Oposição e Apoiadores de Kais Saied Dividem as Ruas de Túnis em Protestos Rivais

Presidente da Tunísia, Kais Saied, durante cerimônia de posse para seu segundo mandato no parlamento em Túnis, 21 de outubro de 2024.
Kais Saied toma posse para seu segundo mandato como presidente da Tunísia em uma cerimônia no parlamento, Túnis, 21 de outubro de 2024. (Foto: REUTERS/Zoubeir Souissi)

1º de maio de 2025, Túnis tornou-se palco de manifestações opostas: de um lado, opositores do presidente Kais Saied denunciavam o que chamam de “derrocada democrática”; de outro, seus apoiadores reafirmavam a legitimidade de seu projeto de governo. O episódio expõe uma divisão política cada vez mais profunda na nação berço da Primavera Árabe, reacendendo temores de retorno ao autoritarismo.

Dados Estatísticos e Pesquisas de Opinião

  • Apoio a Saied: Uma pesquisa recente da Tunisian Center for Research and Social Studies indicou que cerca de 45% dos tunisianos apoiam as medidas de exceção adotadas por Saied em 2021, enquanto 48% consideram que ele ultrapassou limites constitucionais (março de 2025)¹.
  • Percepção sobre democracia: Segundo levantamento da ONG Arab Watch , 52% acreditam que o país regrediu em termos de liberdades políticas desde a dissolução do parlamento, e apenas 30% confiam que a ordem atual promoverá estabilidade econômica².
  • Engajamento nas ruas: Estimativas da prefeitura de Túnis apontam que cerca de 8.000 pessoas participaram do protesto anti-Saied, enquanto aproximadamente 5.500 compareceram ao ato pró-Saied na mesma avenida³.

Visão do Povo Tunisiano

“Vim lutar pela restauração do nosso parlamento. Sem representação, não há democracia — e meu futuro está em risco.”
— Aisha Ben Youssef, 27 anos, estudante de ciência política.

“Saied pôs fim à corrupção que se arrastava há décadas. É preciso paciência para que as reformas dêem resultado.”
— Maher Trabelsi, 45 anos, comerciante.

“Tenho medo de que a Tunísia retorne a um regime autoritário. Vi meus pais sofrerem sob Ben Ali; não quero que meus filhos passem pelo mesmo.”
— Selim Jaziri, 34 anos, professor de história.

“A intervenção de potências estrangeiras nas críticas a Saied me preocupa. Precisamos de soberania, não de conselhos de fora.”
— Fatma Hammami, 52 anos, funcionária pública.

Contexto político pós-2011

  • Primavera Árabe e conquista da democracia (2011): A revolta que derrubou Zine El Abidine Ben Ali inaugurou um processo de transição democrática pluripartidária.
  • Crise e consolidação de poder (2021–2025): Em julho de 2021, Saied dissolveu o parlamento eleito, assumiu poderes executivos e judiciários por decreto e enfrentou crescente rejeição de partidos e ONGs de direitos humanos, que veem seu gesto como um golpe de facto.

As manifestações rivais

AspectoOpositores de SaiedApoiadores de Saied
LocalAvenida Habib Bourguiba, TúnisMesmo local
Slogans principais“Saied vai-se embora, você é ditador”;
“O povo quer a queda do regime”
“Não à interferência estrangeira”;
“O povo quer Saied de novo”
PercursoSaída do Tribunal Administrativo → Praça da UGTT → Habib BourguibaConcentração na Habib Bourguiba
Reivindicações centraisRestabelecimento do parlamento;
Liberdade dos líderes presos
Defesa das medidas de Saied como antcorrupção;
Respeito à soberania
SegurançaForte presença de choque policial, sem registros de confrontoForte presença de choque policial, sem registros de confronto

Principais atores e denúncias

  • Ahmed Souab – ex-juiz e advogado detido após críticas a Saied; seu encarceramento simboliza, para a oposição, o uso da justiça como instrumento político.
  • UGTT (União Geral dos Trabalhadores da Tunísia) – central sindical histórica, apoiou protestos pró-democracia; local de encontro dos manifestantes anti-Saied.
  • Partidos presos – incluem Ennahda (Rached Ghannouchi) e Partido Constitucional Livre (Abir Moussi), líderes acusados de conspiração.

Reações internacionais

  • França e Alemanha criticaram as sentenças contra opositores como atentado à liberdade de expressão⁴.
  • Nações Unidas expressaram preocupação com a erosão de direitos políticos na Tunísia⁵.
  • Governo de Saied rebateu, qualificando as críticas como interferência na soberania tunisiana.

Análise: riscos e desdobramentos

FatoresCenário de autoritarismoCenário de retorno ao pluralismo
Instituições jurídicasSubjugadas ao executivo; prisões de opositoresReformas para garantir independência judicial
Sociedade civilRecuo por medo de repressãoRearticulação de sindicatos, ONGs e partidos
Apoio internacionalDiminuição em caso de novas prisões políticasIncremento de ajuda e programas de democratização
Estabilidade econômicaAgravamento pela incerteza políticaPotencial melhora com reabertura ao investimento
  • Risco de um homem só: O acúmulo de poderes por Saied alimenta o receio de retorno a um regime personalista, reminiscentes do período pré-2011.
  • Pressão da sociedade: A persistência de protestos, aliados a denúncias de ONGs, pode forçar concessões, como a libertação de presos políticos ou convocação de novo parlamento.

Conclusão

A polarização entre opositores e apoiadores de Kais Saied em Túnis reflete um momento decisivo para a Tunísia: seguir rumo a um autoritarismo de facto ou retomar a trajetória pluralista iniciada em 2011. As próximas semanas serão cruciais, com a possibilidade de novas mobilizações, mediação de organismos internacionais e definições sobre o futuro do processo democrático tunisiano. A comunidade global acompanha atentamente, pois o desfecho influenciará o equilíbrio político no Norte da África e o legado da Primavera Árabe.

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