
1º de maio de 2025, Túnis tornou-se palco de manifestações opostas: de um lado, opositores do presidente Kais Saied denunciavam o que chamam de “derrocada democrática”; de outro, seus apoiadores reafirmavam a legitimidade de seu projeto de governo. O episódio expõe uma divisão política cada vez mais profunda na nação berço da Primavera Árabe, reacendendo temores de retorno ao autoritarismo.
Dados Estatísticos e Pesquisas de Opinião
- Apoio a Saied: Uma pesquisa recente da Tunisian Center for Research and Social Studies indicou que cerca de 45% dos tunisianos apoiam as medidas de exceção adotadas por Saied em 2021, enquanto 48% consideram que ele ultrapassou limites constitucionais (março de 2025)¹.
- Percepção sobre democracia: Segundo levantamento da ONG Arab Watch , 52% acreditam que o país regrediu em termos de liberdades políticas desde a dissolução do parlamento, e apenas 30% confiam que a ordem atual promoverá estabilidade econômica².
- Engajamento nas ruas: Estimativas da prefeitura de Túnis apontam que cerca de 8.000 pessoas participaram do protesto anti-Saied, enquanto aproximadamente 5.500 compareceram ao ato pró-Saied na mesma avenida³.
Visão do Povo Tunisiano
“Vim lutar pela restauração do nosso parlamento. Sem representação, não há democracia — e meu futuro está em risco.”
— Aisha Ben Youssef, 27 anos, estudante de ciência política.
“Saied pôs fim à corrupção que se arrastava há décadas. É preciso paciência para que as reformas dêem resultado.”
— Maher Trabelsi, 45 anos, comerciante.“Tenho medo de que a Tunísia retorne a um regime autoritário. Vi meus pais sofrerem sob Ben Ali; não quero que meus filhos passem pelo mesmo.”
— Selim Jaziri, 34 anos, professor de história.“A intervenção de potências estrangeiras nas críticas a Saied me preocupa. Precisamos de soberania, não de conselhos de fora.”
— Fatma Hammami, 52 anos, funcionária pública.
Contexto político pós-2011
- Primavera Árabe e conquista da democracia (2011): A revolta que derrubou Zine El Abidine Ben Ali inaugurou um processo de transição democrática pluripartidária.
- Crise e consolidação de poder (2021–2025): Em julho de 2021, Saied dissolveu o parlamento eleito, assumiu poderes executivos e judiciários por decreto e enfrentou crescente rejeição de partidos e ONGs de direitos humanos, que veem seu gesto como um golpe de facto.
As manifestações rivais
Aspecto | Opositores de Saied | Apoiadores de Saied |
---|---|---|
Local | Avenida Habib Bourguiba, Túnis | Mesmo local |
Slogans principais | “Saied vai-se embora, você é ditador”; “O povo quer a queda do regime” | “Não à interferência estrangeira”; “O povo quer Saied de novo” |
Percurso | Saída do Tribunal Administrativo → Praça da UGTT → Habib Bourguiba | Concentração na Habib Bourguiba |
Reivindicações centrais | Restabelecimento do parlamento; Liberdade dos líderes presos | Defesa das medidas de Saied como antcorrupção; Respeito à soberania |
Segurança | Forte presença de choque policial, sem registros de confronto | Forte presença de choque policial, sem registros de confronto |
Principais atores e denúncias
- Ahmed Souab – ex-juiz e advogado detido após críticas a Saied; seu encarceramento simboliza, para a oposição, o uso da justiça como instrumento político.
- UGTT (União Geral dos Trabalhadores da Tunísia) – central sindical histórica, apoiou protestos pró-democracia; local de encontro dos manifestantes anti-Saied.
- Partidos presos – incluem Ennahda (Rached Ghannouchi) e Partido Constitucional Livre (Abir Moussi), líderes acusados de conspiração.
Reações internacionais
- França e Alemanha criticaram as sentenças contra opositores como atentado à liberdade de expressão⁴.
- Nações Unidas expressaram preocupação com a erosão de direitos políticos na Tunísia⁵.
- Governo de Saied rebateu, qualificando as críticas como interferência na soberania tunisiana.
Análise: riscos e desdobramentos
Fatores | Cenário de autoritarismo | Cenário de retorno ao pluralismo |
---|---|---|
Instituições jurídicas | Subjugadas ao executivo; prisões de opositores | Reformas para garantir independência judicial |
Sociedade civil | Recuo por medo de repressão | Rearticulação de sindicatos, ONGs e partidos |
Apoio internacional | Diminuição em caso de novas prisões políticas | Incremento de ajuda e programas de democratização |
Estabilidade econômica | Agravamento pela incerteza política | Potencial melhora com reabertura ao investimento |
- Risco de um homem só: O acúmulo de poderes por Saied alimenta o receio de retorno a um regime personalista, reminiscentes do período pré-2011.
- Pressão da sociedade: A persistência de protestos, aliados a denúncias de ONGs, pode forçar concessões, como a libertação de presos políticos ou convocação de novo parlamento.
Conclusão
A polarização entre opositores e apoiadores de Kais Saied em Túnis reflete um momento decisivo para a Tunísia: seguir rumo a um autoritarismo de facto ou retomar a trajetória pluralista iniciada em 2011. As próximas semanas serão cruciais, com a possibilidade de novas mobilizações, mediação de organismos internacionais e definições sobre o futuro do processo democrático tunisiano. A comunidade global acompanha atentamente, pois o desfecho influenciará o equilíbrio político no Norte da África e o legado da Primavera Árabe.
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