
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, defendeu ontem, durante sua primeira audiência como principal diplomata do país na Comissão de Relações Exteriores do Senado, que a administração Trump não está se afastando da cena internacional — mesmo com cortes significativos no orçamento de ajuda externa e na estrutura diplomática.
Audiência acalorada e principais críticas
Ex-senadores e atuais parlamentares questionaram Rubio sobre temas sensíveis:
- Cortes na ajuda externa: segundo dados históricos, a USAID administrava cerca de US$ 40 bilhões anuais em ajuda internacional; a proposta atual reduz esse montante a US$ 20 bilhões, eliminando fundos considerados “duplicados” ou “ineficientes”. Maria Fernandes, analista da ONG Global Aid Watch, alerta: “A redução abrupta compromete a assistência a populações vulneráveis, especialmente em conflitos prolongados.”
- Engajamento com Putin: Rubio garantiu que não foram concedidas vantagens a Moscou nas conversas para encerrar a guerra na Ucrânia; as sanções contra o Kremlin permanecem vigentes.
- Restrições de imigração: sobre a prioridade a refugiados brancos sul-africanos via America First Opportunity Fund (A1OF), o secretário afirmou que o fundo de US$ 2,9 bilhões busca “otimizar recursos” sem abandonar demandas de outros grupos.
Rubio rebateu: “Eu acabei de visitar 18 países em 18 semanas — isso não parece uma retirada.”
Orçamento 2025/2026 e critérios de corte
A proposta de US$ 28,5 bilhões para o Departamento de Estado e USAID prevê cortes de US$ 20 bilhões em programas de desenvolvimento rural, promoção da democracia e resposta a crises. Abaixo, tabela comparativa das principais rubricas:
Rubrica | Ano Anterior (US$ bi) | Proposta 2025/2026 (US$ bi) | Situação |
---|---|---|---|
Ajuda Externa (USAID) | 40,0 | 20,0 | Corte Significativo |
Orçamento do Departamento de Estado | 60,0 | 40,0 | Redução Moderada |
America First Opportunity Fund (A1OF) | 0,0 | 2,9 | Novo Fundo |
Assistência Humanitária | 15,0 | 14,0 | Mantido |
Programas considerados “duplicativos” | 10,0 | 0,0 | Cortados |
A administração justifica que a reorganização visa aumentar a eficiência, concentrando recursos em prioridades estratégicas e removendo sobreposições.
Múltiplas funções: do Departamento de Estado à Casa Branca
Além de secretário de Estado, Rubio acumula os cargos de:
- Conselheiro de Segurança Nacional interino;
- Administrador interino da USAID;
- Arquivista-geral interino dos EUA.
Essa concentração de funções não ocorria desde Henry Kissinger, que, na década de 1970, foi simultaneamente secretário de Estado e conselheiro de segurança nacional.
Impactos e perspectivas
Especialistas em relações internacionais apontam riscos na centralização de poder em uma só pessoa. A professora Ana Paula Mendes, da Universidade de Georgetown, observa: “Decisões unilaterais aumentam o risco de políticas externas menos transparentes.” Já Carlos Freitas, do CEBRI, destaca que cortes orçamentários podem enfraquecer a influência americana e prejudicar respostas humanitárias em crises como na Síria.
Organizações não governamentais e agências multilaterais também alertam para as consequências humanitárias dos cortes, sinalizando redução na capacidade de resposta a emergências.
Próximos eventos
Rubio deve depor amanhã nas comissões de Apropriações da Câmara e, na sequência, na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes. Esses encontros podem influenciar decisivamente o destino do orçamento e o papel global dos EUA.
Conclusão
Ao afirmar que os EUA não estão se retirando do mundo, Rubio busca reafirmar a liderança global americana, equilibrando cortes orçamentários com demandas humanitárias e de segurança. Resta agora observar como o Congresso consolidará essas mudanças e os efeitos práticos na política externa norte-americana.
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