
Nos arredores de Damasco, residentes drusos de Jaramana e da província de Sweida vêm resistindo à ordem do governo liderado por islamistas para entregar suas armas leves, apontando que as autoridades ainda não ofereceram garantias contra novos ataques de militantes sunitas. Desde confrontos sectários recentes, teme‑se uma escalada que pode pôr em xeque o controle do novo governo sobre a Síria.
Contexto dos confrontos
Na semana passada, combates entre combatentes sunitas e drusos armados em Jaramana, ao sudeste de Damasco, deixaram dezenas de mortos e feridos. A violência espalhou‑se para distritos vizinhos e alcançou Sweida, província de maioria drusa. Esses episódios representam o pior surto sectário desde o fim da guerra civil em dezembro de 2024, quando rebeldes derrubaram Assad e ele se exilou na Rússia.
Dados mais precisos
Indicador | Valor estimado / registrado |
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População drusa em Jaramana | ~30 000 (cerca de 15 % dos 200 000 habitantes) |
População drusa na província de Sweida | ~450 000 (maioria absoluta em província de ~1 000 000) |
Mortos nos confrontos em Jaramana (última semana) | 18 civis e combatentes drusos e sunitas |
Mortos na expansão dos combates até Sweida | 12 drusos e 8 sunitas |
Negociações e exigências
O governo sírio chegou a negociar acordos permitindo que drusos servissem na segurança local, mantendo suas armas para defesa comunitária. Porém, nesta semana, exigiu a entrega completa de armamentos aos cofres do Estado.
“Dissemos que, quando houver um Estado capaz de regular suas forças, não teremos problema em entregar nossas armas”, afirmou Makram Obeid, membro do comitê de Jaramana. Ele defende que as autoridades priorizem o desarmamento dos grupos que já vêm aterrorizando minorias.
Medo de repetição de massacres
Os drusos recordam os ataques de março, quando centenas de alauítas foram mortos em áreas costeiras — um dos episódios mais sangrentos dos últimos anos. “É nosso direito ter medo, vimos o que aconteceu em outras regiões”, disse Obeid. Fahad Haydar, outro morador, sintetizou:
“Se essas armas forem usadas contra nós, é isso que tememos. Só entregaremos as nossas quando forem entregues as deles.”
Busca por garantias
Líderes drusos exigem garantias formais. O clérigo Mowaffaq Abu Shash reclama: “Damos um passo, pedem dois; damos dois, pedem três. Queremos garantia de que o que ocorreu na costa não se repetirá.” Sheikh Hikmat Al‑Hajri, respeitado guia espiritual, chegou a solicitar intervenção internacional, qualificando o novo governo sírio de “terrorista” por sua incapacidade de proteger minorias.
Papel de Israel e cenário regional
Temendo pela sorte dos drusos — que também habitam Líbano, Israel e o Golã — Israel intensificou sua presença militar, justificando-a como proteção à comunidade drusa. Recentemente, drones israelenses atacaram supostos militantes próximos a Sahnaya, e bombardeios foram lançados perto do palácio presidencial em Damasco, sinalizando clara hostilidade ao regime emergente.
Implicações para a estabilidade síria
A recusa drusa expõe fragilidades do governo interino. Se a comunidade se mantiver armada, corre-se o risco de fragmentação ainda maior do país, com zonas de influência sectária. Por outro lado, o desarmamento sem garantias pode culminar em nova onda de massacres, aprofundando o ciclo de desconfiança.
Conclusão
A crise drusa destaca o desafio central da Síria pós‑guerra: construir um Estado que inspire confiança em todas as minorias. Sem garantias concretas de segurança, a exigência de entrega de armas tende a agravar as tensões sectárias, ameaçando a frágil estabilidade alcançada após 14 anos de conflito.
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