Eslováquia condicionaliza sanções da UE contra a Rússia em defesa de seus interesses

Primeiro-ministro da Eslováquia Robert Fico chegando à Cúpula da UE em Bruxelas, 28 de junho de 2016.
Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia, chega à Cúpula da União Europeia em Bruxelas, Bélgica, em 28 de junho de 2016. REUTERS/Pascal Rossignol/File Photo

Em 8 de junho de 2025, o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico anunciou que Bratislava vetará qualquer novo pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia caso estes prejudiquem seus “interesses nacionais”, após o Parlamento aprovar uma resolução nesse sentido. A medida expõe uma tensão crescente entre a Eslováquia e a maioria dos Estados-membros da UE, suscitando debate sobre coesão do bloco, soberania nacional e segurança energética.

Posição de Robert Fico e linha do governo


Desde que retornou ao poder em dezembro de 2024, Fico – líder do partido SMER-SD (social-democrata de orientação nacionalista) – tem distanciado a Eslováquia da política de apoio irrestrito à Ucrânia. Sua coalizão suspendeu o envio oficial de ajuda militar a Kiev e questiona o impacto econômico das sanções russas, argumentando que penalizam mais a Eslováquia e a própria UE do que Moscou.

A resolução parlamentar de 5 de junho

A resolução, aprovada por apenas 51 deputados em sessão pouco concorrida, recomenda ao governo que se abstenha de votar a favor de novas sanções ou limitações comerciais contra a Rússia. Embora não seja juridicamente vinculante, ela estabelece um firme compromisso político de não apoiar medidas que possam, por exemplo, impedir a importação de combustível russo para as usinas nucleares eslovacas.

Dependência energética e sanções

A Eslováquia opera duas usinas nucleares de tecnologia russa e mantém contratos de gás com Moscou válidos até 2034. Fico classifica como “absolutamente inaceitável” o plano da Comissão Europeia de banir novos contratos de gás até 2025 e encerrar os existentes até 2027, alertando para o aumento de preços e risco de desabastecimento. Essa posição alinha Bratislava a países como Hungria, que também dependem fortemente do gás russo.

Reações em Bruxelas e dinâmica de veto

O Tratado da UE exige consenso unânime para decisões sobre sanções, conferindo a cada membro o poder de veto. Em março de 2025, Fico chegou a ameaçar bloquear as conclusões de um cume europeu caso não incluíssem menção à renovação do trânsito de gás russo pela Ucrânia – menção essa que acabou inserida no texto final para viabilizar seu apoio. A exigência mostra como a Eslováquia explora o mecanismo de veto para defender prioridades nacionais.

Influência nas delistagens de sanções

Em meados de março, sob pressão de Bratislava e Budapeste, a UE concordou em remover três nomes da lista de sanções (incluindo o ministro dos Esportes russo Mikhail Degtyaryov) em troca da prorrogação das demais restrições. O acordo, selado em 14 de março, evidenciou o impacto político dos dois países na agenda de sanções europeias.

Reação interna e protestos

A política de Fico gerou forte mobilização popular. Entre janeiro e março de 2025, dezenas de milhares de eslovacos saíram às ruas em Bratislava e em ao menos 40 outras cidades, sob o lema “Eslováquia é Europa”, exigindo alinhamento mais firme com o Ocidente e a renúncia do premiê. Enquanto isso, setores industriais e rurais, mais vulneráveis ao impacto dos preços de energia, apoiam a cautela governamental.

Conclusão

Ao condicionar seu apoio às sanções a “interesses nacionais”, a Eslováquia liderada por Fico desafia a lógica de solidariedade coletiva da UE. O uso estratégico do veto e a pressão por cláusulas de trânsito de gás expõem lacunas na governança europeia e podem inspirar outros Estados a adotar táticas semelhantes. Resta à UE equilibrar coesão interna, transição energética e resposta unificada ao conflito russo-ucraniano, sob o risco de ver sua eficácia comprometida por interesses nacionais conflitantes.

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