O Brasil na Presidência do Mercosul: Um Projeto de Integração e Renovação para o Cone Sul

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante a 66ª Cúpula do Mercosul em Buenos Aires, julho de 2025.
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia de transmissão da Presidência Pro Tempore do Mercosul ao Brasil com o presidente da Argentina, Javier Milei -Foto: Ricardo Stuckert / PR/agênciaBrasil

Na 66ª Cúpula do Mercosul, realizada em 3 de julho de 2025 em Buenos Aires, o Brasil assumiu a presidência pro tempore do bloco para o segundo semestre do ano, sucedendo a Argentina. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou um ambicioso plano de ação, que contempla cinco eixos prioritários — ampliação comercial, promoção da transição energética, desenvolvimento tecnológico, combate ao crime organizado e enfrentamento das desigualdades sociais — alinhados a uma agenda de fortalecimento institucional e modernização das estruturas de integração regional.

Contexto e Desafios do Bloco

Criado em 1991 com o Tratado de Assunção, o Mercosul agrega hoje quatro Estados‑partes plenos (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e, desde 7 de agosto de 2024, a Bolívia. Em 2024, o comércio intra‑Mercosul alcançou US$ 113 bilhões — cerca de 20% das exportações conjuntas — e a meta é elevar esse percentual para 25% até 2027.

“A integração econômica do Cone Sul depende de metas claras. Nossa ambição é crescer em comércio regional e fortalecer cadeias produtivas locais”, afirma a economista‑chefe do IPEA, Dra. Maria Fernanda Alves.

Ampliação Comercial e Conectividade Global

  • Acordo Mercosul‑UE: consenso político em 6 de dezembro de 2024; aguarda tradução e ratificação e pode elevar em 12% as exportações ao bloco europeu.
  • EFTA (Islândia, Liechtenstein, Noruega, Suíça): tratado concluído em 2 de julho de 2025, com projeção de aumentar em até 15% o comércio bilateral.
  • Exemplo prático: o Porto de Montevideo, modernizado em 2023 com US$ 120 milhões do Focem, aumentou em 30% sua movimentação de cargas, reduzindo custos logísticos.

“O avanço desses acordos marca uma nova fase de protagonismo sul-americano na economia global”, avalia o ex‑representante do Brasil na OMC, Embaixador Carlos Silva.

Transição Energética e Agenda Verde

  • Mercosul Verde: padrões de rastreabilidade agroindustrial e cooperação em tecnologias limpas.
  • Reservas regionais: 21 milhões de toneladas de lítio e 16% das reservas mundiais de cobre.
  • Caso de sucesso: usina solar de Itacuruba (PE), apoiada pelo Focem, dobrou capacidade em 2024 e atende 250 mil residências.

O Brasil sediará a COP30 em Belém em novembro de 2025, reunindo mais de 180 países.

Desenvolvimento Tecnológico e Soberania Digital

  • Parceria Brasil‑Chile em IA: modelos que refletem realidades culturais latino‑americanas.
  • Data centers regionais: proposta de instalação no Cone Sul, reduzindo latência e custos de hospedagem.
  • Polo FAR‑Mercosul: R$ 450 milhões investidos desde 2022 em laboratórios em Manaus e Assunção, ampliando em 40% a capacidade de produção de vacinas.

Combate ao Crime Organizado

  • Agência anticrime regional: proposta apoiada pelo Brasil para coordenar inteligência e ações conjuntas.
  • Operação “Sul Seguro” (maio/2025): apreensão de 2,3 t de cocaína e prisão de 47 integrantes de facção.
  • Iniciativas: Comando Tripartite da Tríplice Fronteira e Centro de Cooperação Policial da Amazônia.

“A cooperação entre polícias da região é fundamental para desestruturar redes criminosas e garantir nossa segurança”, destaca o Delegado Rafael Rocha, Diretor‑Geral da Polícia Federal.

Inclusão Social e Redução de Desigualdades

  • ISM e IPPDH: ativação de instâncias sociais e de direitos humanos.
  • Linhas de crédito regionais: R$ 2,5 bilhões pelo BNDES para PMEs Mercosul em 2024.
  • Formação profissional: 20 mil beneficiários em programas de qualificação no último ano.

Perspectivas e Olhar para o Futuro

A presidência brasileira enfrenta desafios políticos e setoriais internos, bem como tensões comerciais externas. O sucesso dependerá da ratificação dos acordos Mercosul‑UE e EFTA, da consolidação da adesão boliviana e do aporte de recursos ao Focem.

Até 2030, a meta é:

  • Elevar o comércio intra‑regional para 30% do total de exportações dos Estados-membros.
  • Reduzir em 15% as desigualdades inter-regionais.
  • Ampliar em 50% a capacidade de geração de energia renovável no Cone Sul.

Conclusão

Em síntese, ao longo dos próximos seis meses, a presidência brasileira buscará expandir o comércio regional, acelerar a transição energética, reforçar a soberania digital, intensificar o combate ao crime organizado e promover inclusão social. Se essas metas forem alcançadas, o Mercosul poderá se consolidar como uma força coesa no cenário global, gerando benefícios concretos para mais de 400 milhões de habitantes. A comunidade regional e os investidores devem acompanhar de perto a evolução desses esforços nas próximas cúpulas e nos processos de ratificação dos principais acordos, pois serão eles que definirão a capacidade de o bloco se reinventar e liderar uma nova fase de prosperidade sul-americana.

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