Crise Hídrica: Índia Suspende Tratado das Águas do Indo e Aumenta Tensão com o Paquistão

Vista aérea da Barragem de Kotri no rio Indo, em Jamshoro, Paquistão, abril de 2025.
Imagem de drone mostra a Barragem de Kotri sobre o rio Indo, em Jamshoro, Paquistão, em 26 de abril de 2025. — REUTERS/Stringer

Uma crise de grandes proporções ameaça intensificar a já frágil relação entre Índia e Paquistão. Após um ataque militante em Caxemira, a Índia decidiu suspender unilateralmente o Tratado das Águas do Indo de 1960, um acordo vital que regula o abastecimento de água entre os dois países. A decisão gerou pânico entre os agricultores paquistaneses e acendeu alertas sobre uma potencial crise humanitária e econômica de grande escala. Com mais de 240 milhões de pessoas dependendo diretamente dos rios afetados, a medida indiana é vista como um divisor de águas – literalmente – na dinâmica política e estratégica do sul da Ásia.

Impacto no campo paquistanês

Nas margens quase secas do rio Indo, o agricultor Homla Thakhur, de 40 anos, teme pela sobrevivência de sua plantação de 2 hectares em Latifabad, Sindh. “Se pararem a água, tudo vai virar deserto do Thar… vamos morrer de fome”, alerta enquanto recarrega seu pulverizador. Segundo especialistas, a escassez de chuvas na região agrava o cenário: o volume do rio, já reduzido, sustenta mais de 16 milhões de hectares de cultivo no Paquistão, incluindo algodão, cana-de-açúcar e trigo.

Aspectos legais e técnicos do tratado

O Tratado das Águas do Indo, assinado em 1960 sob mediação do Banco Mundial, dividiu o sistema fluvial: a Índia ficou com o uso dos Rios Orientais (Sutlej, Beas e Ravi) e o Paquistão com os Rios Ocidentais (Indus, Jhelum e Chenab). Apesar das limitações, a Índia podia construir usinas hidrelétricas sem armazenamento significativo nos rios destinados ao Paquistão. Agora, com a suspensão, o governo indiano já parou de compartilhar dados hidrológicos e alertas de enchentes, o que compromete seriamente o planejamento agrícola e de infraestrutura no Paquistão.

Janela de resposta e modernização

Economistas e analistas de segurança apontam que, embora a Índia não possa interromper o fluxo imediatamente, o país poderá desviar água para suas próprias fazendas através de novos canais nos próximos meses. Especialistas como Vaqar Ahmed enfatizam que o Paquistão precisa usar essa “janela crítica” para corrigir suas ineficiências, vazamentos e gestão hídrica ultrapassada – ou enfrentará consequências devastadoras.

Repercussões econômicas e humanitárias

O corte ou redirecionamento da água não afetaria apenas a agricultura, mas também a geração de energia hidrelétrica e o abastecimento urbano. Organizações como o Fórum Mundial da Água alertam para uma possível crise alimentar e migrações internas em larga escala. O especialista Ghasharib Shaokat destaca que “não há substituto imediato” para o Indo e seus afluentes, responsáveis por milhões de empregos e pela sobrevivência de grandes cidades.

Dimensão geopolítica e próximos passos

A suspensão do tratado, que resistiu a quatro guerras entre Índia e Paquistão, é vista como um movimento perigoso. Bilawal Bhutto Zardari, ex-chanceler paquistanês, advertiu que a medida “trava futuras gerações em um novo contexto de conflito”. Enquanto isso, o ministro indiano Chandrakant Paatil reafirma que a Índia não permitirá que “nenhuma gota” do Indo alcance o Paquistão, em resposta ao que considera apoio contínuo de Islamabad ao terrorismo transfronteiriço.
O Paquistão avalia recorrer à Corte Internacional de Justiça e pressiona fóruns multilaterais para buscar soluções diplomáticas. O Banco Mundial, embora signatário técnico do tratado, afirmou que não interfere em decisões soberanas dos países membros.

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