EUA não estão se retirando do mundo, afirma Rubio em audiência acalorada no Congresso

Marco Rubio chegando para audiência no Comitê de Relações Exteriores do Senado, Washington, 20 de maio
Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, chega para testemunhar na audiência sobre o orçamento do Departamento de Estado na Comissão de Relações Exteriores do Senado, em Washington, D.C., 20 de maio./ Reuters

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, defendeu ontem, durante sua primeira audiência como principal diplomata do país na Comissão de Relações Exteriores do Senado, que a administração Trump não está se afastando da cena internacional — mesmo com cortes significativos no orçamento de ajuda externa e na estrutura diplomática.

Audiência acalorada e principais críticas

Ex-senadores e atuais parlamentares questionaram Rubio sobre temas sensíveis:

  • Cortes na ajuda externa: segundo dados históricos, a USAID administrava cerca de US$ 40 bilhões anuais em ajuda internacional; a proposta atual reduz esse montante a US$ 20 bilhões, eliminando fundos considerados “duplicados” ou “ineficientes”. Maria Fernandes, analista da ONG Global Aid Watch, alerta: “A redução abrupta compromete a assistência a populações vulneráveis, especialmente em conflitos prolongados.”
  • Engajamento com Putin: Rubio garantiu que não foram concedidas vantagens a Moscou nas conversas para encerrar a guerra na Ucrânia; as sanções contra o Kremlin permanecem vigentes.
  • Restrições de imigração: sobre a prioridade a refugiados brancos sul-africanos via America First Opportunity Fund (A1OF), o secretário afirmou que o fundo de US$ 2,9 bilhões busca “otimizar recursos” sem abandonar demandas de outros grupos.

Rubio rebateu: “Eu acabei de visitar 18 países em 18 semanas — isso não parece uma retirada.”

Orçamento 2025/2026 e critérios de corte

A proposta de US$ 28,5 bilhões para o Departamento de Estado e USAID prevê cortes de US$ 20 bilhões em programas de desenvolvimento rural, promoção da democracia e resposta a crises. Abaixo, tabela comparativa das principais rubricas:

RubricaAno Anterior (US$ bi)Proposta 2025/2026 (US$ bi)Situação
Ajuda Externa (USAID)40,020,0Corte Significativo
Orçamento do Departamento de Estado60,040,0Redução Moderada
America First Opportunity Fund (A1OF)0,02,9Novo Fundo
Assistência Humanitária15,014,0Mantido
Programas considerados “duplicativos”10,00,0Cortados

A administração justifica que a reorganização visa aumentar a eficiência, concentrando recursos em prioridades estratégicas e removendo sobreposições.

Múltiplas funções: do Departamento de Estado à Casa Branca

Além de secretário de Estado, Rubio acumula os cargos de:

  • Conselheiro de Segurança Nacional interino;
  • Administrador interino da USAID;
  • Arquivista-geral interino dos EUA.

Essa concentração de funções não ocorria desde Henry Kissinger, que, na década de 1970, foi simultaneamente secretário de Estado e conselheiro de segurança nacional.

Impactos e perspectivas

Especialistas em relações internacionais apontam riscos na centralização de poder em uma só pessoa. A professora Ana Paula Mendes, da Universidade de Georgetown, observa: “Decisões unilaterais aumentam o risco de políticas externas menos transparentes.” Já Carlos Freitas, do CEBRI, destaca que cortes orçamentários podem enfraquecer a influência americana e prejudicar respostas humanitárias em crises como na Síria.

Organizações não governamentais e agências multilaterais também alertam para as consequências humanitárias dos cortes, sinalizando redução na capacidade de resposta a emergências.

Próximos eventos

Rubio deve depor amanhã nas comissões de Apropriações da Câmara e, na sequência, na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes. Esses encontros podem influenciar decisivamente o destino do orçamento e o papel global dos EUA.

Conclusão

Ao afirmar que os EUA não estão se retirando do mundo, Rubio busca reafirmar a liderança global americana, equilibrando cortes orçamentários com demandas humanitárias e de segurança. Resta agora observar como o Congresso consolidará essas mudanças e os efeitos práticos na política externa norte-americana.

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