia da Operação Spiderweb deixa claro que qualquer avanço de Moscou terá de levar em conta o custo de proteger cada ponto de sua vasta infraestrutura militar, enquanto Kiev demonstra estar preparada para sustentar esse tipo de pressão assimétrica até alcançar seus objetivos diplomáticos.
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