Retomada das Negociações em Doha

Policiais congoleses patrulham de caminhonete próximo ao monumento histórico de Butembo, na RDC, em 1º de abril de 2025.
Policiais congoleses patrulham uma avenida próxima ao monumento histórico de Butembo, no nordeste da República Democrática do Congo. 1º de abril de 2025. REUTERS/Gradel Muyisa Mumbere

Em 3 de maio de 2025, a República Democrática do Congo (RDC) e os rebeldes M23, apoiados por Ruanda, retomaram em Doha, Qatar, as conversas para pôr fim ao conflito no leste congolesa. Fontes envolvidas dizem que o ambiente é positivo, mas que desafios práticos persistem: o M23 enviou uma delegação de escalão inferior e reclama da falta de poder decisório dos representantes do governo em Doha.

Panorama Humanitário e Militar

  • Mortes e deslocamentos: Segundo a ONU, os confrontos recentes em North Kivu deslocaram pelo menos 30.000 pessoas desde 2 de maio. Em outra estimativa, o conflito intensificado matou cerca de 3.000 pessoas e já afetou mais de 7 milhões de civis na região.
  • Situação de segurança: Apesar de compromissos públicos de cessar‑fogo e proibição de discurso de ódio, tropas do governo e combatentes do M23 continuam em enfrentamentos intermitentes.

Principais Pontos de Contato

PontoDescrição
Cessar-fogoAmbas as partes reafirmaram compromisso de interromper hostilidades, mas nem sempre cumprem no terreno.
Liberação de detidosO M23 exige soltura de prisioneiros como medida de confiança. Kinshasa admite possibilidade de anistia em casos específicos.
Mandato dos negociadoresReclamações sobre falta de poderes de decisão da equipe governamental atrasam acordos técnicos.
Propostas de pazRecentemente, Congo e Ruanda submeteram um projeto de proposta de paz em iniciativa liderada pelos EUA, com previsão de assinatura em Washington até meados de junho.

Envolvimento dos EUA e Questão dos Minerais

Os Estados Unidos, por meio do conselheiro Massad Boulos, pressionam por um acordo de paz atrelado a bilaterais econômicas para exploração de minerais críticos na RDC e em Ruanda, a serem finalizados até julho. Após fechar um pacto de minerais com a Ucrânia, Washington volta seu foco aos minerais do Grande Lago, como estanho, tungstênio e coltan, essenciais para a indústria tecnológica.

Para saber mais sobre essa iniciativa, veja nosso artigo sobre o impulso dado pelos EUA ao acordo de paz entre a RD Congo e Ruanda.

Papel do Qatar e da ONU

  • Mediação do Qatar: Desde março, quando promoveu encontro-surpresa entre Felix Tshisekedi e Paul Kagame, o Qatar atua como facilitador central.
  • Monitoramento da ONU: A Missão das Nações Unidas na RDC (MONUSCO) permanece em alerta, fornecendo relatórios de deslocamento e coordenando ajuda humanitária.

Desafios e Perspectivas

  1. Desconfiança mútua: Décadas de conflito geram resistência interna a concessões reais.
  2. Fragmentação de grupos: Outros grupos armados podem não aderir ao acordo M23‑governo.
  3. Implementação: A experiência de acordos anteriores, como em Goma, mostra risco de falha na fase prática sem supervisão robusta.

Contudo, a convergência de interesses — humanitário, diplomático e econômico — pode criar um momento decisivo. A expectativa é que, com o apoio de garantias internacionais e pacotes de investimento, se estabeleça um cessar‑fogo sustentável e se abra caminho para a reconstrução da região.

Conclusão

A retomada das negociações em Doha marca um novo capítulo em um dos conflitos mais prolongados e complexos da África. Embora obstáculos persistam — como a ausência de medidas concretas de confiança e a continuidade dos confrontos — a presença de mediadores internacionais e o interesse estratégico de potências como os Estados Unidos oferecem uma rara oportunidade de progresso. Se bem conduzido, o processo pode não apenas silenciar as armas no leste congolês, mas também transformar a região em um polo de estabilidade e desenvolvimento com impacto direto na geopolítica dos recursos minerais.

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