
A recente visita do presidente chinês Xi Jinping a Hanói marcou um capítulo importante no fortalecimento das relações entre China e Vietnã, num contexto de tensões comerciais globais e pressões tarifárias dos Estados Unidos. Durante sua estadia, Xi não apenas se encontrou com autoridades vietnamitas de alto escalão, mas também participou da assinatura de inúmeros acordos de cooperação que abrangem desde cadeias de suprimentos e infraestrutura até tecnologias emergentes, como inteligência artificial e economia verde.
Contexto Geopolítico e Econômico
A visita de Xi Jinping a Hanói, inserida em uma extensa turnê no Sudeste Asiático, ocorre em um cenário marcado por intensas disputas comerciais e rivalidades estratégicas. Enquanto a China enfrenta tarifas que chegam a 145% impostas pelos EUA, o Vietnã lida com a ameaça de tarifas de 46% caso o moratório global expire, gerando um ambiente desafiador para o comércio internacional.
Em meio a essas incertezas, a aproximação entre Pequim e Hanói demonstra a estratégia conjunta dos países para mitigar riscos decorrentes das tensões tarifárias e fortalecer suas cadeias de produção e suprimentos.
Detalhes dos Acordos de Cooperação
Durante a visita, foram assinados ao menos 45 acordos de cooperação, abordando áreas estratégicas essenciais:
- Cadeias de Produção e Suprimentos: Xi enfatizou a importância de integrar e fortalecer os elos logísticos, destacando que “não há ganhadores em guerras comerciais e tarifárias”. Essa orientação busca reduzir a vulnerabilidade das cadeias globais e promover uma integração mais robusta na região.
- Infraestrutura e Transporte Ferroviário: Um dos memorandos de entendimento destina-se a melhorar a infraestrutura de transporte, com ênfase na construção e modernização de linhas ferroviárias que podem facilitar a logística e reduzir os custos operacionais.
- Tecnologia e Economia Verde: A colaboração também se estende a setores inovadores, com investimentos em inteligência artificial, economia verde e tecnologias sustentáveis, visando modernizar as indústrias e preparar ambos os países para futuros desafios ambientais.
- Setor de Aviação: O acordo envolvendo companhias aéreas e a fabricante chinesa COMAC abre possibilidades para a operação de aeronaves chinesas no Vietnã, ampliando a integração no setor de transporte aéreo regional.
Apesar dos detalhes financeiros e das obrigações vinculatórias não terem sido divulgados, a diversidade dos acordos reflete um compromisso abrangente e estratégico com o desenvolvimento mútuo.
Perspectivas de Economistas e Instituições
Especialistas da região Ásia-Pacífico apontam que o fortalecimento dos laços entre China e Vietnã é fundamental para aumentar a resiliência das cadeias globais de suprimentos. Economistas e analistas sugerem que essa cooperação pode reduzir os impactos de políticas protecionistas e das tensões comerciais com os EUA. Relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD), e análises de think tanks como CSIS e Brookings enfatizam que iniciativas regionais desse tipo podem atuar como estabilizadores econômicos, promovendo um crescimento mais sustentável em um cenário de incertezas globais.
Comparações com Acordos Regionais e o Papel do RCEP
Ao comparar os acordos firmados entre China e Vietnã com outras iniciativas regionais, destaca-se a relevância dos acordos da China com Laos e Camboja. Esses acordos também visam fortalecer as cadeias produtivas e logísticas na Ásia, mas os compromissos com o Vietnã se mostram mais robustos devido ao seu papel crucial como hub industrial e de exportação.
Além disso, o papel do RCEP (Parceria Econômica Regional Abrangente) não pode ser subestimado. Este acordo, que reúne 15 países da Ásia-Pacífico, busca simplificar e harmonizar regras comerciais, criando um ambiente mais favorável ao investimento e à cooperação econômica. A sinergia entre os acordos bilaterais e o RCEP pode acelerar a integração regional, potencializando ganhos para os países membros.
Análise de Riscos
Apesar dos potenciais benefícios, a intensificação da cooperação entre China e Vietnã traz consigo riscos que precisam ser avaliados:
Dependência Excessiva de Investimentos Chineses: Embora os investimentos chineses possam impulsionar o crescimento, há o risco de criar uma dependência econômica que pode limitar a autonomia do Vietnã em decisões estratégicas e políticas econômicas futuras.
Escalada de Tensões no Mar do Sul da China: A região é palco de disputas territoriais envolvendo vários países. Um fortalecimento dos laços entre China e Vietnã pode intensificar divergências, principalmente devido à reivindicação de áreas estratégicas.
Pressão de Washington sobre o Vietnã: Diante da crescente influência de Beijing, os Estados Unidos podem intensificar suas pressões diplomáticas e comerciais sobre o Vietnã, exigindo medidas que alinhem o país com as políticas ocidentais.
Conclusão
A assinatura de acordos entre China e Vietnã, impulsionada pela visita de Xi Jinping a Hanói, representa uma resposta estratégica às pressões tarifárias e comerciais impostas pelos Estados Unidos. Essa aproximação não só reflete uma reestruturação das cadeias globais de suprimentos, mas também sinaliza a intenção de ambos os países em consolidar uma rede regional mais autossuficiente e resiliente. Ao incorporar opiniões de economistas e análises de importantes instituições financeiras e think tanks, o cenário se torna ainda mais complexo, equilibrando os benefícios de uma maior integração com riscos geopolíticos e econômicos significativos.
Enquanto os acordos oferecem uma oportunidade de fortalecimento mútuo, a escalada de tensões no Mar do Sul da China, a pressão externa sobre o Vietnã e a possibilidade de dependência excessiva de investimentos chineses são desafios que precisarão ser gerenciados com cautela para garantir um desenvolvimento sustentável e equilibrado.
Para mais informações e uma análise complementar sobre o cenário geoestratégico na região, confira: Xi Jinping e Prabowo Subianto reafirmam compromisso estratégico: Um novo capítulo nas relações China-Indonésia.
Explicação do Gráfico sobre Comércio China-Vietnã-EUA

Principais observações:
- As importações dos EUA vindas do Vietnã cresceram significativamente, passando de cerca de US$ 46 bilhões em 2017 para aproximadamente US$ 125 bilhões em 2024.
- Por sua vez, as importações do Vietnã da China também apresentaram um crescimento constante, embora em menor escala, aumentando de cerca de US$ 50 bilhões para aproximadamente US$ 75 bilhões no mesmo período.
O gráfico sugere que o Vietnã está se consolidando como um importante parceiro comercial dos EUA, ao mesmo tempo em que mantém relações comerciais robustas com a China.
O crescimento acelerado após 2019 pode refletir mudanças nas cadeias de suprimentos globais e a realocação de produção para o Vietnã.
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