
Em entrevista ao programa This Week da ABC, o enviado especial do presidente Trump, Steve Witkoff, estabeleceu uma linha vermelha irredutível para qualquer negociação com o Irã: a proibição total do enriquecimento de urânio. A postura, alinhada à estratégia de pressão máxima da administração americana, foi prontamente rechaçada por Teerã, evidenciando um desalinhamento profundo entre as partes.
Contextualização Técnica
O enriquecimento de urânio consiste na elevação da porcentagem de isótopo U‑235, originalmente inferior a 1%, até níveis que podem variar entre 3–5% para uso civil e cerca de 90% para fins militares. É justamente essa capacidade de atingir concentrações bélicas que motiva o receio internacional e fundamenta a “linha vermelha” norte-americana.
Linha Vermelha Americana
Witkoff foi enfático:
“Temos uma linha vermelha muito, muito clara, e essa é a questão do enriquecimento. Não podemos permitir sequer 1% de capacidade de enriquecimento. Tudo começa, do ponto de vista da administração Trump, com um acordo que não inclua qualquer enriquecimento. Não podemos ter isso. Porque o enriquecimento viabiliza a militarização. E não permitiremos que uma bomba chegue aqui.”
Sua declaração reforça que, do ponto de vista de Washington, nenhum nível de enriquecimento é aceitável em um futuro acordo nuclear.
Reação Iraniana
O vice‑ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, declarou via agência Tasnim:
“Expectativas irrealistas interrompem as negociações; o enriquecimento no Irã não é algo que possa ser detido. Acho que ele [Witkoff] está completamente distante da realidade das negociações.”
Araqchi reafirmou que o enriquecimento continuará sob supervisão nacional e internacional, destacando a visão iraniana de seu programa nuclear como direito soberano.
Andamento das Negociações
Apesar do impasse, há movimentações diplomáticas recentes:
- Apresentação de proposta escrita: Em 15 de maio, o governo Trump entregou ao Irã uma proposta formal por escrito, descrita por Witkoff como “elegante” e de grande abrangência, com o objetivo de clarificar as condições americanas para um acordo (incluindo a cláusula de não‑enriquecimento).
- Rodada em Istambul: Na sexta‑feira, 16 de maio, representantes iranianos e europeus (França, Reino Unido e Alemanha) reuniram‑se em Istambul para debater o caminho de volta ao acordo de 2015.
- Próxima reunião: Witkoff afirmou que um novo encontro deverá ocorrer na Europa ainda nesta semana, sem data ou local definidos oficialmente.
Implicações Geopolíticas
A insistência americana em banir totalmente o enriquecimento visa não apenas mitigar riscos de proliferação, mas também fortalecer a aliança estratégica com aliados regionais, como Israel e Arábia Saudita. Já o Irã busca preservar sua autossuficiência energética e científica, além de sinalizar resistência a pressões externas.
Conclusão
O abismo estratégico entre Washington e Teerã em torno do enriquecimento de urânio permanece o principal obstáculo para um novo acordo nuclear. Embora recentes reuniões e a entrega de uma proposta formal indiquem avanço na diplomacia, o êxito dependerá da capacidade dos mediadores europeus em construir mecanismos de confiança e garantias técnicas que acomodem as preocupações de segurança dos EUA sem inviabilizar o direito iraniano ao uso pacífico da energia nuclear.
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