G7 Fecha Acordo “Lado‑a‑Lado” para Excluir Empresas dos EUA e do Reino Unido de Tributos Globais

Homem caminha em frente às bandeiras dos países do G7 no Manoir Richelieu antes da cúpula dos Ministros das Relações Exteriores em La Malbaie, Quebec, Canadá, em 12 de março de 2025.
Homem passa diante das bandeiras do G7 no Manoir Richelieu, local da cúpula dos chanceleres do grupo, em La Malbaie, Quebec (12.mar.2025). Foto: Mathieu Belanger/Reuters

Em 28 de junho de 2025, sob a presidência rotativa do Canadá, os ministros das Finanças do G7 — Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos — anunciaram um mecanismo “lado‑a‑lado” para isentar grandes empresas dos EUA e do Reino Unido de componentes específicos do Pilar Dois, o acordo global de imposto mínimo de 15%. Em contrapartida, Washington removeu a Seção 899 — a chamada “taxa de vingança” — do projeto de lei “One Big Beautiful Bill”, acalmando temores sobre retaliações fiscais bilaterais.

Contexto e histórico do Pilar Dois

  • Acordo original: Em outubro de 2021, quase 140 países — incluindo as sete nações do G7 — aprovaram na OCDE o Pilar Dois, estabelecendo 15% de alíquota mínima para multinacionais com faturamento acima de € 750 milhões, objetivando frear a erosão da base tributária e a transferência artificial de lucros para jurisdições de baixa tributação.
  • Retirada americana: Em janeiro de 2025, o presidente Donald Trump assinou ordem executiva declarando que os EUA não aplicariam o Pilar Dois em solo nacional, ameaçando ainda retaliar com a Seção 899 (“taxa de vingança”) contra países que impusessem o mínimo global sobre empresas dos EUA .

O mecanismo “lado‑a‑lado”

  • Princípio básico: O “lado‑a‑lado” compara o imposto mínimo interno pago pelas multinacionais nos EUA (e no Reino Unido) com o que seria devido sob o Pilar Dois. Se o tributo doméstico for igual ou superior a 15%, não haverá cobrança adicional internacional, evitando bitributação.
  • Reconhecimento mútuo: Além de preservar a soberania fiscal americana e britânica, o G7 enfatiza que o mecanismo fortalece a previsibilidade e a estabilidade do sistema tributário global.

Retirada da Seção 899 e reações oficiais

  • Seção 899: Proposta pelos republicanos no “One Big Beautiful Bill”, permitiria aplicar até 41% de impostos sobre dividendos, juros e royalties de empresas estrangeiras, em retaliação a países que taxassem empresas americanas.
  • EUA: O secretário do Tesouro Scott Bessent recomendou ao Congresso a exclusão da Seção 899, destacando que o acordo “protege interesses norte‑americanos e facilita a cooperação multilateral” .
  • Reino Unido: A ministra das Finanças Rachel Reeves celebrou o pacto, afirmando que ele traz “certeza e estabilidade” para empresas britânicas, mas reforçou a necessidade de avançar no combate à elisão e à evasão fiscais.

Benefícios e estimativas de impacto

  • Alívio imediato: Bancos, gigantes de tecnologia e indústrias globais ganham maior previsibilidade para decidir investimentos de longo prazo.
  • Economia projetada: Estimativas do Financial Times apontam que empresas americanas poderão poupar cerca de US$ 100 bilhões em tributos internacionais ao longo da próxima década graças à remoção da “taxa de vingança”.

Críticas e desafios

  • Risco de enfraquecimento do Pilar Dois: Organizações como Tax Justice Network e especialistas — incluindo Joseph Stiglitz — alertam que a carve‑out dos EUA pode minar a eficácia do acordo global e favorecer desproporcionalmente corporações americanas.
  • Aprovação internacional: A solução “lado‑a‑lado” ainda depende de regulamentação e aceitação pelos demais 147 países do Inclusive Framework da OCDE. Sem um consenso global, persiste o risco de discrepâncias e planejamentos tributários agressivos.

Próximos passos na governança tributária global

  • Implementação no Inclusive Framework: Harmonizar o mecanismo com as normas do Pilar Dois para todas as nações participantes.
  • Reforço de normas antiabuso: Criar disposições que impeçam empresas de explorar brechas entre regimes domésticos e internacionais.
  • Mecanismos de resolução de disputas: Estabelecer procedimentos claros para dirimir conflitos de interpretação entre jurisdições.

Conclusão

O acordo “lado‑a‑lado” selado pelo G7 em 28 de junho de 2025 representa um êxito diplomático imediato para EUA e Reino Unido, ao mitigar riscos de retaliações fiscais. Todavia, o verdadeiro teste será traduzir esse entendimento em regras universais e coesas, garantindo que o Pilar Dois cumpra seu propósito de tornar o sistema tributário global mais justo e transparente.

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