Ministro do Interior do Quênia Acusa Manifestantes de Tentativa de Golpe em Meio a Protestos Mortais

Ministro do Interior Kipchumba Murkomen fala em coletiva de imprensa em Nairobi, Quênia, em 26 de junho de 2025.
Kipchumba Murkomen, Ministro do Interior do Quênia, declara que os protestos no país configuram terrorismo e tentativa de golpe, durante coletiva em Nairobi, 26 de junho de 2025./ Reuters

Em 25 de junho de 2025, milhares de jovens — amplamente referidos como “Geração Z” — tomaram as ruas de ao menos 23 dos 47 condados quenianos para protestar contra a morte do blogueiro Albert Omondi Ojwang em custódia policial e para rememorar os protestos antitaxação de 2024. As manifestações se espalharam rapidamente por Nairobi, Mombasa, Nakuru e Kisumu, degenerando em confrontos com a polícia, incêndios e saques. O governo, por meio do ministro do Interior Kipchumba Murkomen, classificou o movimento como uma tentativa de “mudança de regime”, enquanto organizações de direitos humanos e líderes do protesto denunciam ação desproporcional das forças de segurança e exigem diálogo.

Contexto e Motivações

  • Morte de Albert Ojwang: Detido em 6 de junho sob acusação de “publicação falsa”, o blogueiro de 31 anos morreu por ferimentos internos dois dias depois. Sua morte gerou onda de indignação e reavivou memórias dos protestos de 2024, nos quais ao menos 60 pessoas foram mortas durante mobilizações contra o projeto de lei de finanças do governo.
  • Perfil dos Manifestantes: Grande parte dos participantes é composta por jovens urbanos, conectados por redes sociais, que exigem maior transparência, combate à brutalidade policial e custo de vida acessível.

Dia das Manifestações (25 de junho)

  • Escala: Os protestos ocorreram em 23 condados, reivindicando nos cartazes a renúncia do presidente William Ruto e a responsabilização de policiais envolvidos na morte de Ojwang.
  • Efetivos e Táticas de Segurança: A polícia mobilizou centenas de agentes em cada cidade, bloqueou vias de acesso ao Parlamento e usou gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar multidões, conforme plano de contenção revelado dias antes pelo comando de segurança.

Balanço de Vítimas e Danos

Mortes e Feridos:

  • Fatalidades: 16 pessoas foram mortas, segundo a Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia (KNCHR) — cifra corroborada pela ONG Amnesty Kenya — todas por ferimentos de arma de fogo, em sua maioria atribuídos a policiais em resposta aos protestos.
  • Feridos: Aproximadamente 400 pessoas ficaram feridas, incluindo civis e agentes de segurança.
  • Destruição e Saques: Lojas, bancas e pequenas empresas sofreram saques estimados em dezenas de milhões de xelins, com ao menos 10 edifícios incendiados no centro de Nairobi. A comerciante Josephine Apondi reportou perdas de cerca de 2 milhões de xelins em eletrônicos.

Retórica Governamental e Acusações de Golpe

  • Declarações de Murkomen: Em coletiva, o ministro do Interior acusou “anarquistas criminosos” de tentar um “regime change” e de perpetrar “saques, incêndios e até agressões sexuais” para desestabilizar o Estado.
  • Medidas Adicionais: O Ministério emitiu diretrizes advertindo que manifestações são permitidas, mas “atos de lawlessness” não serão tolerados.

Vozes da Sociedade Civil e dos Líderes dos Protestos

  • Boniface Mwangi (ativista): Refutou a acusação de golpe, afirmando que o governo tenta desviar o foco das exigências por justiça e reformas. “Nossa luta é por transparência e fim da impunidade, não por derrubar o Estado”, declarou.
  • Ibrahim Hamisi (lojista vítima de incêndio): Exortou as partes a “sentar à mesa e discutir soluções reais” para evitar novas tragédias e restaurar a confiança entre jovens e autoridade.

Implicações Políticas e Próximos Passos

  • Apuração e Justiça: Seis suspeitos — incluindo três policiais — foram indiciados por homicídio no caso Ojwang; todos negam culpa. O desfecho desses processos será um termômetro para avaliar o compromisso do Estado com a responsabilização institucional.
  • Clima de Instabilidade: Analistas alertam que, sem abertura ao diálogo, o Quênia corre risco de aprofundar o fosso entre governo e juventude, afetando tanto a coesão social quanto o ambiente de investimentos.
  • Agenda de Diálogo: Organizações de direitos humanos e representantes comunitários intensificam apelos por mesas de negociação que incluam o Executivo, legislativo e movimentos juvenis, buscando um pacto de reformas políticas e reforço à supervisão civil das forças de segurança.

Conclusão

Os protestos de 25 de junho deixaram um rastro de sangue e destruição, mas também acenderam um debate urgente sobre a relação entre Estado e juventude queniana. Enquanto o governo denuncia “tentativa de golpe” para justificar a repressão, líderes da sociedade civil clamam por uma resposta que vá além da força policial: somente um processo sério de diálogo e justiça poderá estancar o ciclo de violência e restaurar a confiança democrática no país.

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