
Em 25 de junho de 2025, milhares de jovens — amplamente referidos como “Geração Z” — tomaram as ruas de ao menos 23 dos 47 condados quenianos para protestar contra a morte do blogueiro Albert Omondi Ojwang em custódia policial e para rememorar os protestos antitaxação de 2024. As manifestações se espalharam rapidamente por Nairobi, Mombasa, Nakuru e Kisumu, degenerando em confrontos com a polícia, incêndios e saques. O governo, por meio do ministro do Interior Kipchumba Murkomen, classificou o movimento como uma tentativa de “mudança de regime”, enquanto organizações de direitos humanos e líderes do protesto denunciam ação desproporcional das forças de segurança e exigem diálogo.
Contexto e Motivações
- Morte de Albert Ojwang: Detido em 6 de junho sob acusação de “publicação falsa”, o blogueiro de 31 anos morreu por ferimentos internos dois dias depois. Sua morte gerou onda de indignação e reavivou memórias dos protestos de 2024, nos quais ao menos 60 pessoas foram mortas durante mobilizações contra o projeto de lei de finanças do governo.
- Perfil dos Manifestantes: Grande parte dos participantes é composta por jovens urbanos, conectados por redes sociais, que exigem maior transparência, combate à brutalidade policial e custo de vida acessível.
Dia das Manifestações (25 de junho)
- Escala: Os protestos ocorreram em 23 condados, reivindicando nos cartazes a renúncia do presidente William Ruto e a responsabilização de policiais envolvidos na morte de Ojwang.
- Efetivos e Táticas de Segurança: A polícia mobilizou centenas de agentes em cada cidade, bloqueou vias de acesso ao Parlamento e usou gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar multidões, conforme plano de contenção revelado dias antes pelo comando de segurança.
Balanço de Vítimas e Danos
Mortes e Feridos:
- Fatalidades: 16 pessoas foram mortas, segundo a Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia (KNCHR) — cifra corroborada pela ONG Amnesty Kenya — todas por ferimentos de arma de fogo, em sua maioria atribuídos a policiais em resposta aos protestos.
- Feridos: Aproximadamente 400 pessoas ficaram feridas, incluindo civis e agentes de segurança.
- Destruição e Saques: Lojas, bancas e pequenas empresas sofreram saques estimados em dezenas de milhões de xelins, com ao menos 10 edifícios incendiados no centro de Nairobi. A comerciante Josephine Apondi reportou perdas de cerca de 2 milhões de xelins em eletrônicos.
Retórica Governamental e Acusações de Golpe
- Declarações de Murkomen: Em coletiva, o ministro do Interior acusou “anarquistas criminosos” de tentar um “regime change” e de perpetrar “saques, incêndios e até agressões sexuais” para desestabilizar o Estado.
- Medidas Adicionais: O Ministério emitiu diretrizes advertindo que manifestações são permitidas, mas “atos de lawlessness” não serão tolerados.
Vozes da Sociedade Civil e dos Líderes dos Protestos
- Boniface Mwangi (ativista): Refutou a acusação de golpe, afirmando que o governo tenta desviar o foco das exigências por justiça e reformas. “Nossa luta é por transparência e fim da impunidade, não por derrubar o Estado”, declarou.
- Ibrahim Hamisi (lojista vítima de incêndio): Exortou as partes a “sentar à mesa e discutir soluções reais” para evitar novas tragédias e restaurar a confiança entre jovens e autoridade.
Implicações Políticas e Próximos Passos
- Apuração e Justiça: Seis suspeitos — incluindo três policiais — foram indiciados por homicídio no caso Ojwang; todos negam culpa. O desfecho desses processos será um termômetro para avaliar o compromisso do Estado com a responsabilização institucional.
- Clima de Instabilidade: Analistas alertam que, sem abertura ao diálogo, o Quênia corre risco de aprofundar o fosso entre governo e juventude, afetando tanto a coesão social quanto o ambiente de investimentos.
- Agenda de Diálogo: Organizações de direitos humanos e representantes comunitários intensificam apelos por mesas de negociação que incluam o Executivo, legislativo e movimentos juvenis, buscando um pacto de reformas políticas e reforço à supervisão civil das forças de segurança.
Conclusão
Os protestos de 25 de junho deixaram um rastro de sangue e destruição, mas também acenderam um debate urgente sobre a relação entre Estado e juventude queniana. Enquanto o governo denuncia “tentativa de golpe” para justificar a repressão, líderes da sociedade civil clamam por uma resposta que vá além da força policial: somente um processo sério de diálogo e justiça poderá estancar o ciclo de violência e restaurar a confiança democrática no país.
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