
Em 1º de julho de 2025, o grupo jihadista Jama’a Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), afiliado à Al‑Qaida, lançou ataques coordenados contra sete posições militares no Mali ocidental, incluindo o posto avançado de Diboli, a menos de um quilômetro da fronteira com o Senegal. Esta ofensiva representa a investida mais próxima já registrada pelo JNIM em direção à costa atlântica, indicando um novo patamar de ousadia que coloca em xeque a estabilidade e as rotas comerciais da região, notadamente o corredor Dakar–Bamako.
Contexto e Perfil do JNIM
Formado em março de 2017 pela fusão de Ansar Dine, Al-Mourabitoun e o braço do Saara da Al‑Qaida no Magrebe Islâmico, o JNIM é hoje a principal organização jihadista do Sahel. Estima-se que o grupo disponha de 5.000 combatentes, distribuídos em células descentralizadas que atuam tanto no Mali quanto em Burkina Faso e Níger, explorando o vácuo de segurança gerado pela retirada das tropas internacionais e pelas crises políticas locais.
Geografia Estratégica
- Diboli: localidade fronteiriça em Kayes, Mali, usada historicamente como posto de patrulha binacional com o Senegal, mas até então poupada de grandes ataques.
- Kayes: capital regional com atividade aurífera e cruciais rodovias de ligação ao Senegal. Em 1º de julho, JNIM também atacou Kayes city e postos fronteiriços com Mauritânia e Senegal, sua maior ofensiva já registrada nesta frente.
- Porto de Dakar: principal escoadouro para mercadorias malianas; sua segurança recua diante da ameaça direta ao corredor de transporte.
Detalhes da Operação de 1º de Julho
- Alcance: Além de Diboli, sofreram ataques Nioro, Sandaré, Gogui, Molodo e o centro de Kayes, totalizando sete locais simultâneos.
- Táticas: emboscadas ao amanhecer, uso de motocicletas para mobilidade e IEDs (explosivos improvisados) em pontos de bloqueio.
- Resposta: o Exército do Mali afirma ter “neutralizado” 80 combatentes jihadistas e apreendido armamentos, veículos e comunicações. Não há dados oficiais sobre baixas militares malianas.
Impactos sobre Mercado e Segurança
- Comércio: analistas alertam para possível aumento de custos logísticos, já que importadores e exportadores podem buscar rotas alternativas aos portos de Dakar e Conacri.
- Migração: deslocamentos internos de civis e reforço de tropas fronteiriças no Senegal podem gerar tensões locais e pressões humanitárias.
Reações Políticas e Militares
- Mali: o governo militar, criticado por sua parceria com o Grupo Wagner e pelo afastamento da operação francesa Barkhane, reforçou a presença em Kayes e Diboli, mas sem capacidade de impedir ataques de longo alcance.
- Senegal: ampliou patrulhas binacionais e iniciou exercícios com tropas do G5 Sahel, mas admite limitações orçamentárias para sustentar operações prolongadas.
- ECOWAS vs AES: a cisão entre Mali (AES) e o bloco da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS) reduz a coordenação regional em segurança.
Vozes Locais
- Ulf Laessing, chefe do programa Sahel na Konrad Adenauer Foundation, destacou que “a região de fronteira com o Senegal é um importante corredor de comércio e importações dos portos de Dakar que vinha sendo estável por anos. Isso também vai preocupar as comunidades fronteiriças no Senegal”.
- Col. Majo Souleymane Dembélé, porta‑voz do Exército do Mali, afirmou que “as forças inimigas sofreram pesadas baixas em todas as tentativas de ataque às nossas Forças de Defesa e Segurança. Mais de 80 terroristas foram neutralizados”.
Cenários Futuros e Previsões
- Se os ataques persistirem neste novo corredor oeste, poderá haver um desvio consistente das cargas malianas para portos costeiros alternativos, como Abidjan ou Lagos, aumentando custos logísticos em até 20%.
- A pressão sobre o Senegal pode resultar em maior militarização de fronteiras, com desdobramentos de tropas adicionais do G5 Sahel e possivelmente reforços da missão da União Africana.
- Em um cenário de escalada continuada, a ECOWAS pode rever sanções ou considerar intervenções de manutenção de paz para garantir a liberdade de circulação de mercadorias.
Conclusão e Perspectivas
A ofensiva do JNIM em Diboli e outras localidades fronteiriças é sintoma de uma insurgência mais adaptável e expansionista. Sem apoio internacional consistente e estratégias de coesão regional, a região ficará vulnerável a novos ataques, fortalece narrativas de fracasso estatal e aprofunda crises humanitárias no Sahel ocidental.
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