Marcos e Trump: Em busca de um acordo comercial estratégico

Presidente filipino Ferdinand Marcos Jr. discursando em evento oficial em Washington durante visita para negociações comerciais com os Estados Unidos em julho de 2025.
Presidente Ferdinand Marcos Jr

O presidente filipino Ferdinand Marcos Jr. realiza, entre 20 e 22 de julho de 2025, sua primeira visita oficial aos Estados Unidos desde o início do segundo mandato de Donald Trump, com a missão de negociar um acordo comercial e reforçar laços de defesa em face de novas tarifas americanas sobre exportações filipinas

Contexto das Tarifas e Prazos

Em abril de 2025, o governo americano anunciou uma tarifa de 20% sobre produtos importados das Filipinas, que entrará em vigor em 1º de agosto de 2025, acima dos 17% propostos inicialmente . O aumento afetará principalmente os setores de semicondutores e componentes eletrônicos—responsáveis por cerca de 25% das exportações filipinas para os EUA em 2024 .

Marcos chega a Washington com prazo curto para negociar a reversão ou flexibilização dessas tarifas, usando como argumento a longa aliança de defesa entre os dois países e a posição estratégica das Filipinas no Indo‑Pacífico.

Desempenho e Desequilíbrio Comercial

  • Volume de comércio bilateral (2024): US$ 37,2 bi em exportações filipinas, com déficit de US$ 4,9 bi em relação às importações dos EUA .
  • Destino das exportações: 16,6% das vendas externas das Filipinas têm os EUA como mercado .
  • Investimento estrangeiro direto (IED): US$ 3,0 bi aportados pelos EUA em 2024 (P165,9 bi pesos filipinos).

A imposição das tarifas americanas já começa a gerar preocupações internas nas Filipinas. Setores como semicondutores, eletrônicos e manufatura, que representam uma parcela significativa do emprego industrial no país, enfrentam riscos concretos de redução de produção e demissões caso o acesso ao mercado americano se torne mais oneroso. Comunidades dependentes dessas cadeias produtivas podem sofrer retração econômica local, aumento do desemprego e impacto na renda familiar. Essa pressão social adiciona urgência às negociações de Marcos, que busca minimizar efeitos adversos no tecido econômico e social do país.

Para reduzir o déficit e demonstrar reciprocidade, Marcos propôs a eliminação de tarifas sobre produtos selecionados americanos, como bens agrícolas e maquinaria leve . Especialistas, porém, alertam que isso pode não ser suficiente para compelir Washington a recuar da alíquota de 20%.

Agenda de Defesa e Segurança Regional

Além da pauta comercial, a visita inclui encontros com a cúpula do Departamento de Estado e do Pentágono:

  • Secretário de Estado: Marco Rubio
  • Secretário de Defesa: Pete Hegseth

O foco desses diálogos será o fortalecimento do Acordo de Cooperação de Defesa Ampliada (EDCA), que permite maior acesso de tropas e equipamentos americanos a bases filipinas, vital para conter a crescente assertividade chinesa no Mar do Sul da China.

Perspectiva Geopolítica e Regional

  1. Indo‑Pacífico: As Filipinas intensificam parcerias com EUA, Japão e Austrália para criar um sistema multilateral de dissuasão contra reivindicações chinesas .
  2. ASEAN 2026: Com a presidência rotativa da Associação das Nações do Sudeste Asiático em 2026, Marcos pretende usar essa plataforma para avançar um Código de Conduta juridicamente vinculante no Mar do Sul da China .
  3. Cúpula do Leste Asiático 2026: Convidado especial, Donald Trump poderá participar do fórum sediado em Manila, reforçando o papel das Filipinas como ponte entre EUA e ASEAN.

Perspectivas para um Acordo de Livre‑Comércio (FTA)

Em paralelo, o embaixador filipino em Washington, José Manuel Romualdez, anunciou intenção de retomar negociações para um Acordo de Livre‑Comércio bilateral, até então interrompidas em 2016 . O objetivo é estabelecer um marco jurídico de longo prazo que supere o simples ajuste tarifário, abrangendo investimentos, propriedade intelectual e padrões sanitários.

Conclusão

A missão de Ferdinand Marcos Jr. nos EUA representa um momento decisivo para as Filipinas. A combinação de urgência fiscal—devido às novas tarifas—e a importância estratégica na região Indo‑Pacífico confere ao encontro com Donald Trump relevância tanto econômica quanto geopolítica. O desfecho dessas negociações poderá redefinir a dinâmica comercial entre os dois países e consolidar, ou não, a aliança militar que serve de contrapeso à crescente influência chinesa.

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