
Desde outubro de 2023, Israel enfrenta um dilema: priorizar a libertação dos reféns em Gaza ou persistir na chamada “guerra eterna” liderada pelo primeiro‑ministro Benjamin Netanyahu. A decisão de março de 2025 de encerrar unilateralmente o cessar‑fogo — abortando um acordo que traria prisioneiros em troca de uma trégua — ampliou rachaduras internas e intensificou protestos de reservistas e civis.
Decisão de Netanyahu e seus efeitos
- Objetivo oficial: derrota completa do Hamas e neutralização de sua infraestrutura em Gaza.
- Rompimento do cessar‑fogo: Netanyahu suspendeu em 29 de março um acordo mediado por Catar e ONU, priorizando ganhos militares sobre a troca de reféns — movimento criticado como motivado por interesses políticos pessoais, e não de segurança.
- Reação: famílias de reféns perderam esperança de retorno vivo, alimentando mobilizações públicas.
Exaustão e recusa de reservistas
Estatísticas recentes
- Em 8 de maio, o Ministério de Saúde de Gaza reportou 52.760 mortes de civis palestinos desde o início da ofensiva, intensificando o clamor humanitário por troca de prisioneiros
- Rádio estatal Kan estimou que apenas 60% dos reservistas convocados atenderam ao chamado, não os 80% divulgados oficialmente
Cartas abertas e protestos
- Abril de 2025: oficiais da Força Aérea, Marinha e Mossad publicaram cartas acusando Netanyahu de usar a guerra para fins políticos e pessoais, e não por segurança nacional.
- Milhares protestaram em Tel Aviv contra a convocação de mais 60 000 reservistas, com o slogan “reféns ou guerra?”.
Divisões políticas e sociais
Pressão da extrema‑direita e coalizão fragilizada
- Partidos ultranacionalistas condicionam permanência na coalizão à vitória total; ameaçam derrubar o governo se houver cessar‑fogo sem conquista de Gaza.
- A isenção de serviço militar dos Haredi, considerada ilegal pela Suprema Corte em junho de 2024, permanece não implementada, gerando ressentimento secular
Conflitos no parlamento
- Ex‑ministro da Defesa Yoav Gallant rompeu com Netanyahu ao defender a libertação dos reféns como prioridade, resultando em embates acalorados na Knesset.
- Discurso tóxico: relatos de insultos a familiares de prisioneiros por políticos de extrema‑direita, corroendo princípios cívicos e religiosos tradicionais.
Crise humanitária e críticas internacionais
- Mais de 52 760 civis palestinos mortos, muitos mulheres e crianças; infraestrutura de saúde e abastecimento em colapso, com risco de fome iminente.
- ONU e Cruz Vermelha alertam para crise de desnutrição; plano de assistência militarizada sob crítica de implicar humanitários em potenciais crimes de guerra.
Cenários para o futuro
Cenário | Descrição | Probabilidade¹ |
---|---|---|
Cessar‑fogo negociado | Troca de reféns por trégua prolongada | Baixa |
Ocupação e controle parcial | Operação para controle de Gaza por setores, com deslocamento civil | Média |
Guerra de atrito prolongada | Conflito sem fim claro, aprofundando rupturas internas | Alta |
Conclusão
O impasse entre libertar reféns e manter a guerra eterna espelha uma crise de liderança e propósito em Israel. Netanyahu, ao priorizar ganhos militares, fortalece apoio ultranacionalista e adia sua crise judicial interna. Entretanto, o desgaste dos reservistas e o clamor humanitário ameaçam a coesão social e a legitimidade do governo. Sem uma estratégia clara para o “dia depois” em Gaza, o conflito tende a se arrastar, com consequências imprevisíveis para a segurança regional e o tecido democrático israelense.
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