Rumo a um Acordo Histórico: Índia e União Europeia Buscam FTA Até o Fim de 2025

Primeiro-ministro Narendra Modi cumprimenta o presidente cipriota Nikos Christodoulides no Palácio Presidencial em Nicósia, Chipre, em 16 de junho de 2025.
Narendra Modi e Nikos Christodoulides após reunião oficial no Palácio Presidencial de Nicósia, 16 de junho de 2025. Foto: Iakovos Hatzistavrou/Pool via REUTERS.

Em visita oficial a Chipre em meados de junho de 2025, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi anunciou a expectativa de concluir um Acordo de Livre Comércio (FTA) com a União Europeia até 31 de dezembro deste ano. A declaração, feita em conjunto com o presidente cipriota Nikos Christodoulides, ocorre em um momento de intensificação do engajamento estratégico de Nova Déli com blocos econômicos e na esteira de iniciativas como o Corredor Índia-Oriente Médio-Europa (IMEC), projetado para reforçar laços comerciais e promover estabilidade regional.

Histórico das negociações

As conversas para uma parceria de livre comércio entre Índia e UE remontam a 2007, mas sofreram interrupções em 2013 e foram retomadas em 2022. Em março de 2025, as delegações realizaram a 10ª rodada de negociação em Bruxelas, com o compromisso mútuo de “surpreender” positivamente e finalizar o pacto até o fim do ano. O volume de comércio bilateral em bens atingiu €120 bilhões em 2024, reforçando a aposta de ambas as partes na urgência de um acordo com ganhos recíprocos para indústrias-chave, como automotiva, têxtil e farmacêutica.

A declaração em Chipre e o IMEC

Em 16 de junho, ao lado de Christodoulides, Modi declarou que as negociações estavam “direcionadas para finalizar um acordo mutuamente benéfico” ainda este ano. O primeiro-ministro também destacou o Corredor Índia-Oriente Médio-Europa (IMEC), plano que combina rotas marítimas e ferroviárias para conectar produtoras e mercados ao longo de três continentes, apontando-o como vetor de “paz e prosperidade” regional.

Chipre como porta de entrada e hub de transbordo

Como próxima presidente rotativa do Conselho da UE no primeiro semestre de 2026, Chipre ofereceu-se como entrada estratégica ao mercado europeu e hub de transbordo para mercadorias indianas. Christodoulides enfatizou os laços históricos via Commonwealth e a relevância geopolítica de ter um membro da UE alinhado ao projeto IMEC. A presidência cipriota buscará, ainda, fortalecer o diálogo UE-Índia em três pilares: projeção global, transições verde e digital, e democracia e Estado de Direito, incluindo medidas para gestão de migrações e inclusão de cipriotas de origem turca.

Roadmap para parceria estratégica

Em paralelo, em 16 de junho, Modi e Christodoulides anunciaram a elaboração de um roadmap bilateral para orientar o aprofundamento da cooperação em áreas como comércio, investimento, tecnologia, segurança e mobilidade profissional. A iniciativa visa dar “direção estratégica” à parceria, com metas concretas para os próximos anos.

Reconhecimento cerimonial e diplomático

Na cerimônia de recepção em Larnaca, Modi tornou-se o primeiro premiê indiano a visitar Chipre em mais de duas décadas e recebeu a comenda de maior prestígio do país, a Grã-Cruz da Ordem de Makários III, em reconhecimento à sua liderança na consolidação das relações bilaterais.

Avanços no Conselho de Comércio e Tecnologia (TTC)

No âmbito do India-EU Trade and Technology Council (TTC), reuniões recentes aprofundaram cooperação em tecnologias críticas — inteligência artificial, semiconductores, computação de alto desempenho e 6G — e em infraestrutura digital interoperável, como DPIs (Digital Public Infrastructures). Ambos lados também acordaram joint ventures em reciclagem de baterias para veículos elétricos, hidrogênio renovável e combate a plástico marinho, mobilizando cerca de €60 milhões em investimentos conjuntos.

Benefícios potenciais e desafios

Um FTA UE-Índia pode abrir mercados, reduzindo tarifas que hoje podem superar 100% em segmentos como automóveis e bebidas alcoólicas, enquanto impulsiona exportações indianas de têxteis, químicos e fármacos. Por outro lado, impasses em serviços, regras de origem e barreiras sanitárias e fitossanitárias ainda perduram. Acordos paralelos em proteção de investimentos e indicações geográficas podem servir de modelos para áreas sensíveis, mas exigirão flexibilidade e compromissos políticos elevados nos dois lados.

Nova dimensão de cooperação em defesa

A Comissão Europeia sinalizou ainda a exploração de uma parceria de segurança e defesa com a Índia, ao estilo das existentes com Japão e Coreia do Sul, cobrindo terrorismo transfronteiriço, segurança marítima e cibernética, além do potencial ingresso de empresas indianas em projetos de cooperação militar sob a Política Comum de Segurança e Defesa da UE. Essa dimensão estratégica reforça o caráter geopolítico do acordo.

Conclusão

Com prazos apertados até 31 de dezembro de 2025, as equipes de negociação deverão intensificar consultas técnicas e políticas. O sucesso do FTA dependerá de convergências em pontos-chave e do apoio político tanto em Nova Déli quanto em Bruxelas — cenário assinalado por eleições e pela presidência cipriota em 2026. Caso viabilizado, o pacto pode se tornar o maior acordo bilateral de comércio e investimento já firmado pela UE, inaugurando uma nova era na parceria estratégica entre Índia e Europa.

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