Índia e Emirados Árabes Criam Polo de Energia no Sri Lanka em Meio à Intensificação da Rivalidade com a China

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente do Sri Lanka, Anura Kumara Dissanayake, acompanham os hinos nacionais de seus países durante a cerimônia de boas-vindas a Modi na Praça da Independência em Colombo, Sri Lanka, em 5 de abril de 2025. Foto: REUTERS/Thilina Kaluthotage
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente do Sri Lanka, Anura Kumara Dissanayake, acompanham os hinos nacionais de seus países durante a cerimônia de boas-vindas a Modi na Praça da Independência em Colombo, Sri Lanka, em 5 de abril de 2025. Foto: REUTERS/Thilina Kaluthotage

Em um movimento que reflete a crescente rivalidade estratégica na região do Oceano Índico, a Índia e os Emirados Árabes Unidos firmaram um acordo para desenvolver um polo de energia no Sri Lanka. A iniciativa, anunciada durante a visita do primeiro-ministro indiano Narendra Modi a Colombo – a primeira visita de um líder global desde a posse do presidente Anura Kumara Dissanayake – marca um novo capítulo na disputa de influência entre Nova Délhi e Pequim.

Um Acordo Estratégico em Meio a Desafios Econômicos

O acordo para o desenvolvimento do polo de energia surge em um momento crítico para o Sri Lanka, que ainda se recupera de uma severa crise financeira desencadeada em 2022. Durante esse período, a Índia desempenhou um papel crucial ao fornecer US$ 4 bilhões em assistência financeira, contribuindo para a estabilização econômica do país. Agora, o desenvolvimento do hub energético visa não apenas impulsionar a segurança energética do Sri Lanka, mas também consolidar os laços com Nova Délhi e os Emirados Árabes Unidos.

Por Que o Sri Lanka é Tão Disputado Geopoliticamente?

Localizado no coração do Oceano Índico, o Sri Lanka é uma peça-chave no tabuleiro geopolítico devido à sua posição estratégica. Suas águas servem como uma rota vital para o comércio global e sua proximidade com importantes mercados regionais o torna um campo de disputa entre grandes potências. A influência da China, por exemplo, é evidente com investimentos significativos em infraestrutura, como a construção de uma refinaria de US$ 3,2 bilhões na cidade portuária de Hambantota. Em contrapartida, a Índia tem investido na região – com um projeto solar de US$ 100 milhões e sua participação no desenvolvimento do hub energético – enquanto o país enfrenta uma dívida de aproximadamente US$ 1,36 bilhão junto a instituições indianas. Esses números ilustram a disputa acirrada entre potências que buscam expandir sua influência no Mar do Índico.

Detalhes do Projeto e Localização Estratégica

O polo de energia será desenvolvido na cidade de Trincomalee, na costa leste do Sri Lanka, famosa por seu porto natural. Esse local é particularmente estratégico, pois sua posição facilita o acesso às rotas marítimas globais. Segundo o secretário de Relações Exteriores da Índia, Vikram Misri, o projeto envolverá a construção de um oleoduto multiproduto e poderá incluir a utilização de uma antiga instalação de tanques de armazenamento da Segunda Guerra Mundial, atualmente parcialmente detida pela subsidiária local da Indian Oil Corp.

Misri afirmou:

“Os Emirados Árabes Unidos são parceiros estratégicos da Índia no setor energético, e sua participação neste projeto é essencial para reforçar nossa posição no Oceano Índico. Os detalhes exatos serão definidos em futuras discussões empresariais.”

Rivalidade com a China e a Concorrência Regional

O novo projeto assume especial relevância quando se considera que a China, através de sua estatal Sinopec, investe pesadamente na refinaria de Hambantota. Essa concorrência direta evidencia a disputa por influência na região, com a Índia buscando contrabalançar as ambições chinesas. Especialistas em segurança regional afirmam que esse investimento não só fortalecerá a presença geopolítica da Índia, mas também garantirá rotas estratégicas essenciais para o comércio e a segurança energética.

Impacto Econômico e Conectividade Regional

Além do polo de energia, Modi inaugurou um projeto solar de US$ 100 milhões, uma joint venture entre a Ceylon Electricity Board e a National Thermal Power Corp da Índia, reforçando o compromisso com o desenvolvimento sustentável no Sri Lanka. Adicionalmente, a conclusão do processo de reestruturação da dívida – com o Sri Lanka devendo aproximadamente US$ 1,36 bilhão ao EXIM Bank of India e ao State Bank of India – e a assinatura de acordos em áreas como conectividade de rede elétrica, digitalização, segurança e saúde, demonstram a abrangência dos laços estratégicos entre Índia e Sri Lanka.

Análise de Especialistas e Citações Adicionais

O analista de segurança Dr. Ravi Kumar observa:

“O desenvolvimento deste hub energético pode ser interpretado como uma resposta à crescente influência chinesa na região. Investimentos assim não só asseguram a segurança energética, mas também reforçam a presença estratégica da Índia no Mar do Índico.”

Essa análise destaca que a parceria entre Índia, EAU e Sri Lanka é parte de uma estratégia mais ampla para contrabalançar o poder chinês, em um cenário onde a disputa por rotas marítimas e segurança energética é cada vez mais intensa.

Conclusão

O acordo para o desenvolvimento do polo de energia em Trincomalee vai além de um simples investimento em infraestrutura – ele simboliza a intensificação da disputa geopolítica no Oceano Índico. Enquanto a China expande sua influência por meio de investimentos maciços, a iniciativa liderada por Índia e Emirados Árabes Unidos busca fortalecer uma rede de parcerias estratégicas e garantir a segurança energética e comercial na região.
Observadores internacionais alertam que, sem um diálogo efetivo e mecanismos de cooperação, essas rivalidades podem aumentar as tensões e desestabilizar a região. O sucesso do hub dependerá não apenas de sua viabilidade econômica, mas também da capacidade dos países envolvidos de equilibrar interesses estratégicos e promover a estabilidade regional.

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