
Desde os ataques mútuos entre Irã e Israel que começaram em 13 de junho de 2025 — seguidos por ações dos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas — o tráfego aéreo civil no Oriente Médio enfrenta um dos maiores desafios de segurança das últimas décadas. Com espaços aéreos fechados sobre Irã, Iraque, Síria, Israel, Jordânia e partes do Golfo, as principais operadoras globais têm desviado voos por rotas muito mais longas, assumindo custos operacionais elevados e mantendo protocolos de vigilância 24 horas por dia para garantir a proteção de passageiros e tripulações.
Redirecionamento de Rotas e Impactos nos Custos
Para evitar as zonas de conflito ativo, companhias como Emirates e Flydubai suspenderam temporariamente serviços a destinos como Jordânia, Líbano, Síria, Irã e Iraque, estendendo cancelamentos até o fim de junho. Dados do FlightRadar24 confirmam que voos de longo curso agora sobem até o norte, sobre o Mar Cáspio, ou descem via Egito e Arábia Saudita, trajetos que podem aumentar o consumo de combustível em até 15% e prolongar voos entre Europa e Ásia em até duas horas.
Além disso, as restrições francesas — que proíbem entrada na Região de Informação de Voo de Teerã até 27 de junho — e a decisão da agência russa Rosaviatsia de vetar seus voos sobre o Oriente Médio até pelo menos 26 de junho demonstram o caráter global das medidas de precaução.
Riscos Aumentados para Operadoras Americanas
A OPSGROUP, por meio da plataforma Safe Airspace, alertou que os recentes ataques dos EUA a instalações nucleares iranianas podem elevar o risco a operadores norte-americanos, mesmo sem ameaças diretas à aviação civil. O Irã já avisou que poderá retaliar alvos militares dos EUA “direta ou indiretamente”. Em resposta, o FAA reforçou proibições de sobrevoo no Golfo de Omã e em estreitos próximos ao Irã, levando American Airlines e United Airlines a suspenderem voos a Doha e Dubai antes mesmo da escalada atual.
Medidas Logísticas: O Caso da FedEx
Em 20 de junho de 2025, a FedEx anunciou a suspensão de coletas destinadas a Israel e Iraque, citando “riscos elevados à segurança de voo” decorrentes da troca de mísseis e drones na região. Embora já não operasse no Irã por sanções, a empresa repassou o impacto da volatilidade das rotas à cadeia global de suprimentos, mostrando como disputas militares reverberam em operações comerciais e de carga aérea.
Operações de Resgate e Repatriação
Com o espaço aéreo israelense fechado desde 13 de junho, cerca de 150 000 israelenses ficaram retidos fora do país. Entre 17 e 22 de junho, El Al, Arkia e Israir realizaram voos de resgate via Chipre, Grécia e Bulgária, focados exclusivamente em trazer cidadãos de volta, sem oferecer trechos de saída do território israelense. O governo britânico também organizou charters para seus cidadãos, enquanto Japão e Nova Zelândia evacuaram, respectivamente, 21 pessoas via Azerbaijão e posicionaram um C-130J Hércules em prontidão em Auckland para operações futuras.
Reabertura Temporária de Espaço Aéreo
Em 22 de junho de 2025, Israel permitiu pousos de voos de resgate entre 11h00 e 17h00 GMT, janela definida pela avaliação conjunta das Forças de Defesa de Israel e autoridades civis. Durante esse período, ao menos 10 voos foram operados por El Al, Arkia, Air Haifa e Israir, reduzindo temporariamente o êxodo de passageiros.
Perspectivas e Recomendações
- Vigilância em Tempo Real: Fortalecer o uso de plataformas como Safe Airspace e FlightRadar24 para decisões de rota minuto a minuto.
- Diversificação de Corredores: Explorar continuação de rotas pelo Cáspio e sul africano, atreladas à análise de capacidade de aeroportos de escala.
- Política de Passageiros: Manter políticas claras de remarcação e reembolso, reforçando a confiança em um cenário instável.
- Revisão Económica: Adaptar tarifas para refletir custos extras com combustível e horas de voo suplementares.
- Cooperação Global: Incrementar a coordenação entre nações para operações de evacuação e suporte a estrangeiros — estratégias que se mostraram cruciais na crise atual.
Enquanto as tensões permanecem elevadas, a aviação civil demonstra resiliência e capacidade de adaptação. O desdobrar deste conflito poderá redesenhar permanentemente as rotas e protocolos de segurança em uma das regiões de maior tráfego aéreo do planeta.
Conclusão
O atual cenário de conflito no Oriente Médio impôs à aviação civil um desafio sem precedentes, exigindo rápidas adaptações logísticas e operacionais para garantir a segurança de passageiros e tripulações. O redirecionamento das rotas, o aumento dos custos operacionais e os alertas de riscos elevados para operadores, especialmente os americanos, revelam a complexidade de operar em uma região instável. As ações coordenadas de repatriação e evacuação, bem como a colaboração internacional, demonstram a importância da cooperação em crises geopolíticas. À medida que o conflito se desenrola, a indústria aérea deverá manter vigilância rigorosa e flexibilidade máxima, preparando-se para um possível redesenho permanente das rotas e protocolos de segurança no Oriente Médio. Assim, segurança, adaptação e cooperação serão os pilares para a continuidade dos serviços aéreos em tempos de crise.
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