Ucrânia Recebe Convite para Cúpula da OTAN em Haia; Presença de Zelensky Permanece Incerta

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, durante coletiva na cúpula OTAN B9 em Vilnius, Lituânia, 2 de junho de 2025.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fala à imprensa durante a reunião do grupo Bucharest Nine (B9) da OTAN, realizada em Vilnius, Lituânia, em 2 de junho de 2025.REUTERS/Ints Kalnins

No início de junho de 2025, o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, anunciou que a Ucrânia havia sido formalmente convidada a participar da cúpula que ocorrerá no World Forum, em Haia, entre os dias 24 e 26 de junho de 2025. Contudo, ainda não está definido se o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, comparecerá pessoalmente ao evento, uma informação que só será esclarecida quando o programa completo for divulgado. Essa indefinição reflete não apenas questões logísticas e de segurança, mas também o delicado cálculo político que envolve o envolvimento direto de Zelensky com os líderes da aliança.

Contexto Geopolítico e Importância do Convite

A Situação Militar e Diplomática na Ucrânia

Desde a eclosão da invasão russa em fevereiro de 2022, a Ucrânia tem buscado apoio contínuo da OTAN para reforçar suas defesas e garantir que a pressão ocidental permaneça firme contra Moscou. Em 4 de junho de 2025, representantes de 57 países participaram de mais uma reunião do Grupo de Contato de Defesa da Ucrânia em Bruxelas, onde foi reiterada a necessidade de manter e expandir os envios de armamentos, especialmente munições de artilharia, drones e sistemas de defesa aérea. Durante essa mesma reunião, Mark Rutte confirmou o convite à Ucrânia para a cúpula em Haia, sem, no entanto, detalhar se Zelensky recebera convite pessoal.

Além disso, no dia 4 de junho, um ataque subaquático ucraniano causou danos severos à Ponte da Crimeia (Kerch), interrompendo temporariamente o tráfego militar russo que conecta a península à Rússia continental. Esse episódio evidencia a escalada de ações militares diretas por parte de Kiev, mesmo enquanto busca reforço político-militar junto aos parceiros ocidentais.

A Relevância do Local e das Datas

A cúpula de Haia será a primeira desde 1949 realizada nos Países Baixos, reunindo cerca de 8.500 participantes, entre chefes de Estado, ministros e delegações . O governo holandês alocou cerca de €95 milhões para a logística, segurança e infraestrutura necessárias ao evento . A escolha de Haia — cidade símbolo de arbitragem internacional — pretende reforçar a mensagem de solidariedade jurídica e política ao respeito da ordem internacional ameaçada pela invasão da Ucrânia.

Estrutura e Principais Temas da Cúpula

Apoio Militar Contínuo à Ucrânia

O principal ponto na agenda será a continuidade e potencial ampliação do apoio militar a Kiev. Até o momento, o Reino Unido anunciou planos para fornecer 100.000 drones ao longo de 2025, além de investir £247 milhões em treinamento de tropas ucranianas, como parte de um esforço total de £350 milhões, que inclui ainda o envio de munições de artilharia e drones FPV de ataque. Espera-se que, em Haia, líderes definam metas para aumentar ainda mais esses envios e minimizar gargalos logísticos que afetam a linha de frente ucraniana.

Alinhamento dos Orçamentos de Defesa na Europa

Uma discussão central envolverá o desafio de elevar os gastos de defesa dos países-membros para, pelo menos, 5% do PIB, meta sugerida nos bastidores da OTAN como forma de reduzir a dependência de recursos americanos e suprir eventuais cortes no orçamento dos Estados Unidos . Países como Alemanha, França e Polônia devem defender esse patamar em suas intervenções, enquanto outros, mais cautelosos, poderão propor percentuais gradativos para cumprir tais metas até 2028 ou 2030.

Fortalecimento da Produção Europeia de Armamentos

Para reduzir a vulnerabilidade a atrasos em cadeias de suprimentos, pretende-se propor a criação de um “fundo de emergência” de €40 bilhões destinado à compra antecipada de munições e à manutenção de stocks estratégicos, com contribuições proporcionais de cada Estado‐membro. Esse fundo permitiria, por exemplo, a montagem de baterias adicionais de sistemas como Patriot, NASAMS e IRIS-T, além de fomentar a indústria local de defesa.

Respostas a Ameaças Não Convencionais

Temas como guerra cibernética, desinformação e segurança energética também estarão em pauta, embora subordinados ao foco europeu no flanco Oriental. Propõe-se um fortalecimento das unidades de resposta rápida a ataques cibernéticos e a criação de um mecanismo de “alerta precoce” para proteger infraestruturas críticas, incluindo redes elétricas e sistemas de comunicações de emergência.

Implicações Políticas da Presença Ucraniana

Sinal Político para Kiev e para Moscou

O convite à Ucrânia e a eventual presença de Zelensky em Haia funcionam como um forte sinal político de coesão ocidental:

  • Para Kiev, significa reforçar a narrativa de que a guerra ainda está na agenda central da segurança coletiva;
  • Para Moscou, representa um claro gesto de resistência política ao expansionismo russo, potencializando a retórica de que o Ocidente não pensa em “acordos frouxos” que legitimem conquistas territoriais obtidas pela força.

No entanto, caso Zelensky opte por não comparecer, por razões logísticas ou estratégicas, isso poderá ser explorado pelo Kremlin como prova de que a Ucrânia está desconectada dos principais centros de poder ocidentais, mesmo que o convite ao restante da delegação permaneça válido.

Reação dos Aliados Ocidentais

A maioria dos Estados-membros tende a apoiar energia o deslocamento de Zelensky, inclusive organizando suas agendas bilaterais para garantir janelas de diálogo. Já a nova administração americana, liderada pelo presidente Joe Biden, tem reiterado seu compromisso, mas enfrenta pressões internas que podem levar a ajustes nos pacotes de ajuda. A OTAN, por sua vez, busca mostrar unidade, ao passo em que avalia a possibilidade de assumir maior protagonismo no financiamento direto à Ucrânia, reduzindo o risco de cortes unilaterais por parte de Washington.

Estratégia Russa de Contraposição

O Kremlin, antecipando a cúpula, intensificou sua propaganda interna, retratando-a como um esforço ocidental para “expandir a guerra” e justificar novas sanções econômicas. Autoridades russas declararam que a presença de Zelensky em Haia “incrementaria o risco de escalada direta” entre OTAN e Rússia, reforçando a narrativa de que qualquer passo dessa natureza ameaça a “segurança nacional russa”.

Riscos e Oportunidades

Perspectiva Ucraniana

Oportunidades:

  1. Prestígio e Moral Interno: a possível intervenção de Zelensky em Haia elevará o moral dos civis e das tropas, demonstrando que Kiev mantém respaldo internacional sólido.
  2. Pressão para Reformas: reforça a necessidade de acelerar reformas institucionais, anticorrupção e modernização das Forças Armadas, diante da perspectiva de aproximação acelerada à OTAN.

Riscos:

  1. Expectativas Altas: caso a cúpula fale em “mecanismos de apoio continuado” sem cronogramas concretos, a frustração poderá alimentar ceticismo interno quanto ao real comprometimento ocidental.
  2. Custos de Segurança: a logística de deslocamento de Zelensky a Haia, em plena guerra, exige escolta armada, aeronaves militares e um roteiro hermético — tudo isso consome recursos e demanda garantias que podem conflitar com ações urgentes no front.

Perspectiva da OTAN

Oportunidades:

  1. Coesão do Bloco: reforçar a narrativa de solidariedade frente à agressão russa e consolidar o modelo de “Conselho OTAN-Ucrânia” como canal permanente de diálogo.
  2. Redução de Dependência Americana: viabilizar que a Europa assuma parcela maior da conta, criando mecanismos de financiamento específicos dentro da União Europeia e da própria OTAN.

Riscos:

  1. Fissuras Internas: países mais reticentes, como Hungria ou Turquia, podem usar o tema ucraniano para extrair concessões em outras áreas, fragilizando as decisões conjuntas.
  2. Escalada Militar Indireta: se Moscou reagir de forma contundente — por exemplo, ampliando ataques a infraestrutura crítica ucraniana ou realizando exercícios militares no Mar Báltico —, isso pode exigir respostas militares que obriguem a OTAN a elevar o nível de alerta, gerando tensão adicional.

Possíveis Desenvolvimentos Recentes

Além das confirmações gerais já mencionadas, a reunião de 4 de junho em Bruxelas trouxe detalhes adicionais:

  • Oferta de Drones pelo Reino Unido: o compromisso de fornecer 100.000 drones para uso tático em 2025, bem como munições de precisão e sistemas de vigilância eletrônica, passa a integrar o pacote de apoio de longo prazo à Ucrânia.
  • Ataque à Ponte da Crimeia: a explosão subaquática que danificou a Ponte da Crimeia reforçou a eficácia dos métodos ucranianos de guerra assimétrica e elevou a necessidade de reforçar a segurança marítima no Mar Negro, outro tema que poderá aparecer no segundo dia da cúpula, quando se debaterão ameaças não convencionais.
  • Debates sobre Sanções: na esteira da cúpula, há pressão para intensificar sanções contra setores estratégicos russos, sobretudo energia e metais, movimento apoiado por Reino Unido e União Europeia, mas sujeito a vetos por parte de aliados com laços econômicos mais fortes com Moscou.

Até o momento, não houve anúncio oficial de que Zelensky confirme presença pessoal em Haia, permanecendo essa decisão sujeita a avaliações de segurança, disponibilidade de embaixadas temporárias da Ucrânia no exterior e eventuais agendas de última hora provocadas pela urgência de novas ofensivas russas. Rutte prometeu publicar o programa completo “assim que possível”, o que deverá ocorrer na segunda quinzena de junho.

Conclusão

O convite estendido pela OTAN e a incerteza sobre a presença de Volodymyr Zelenskiy na cúpula de Haia de 24 a 26 de junho de 2025 refletem a complexa teia de interesses estratégicos, logísticos e políticos que une a aliança às demandas urgentes da Ucrânia. Se, por um lado, a participação de Zelenskiy pode reforçar o moral interno ucraniano e a coesão ocidental, por outro, seu ausência pode ser interpretada como um indício de que a guerra continuará a ditar prioridades que se sobrepõem à diplomacia multilaterial.

Adicionalmente, a inclusão de novos compromissos de envio de drones e de reforço de sanções aumenta o escopo das discussões em Haia, indicando que as decisões tomadas ali poderão influenciar diretamente a dinâmica do conflito no leste europeu e o equilíbrio de poder entre OTAN e Rússia nos meses seguintes.

Independentemente de Zelensky estar ou não presente, a cúpula de Haia certamente marcará um momento-chave, não apenas por definir linhas de financiamento e cooperação militar, mas também por projetar — para aliados e adversários — o nível de determinação do bloco ocidental em manter a Ucrânia no centro de sua agenda de segurança coletiva.

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