
Em 3 de maio de 2025, a República Democrática do Congo (RDC) e os rebeldes M23, apoiados por Ruanda, retomaram em Doha, Qatar, as conversas para pôr fim ao conflito no leste congolesa. Fontes envolvidas dizem que o ambiente é positivo, mas que desafios práticos persistem: o M23 enviou uma delegação de escalão inferior e reclama da falta de poder decisório dos representantes do governo em Doha.
Panorama Humanitário e Militar
- Mortes e deslocamentos: Segundo a ONU, os confrontos recentes em North Kivu deslocaram pelo menos 30.000 pessoas desde 2 de maio. Em outra estimativa, o conflito intensificado matou cerca de 3.000 pessoas e já afetou mais de 7 milhões de civis na região.
- Situação de segurança: Apesar de compromissos públicos de cessar‑fogo e proibição de discurso de ódio, tropas do governo e combatentes do M23 continuam em enfrentamentos intermitentes.
Principais Pontos de Contato
Ponto | Descrição |
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Cessar-fogo | Ambas as partes reafirmaram compromisso de interromper hostilidades, mas nem sempre cumprem no terreno. |
Liberação de detidos | O M23 exige soltura de prisioneiros como medida de confiança. Kinshasa admite possibilidade de anistia em casos específicos. |
Mandato dos negociadores | Reclamações sobre falta de poderes de decisão da equipe governamental atrasam acordos técnicos. |
Propostas de paz | Recentemente, Congo e Ruanda submeteram um projeto de proposta de paz em iniciativa liderada pelos EUA, com previsão de assinatura em Washington até meados de junho. |
Envolvimento dos EUA e Questão dos Minerais
Os Estados Unidos, por meio do conselheiro Massad Boulos, pressionam por um acordo de paz atrelado a bilaterais econômicas para exploração de minerais críticos na RDC e em Ruanda, a serem finalizados até julho. Após fechar um pacto de minerais com a Ucrânia, Washington volta seu foco aos minerais do Grande Lago, como estanho, tungstênio e coltan, essenciais para a indústria tecnológica.
Para saber mais sobre essa iniciativa, veja nosso artigo sobre o impulso dado pelos EUA ao acordo de paz entre a RD Congo e Ruanda.
Papel do Qatar e da ONU
- Mediação do Qatar: Desde março, quando promoveu encontro-surpresa entre Felix Tshisekedi e Paul Kagame, o Qatar atua como facilitador central.
- Monitoramento da ONU: A Missão das Nações Unidas na RDC (MONUSCO) permanece em alerta, fornecendo relatórios de deslocamento e coordenando ajuda humanitária.
Desafios e Perspectivas
- Desconfiança mútua: Décadas de conflito geram resistência interna a concessões reais.
- Fragmentação de grupos: Outros grupos armados podem não aderir ao acordo M23‑governo.
- Implementação: A experiência de acordos anteriores, como em Goma, mostra risco de falha na fase prática sem supervisão robusta.
Contudo, a convergência de interesses — humanitário, diplomático e econômico — pode criar um momento decisivo. A expectativa é que, com o apoio de garantias internacionais e pacotes de investimento, se estabeleça um cessar‑fogo sustentável e se abra caminho para a reconstrução da região.
Conclusão
A retomada das negociações em Doha marca um novo capítulo em um dos conflitos mais prolongados e complexos da África. Embora obstáculos persistam — como a ausência de medidas concretas de confiança e a continuidade dos confrontos — a presença de mediadores internacionais e o interesse estratégico de potências como os Estados Unidos oferecem uma rara oportunidade de progresso. Se bem conduzido, o processo pode não apenas silenciar as armas no leste congolês, mas também transformar a região em um polo de estabilidade e desenvolvimento com impacto direto na geopolítica dos recursos minerais.
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