
Em 9 de junho de 2025, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmaeil Baghaei, anunciou que Teerã entregará em breve, por meio de Omã, uma contraproposta ao pacote apresentado pelos Estados Unidos, que consideram “inaceitável”. Segundo Baghaei, a iniciativa iraniana será “razoável, lógica e equilibrada”, garantindo benefícios econômicos concretos antes de qualquer suspensão de sanções.
Antecedentes do Acordo Nuclear
Após a saída unilateral dos EUA do Acordo de Viena de 2015 em maio de 2018, o Irã retomou e intensificou o enriquecimento de urânio, chegando mais perto dos patamares considerados críticos pela comunidade internacional.
- Relatório da AIEA (2 de junho de 2025): Em reunião em Cairo, o órgão revelou que Teerã acumulou 408,6 kg de urânio enriquecido até 60%, um salto de quase 50% desde fevereiro — um volume bem acima dos limites do JCPOA.
Detalhes da Proposta dos EUA
A oferta americana, apresentada em final de maio via Omã, contemplava:
- Enriquecimento restrito: Permissão para enriquecimento de baixo nível (até 3,67%) no solo iraniano por tempo limitado.
- Exportação gradativa: Envio do estoque atual de urânio enriquecido ao exterior.
- Fases de alívio de sanções: Listas claras de sanções a serem suspensas conforme o cumprimento de cada etapa.
- Verificação reforçada: Inspeções ampliadas da AIEA.
Porém, Teerã contestou ambiguidades nas garantias de retorno bancário imediato e na flexibilização comercial.
A Resposta e Contraproposta do Irã
Na visão iraniana, o pacote americano:
- Não assegura benefícios prévios: Exige provas de que as sanções financeiras e comerciais serão efetivamente suspensas antes do alívio.
- Questions sobre enriquecimento: Continua apontando barreiras ao direito iraniano de enriquecer urânio em seu território, mesmo para fins pacíficos.
Baghaei ressaltou que a contraproposta incluirá um esquema de liberação paralela de sanções e benefícios, além de cláusulas claras de desbloqueio de ativos e reestabelecimento imediato das relações bancárias.
Dimensão Regional e Israel
O Irã aproveitou o momento para acusar Israel de manter um programa nuclear secreto e anunciou que divulgará documentos sensíveis apreendidos, que, segundo Baghaei, comprovam cooperação oculta entre Tel Aviv e potências ocidentais no desenvolvimento de armas nucleares. Essa estratégia visa pressionar a comunidade internacional a exigir inspeções também sobre os supostos arsenais israelenses.
Desafios e Perspectivas
- Resistências internas: Hard-liners iranianos podem rejeitar qualquer acordo que pareça ceder demasiado ao Ocidente, ao passo que membros conservadores do Congresso dos EUA resistem a flexibilizações sem garantias estritas.
- Agenda da AIEA: A votação do Conselho de Governadores para reimpor sanções, prevista para outubro de 2025, pressiona por um desfecho rápido das negociações.
- Mediação internacional: Omã permanece como canal principal, mas a influência de Rússia e China — que já se ofereceram para mediar e até hospedar temporariamente o estoque iraniano de urânio — será decisiva para dar credibilidade e segurança ao acordo
Conclusão
A contraproposta iraniana busca restabelecer um equilíbrio entre o direito nacional de prosseguir seu programa de enriquecimento e as exigências de não-proliferação. O sucesso dependerá da capacidade de transformar promessas de suspensão de sanções em ações concretas e imediatas, bem como do engajamento firme de mediadores como Omã, UE, Rússia e China. Sem esses elementos, o impasse pode se agravar, elevando os riscos de escalada na mais complexa negociação nuclear da atualidade.
Faça um comentário