Israel anuncia 22 novos assentamentos na Cisjordânia apesar de ameaça de sanções

Homens palestinos recolhem trigo após ataque de colonos israelenses em Al Mughayyir, Cisjordânia ocupada, 28 de maio de 2025.
Palestinos colhem o que restou de uma plantação de trigo após um ataque de colonos israelenses na vila de Al Mughayyir, próxima a Ramallah, Cisjordânia ocupada, em 28 de maio de 2025. Mohammed Torokman/Reuters

Em 29 de maio de 2025, o governo de coalizão de Benjamin Netanyahu aprovou a criação de 22 novos assentamentos judeus na região norte da Cisjordânia ocupada, segundo anúncio do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich. A medida, que legaliza também diversos “outposts” — assentamentos não autorizados até então — ocorre em meio a advertências de sanções direcionadas por parte de potências europeias.

Contexto histórico e legal

Desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental passaram ao controle de Israel, desencadeando um programa de colonização contestado sob o direito internacional. Atualmente, cerca de 700 000 colonos israelenses vivem entre 2,7 milhões de palestinos nesses territórios, cuja anexação formal não recebeu reconhecimento global.

  • Legislação israelense considera os assentamentos legais em diversos níveis, enquanto “outposts” são frequentemente regularizados retroativamente.
  • Direito internacional, inclusive as Convenções de Genebra, proíbe a transferência de população civil para área ocupada, classificando os assentamentos como ilegais.

Especialistas alertam que essa dinâmica reduz drasticamente as chances de um Estado palestino viável e fragmentado, minando a continuidade territorial necessária a futuras negociações de paz.

Dados quantitativos

A expansão recente insere-se em um crescimento contínuo:, confira a evolução em anos-chave:

AnoAssentamentos oficiaisTerras estatais atribuídas (acres)Área total atribuída (km²)
19670
2000120
2023144
20251665 99424,26

Neste mês de maio de 2025, foram aprovados 5 994 acres (24,26 km²) para novos assentamentos no norte da Cisjordânia.

Reações internacionais

  • Reino Unido, França e Canadá emitiram comunicado conjunto advertindo para sanções direcionadas contra autoridades israelenses responsáveis pela expansão territorial.
  • União Europeia avalia medidas adicionais, incluindo congelamento de bens e restrições de vistos.
  • Administração Trump emitiu nota oficial de “preocupação profunda”, mas não anunciou sanções imediatas.

Diplomatas em Bruxelas afirmam que a decisão viola resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que exigem a suspensão de toda atividade de colonização em territórios ocupados. O secretário-geral da ONU reforçou que a expansão “mina a confiança” no processo de paz.

Perfis dos principais atores

Bezalel Smotrich

  • Ministério das Finanças, Religious Zionist Party.
  • Ultraconservador, defende anexação total da Cisjordânia.
  • Articulou a transferência de verbas militares para infraestrutura de assentamentos e pressionou pela legalização de outposts.

Israel Katz

  • Ministério da Defesa, Likud.
  • Promove a expansão como “política estratégica” para consolidar rotas de ligação entre Jerusalém e Tel Aviv.
  • Em julho de 2024, endossou a apropriação de 12,7 km² no Vale do Jordão para novos assentamentos.

Impactos geopolíticos e regionais

  1. Obstáculo à criação de Estado palestino: fragmenta o território e inviabiliza continuidade geográfica.
  2. Pressão interna em Israel: estimula a base ultranacionalista, mas tensiona setores moderados e o judiciário, que contestam retrocessos legais.
  3. Risco de escalada de violência: crescem ataques de colonos a palestinos e reforço militar em áreas de conflito.

Reação das lideranças palestinas

Nabil Abu Rudeineh, porta-voz de Mahmoud Abbas, classificou a medida de “perigosa escalada” e acusou o governo de perpetuar o “ciclo de violência”. No mesmo tom, o Hamas afirmou que a decisão faz parte de uma “guerra contra o povo palestino” e conclamou EUA e UE a ações mais incisivas.

Conclusão

A aprovação de 22 novos assentamentos na Cisjordânia reflete a consolidação das forças ultranacionalistas em Israel e o endurecimento de sua política de colonização. Em contraponto, aliados tradicionais advertiram para sanções, mas ainda não se confirmaram medidas punitivas efetivas. O movimento reforça o isolamento diplomático de Israel e representa mais um desafio decisivo à construção de um futuro Estado palestino contíguo e sustentável.

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