
No último domingo, as Forças de Defesa de Israel (IDF) realizaram ataques aéreos contra áreas portuárias na governadoria de Hodeidah, no Iêmen, segundo comunicado do Ministério do Interior Houthi. A ação — que teria ocorrido após alertas prévios para evacuação de civis nos três portos sob controle Houthi — marca uma nova fase na escalada de hostilidades entre Israel e o grupo insurgente, aliado ao Irã e em solidariedade aos palestinos na Faixa de Gaza.
Contexto regional e últimas ofensivas
Desde o início da guerra em Gaza, há 19 meses, os Houthis vêm lançando mísseis balísticos e drones contra alvos israelenses, incluindo tentativas de ataque ao aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv. A retaliação de Israel se deu não apenas em Hodeidah, mas também com bombardeios ao aeroporto internacional de Sanaa e a áreas urbanas da capital iemenita.
- Em 2 de maio, mísseis Houthi miraram o Ben Gurion, causando interrompimento de voos e temores de escalada nuclear civil — veja detalhes na cobertura sobre o <a href=”/houthis-ben-gurion”>ataque perto de Ben Gurion</a>.
- No início de maio, Israel já havia bombardeado setores do porto de Hodeidah, crucial para a chegada de ajuda humanitária ao Iêmen.
Detalhes dos ataques em Hodeidah
- Avisos prévios: A IDF alega ter usado drones e alto-falantes para ordenar a retirada de civis em três portos controlados pelos Houthis.
- Alvos atingidos: As bombas atingiram terminais de armazenamento e áreas de manutenção de embarcações, comprometendo operações logísticas.
- Risco à ajuda humanitária: Hodeidah é porta de entrada de cerca de 70% dos alimentos e suprimentos médicos destinados à população iemenita, segundo a ONU.
Impacto humanitário
O Iêmen já enfrenta a pior crise humanitária do mundo, com 17 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar severa e 2 milhões de crianças desnutridas, de acordo com dados do Programa Mundial de Alimentos e do UNICEF. Os ataques a Hodeidah podem:
- Aumentar o risco de desabastecimento hospitalar em Sanaa e Nascerat;
- Reduzir frete de combustível, elevando preços e piorando cortes de energia;
- Agravar deslocamentos internos, já que moradores se afastam das zonas portuárias.
Reações internacionais
- Nações Unidas: O porta-voz do secretário-geral António Guterres condenou o uso de portos civis como alvo militar e pediu “moderação máxima” de todas as partes.
- Estados Unidos: Embora tenha acordo de cessar-fogo com os Houthis no Mar Vermelho, Washington não incluiu operações contra Israel, segundo o negociador-chefe Houthi.
- União Europeia: Bruxelas manifestou preocupação com a segurança da navegação no Golfo de Aden e pressiona por diálogo entre Israel e facções iemenitas.
Análise e perspectivas
A intensificação dos ataques por Israel pode ser vista como tentativa de dissuadir novas ofensivas dos Houthis, mas arrisca colocar em colapso a já frágil ajuda humanitária ao Iêmen. Por outro lado, o grupo insurgente fortalece seu discurso de resistência e ganha visibilidade global a cada reta-final de míssil interceptado ou alvo atingido.
Sem um canal de negociação direto entre Israel e os Houthis — que mantêm mediações via Irã e Qatar — a probabilidade de moderação no curto prazo é baixa. A comunidade internacional enfrenta o dilema de conter a escalada sem, porém, paralisar completamente o fluxo de assistência vital em Hodeidah.
Conclusão
A ofensiva israelense contra os portos de Hodeidah simboliza não apenas uma resposta militar aos ataques dos Houthis, mas também uma ampliação do tabuleiro geopolítico do conflito em Gaza. Ao atingir alvos civis e estratégicos no Iêmen, Israel contribui para a internacionalização da guerra, arrastando o país mais pobre do mundo árabe para uma crise ainda mais profunda. A falta de canais diplomáticos entre as partes e o vácuo de mediação regional aumentam o risco de um confronto mais amplo que envolva o Irã e ameace a estabilidade do comércio marítimo global no Mar Vermelho. O próximo passo dependerá da capacidade das potências internacionais em pressionar por contenção — sem negligenciar o custo humano de mais uma frente de guerra no Oriente Médio.
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