Ramaphosa demite vice-ministro do Comércio do DA: repercussões e contexto político

Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa em coletiva de imprensa após reunião com presidente dos EUA Donald Trump em Washington, maio de 2025.
Presidente Cyril Ramaphosa concede entrevista à imprensa em Washington, D.C., após encontro com o presidente Donald Trump, em 21 de maio de 2025. Foto: Leah Millis/Reuters.

Em 26 de junho de 2025, o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, destituiu Andrew Whitfield do cargo de Vice-Ministro do Comércio, Indústria e Competição. Whitfield, líder provincial da Democractic Alliance (DA) no Eastern Cape e nomeado em julho de 2024 como parte do acordo de coalizão, exercia a função até o anúncio oficial – sem apresentação de motivo – feito pelo gabinete presidencial nesta quinta-feira. O movimento não faz parte de uma “reestruturação ampla do gabinete”, segundo Ramaphosa, mas reacende dúvidas sobre a solidez do governo de unidade nacional.

O governo de coalizão pós-eleições de 2024

  • 29 de maio de 2024: O ANC perde a maioria absoluta, obtendo cerca de 40% dos votos.
  • 14 de junho de 2024: É firmado acordo de governo de unidade nacional (GNU) entre ANC, DA, IFP e outros 17 partidos.
  • 30 de junho de 2024: Nova estrutura ministerial entra em vigor, com seis vagas — entre ministros e vice-ministros — destinadas à DA.

Perfil de Andrew Whitfield

Nome completo: Andrew Grant Whitfield

Nascimento: 24 de novembro de 1982

Trajetória política:

  • Vereador em Nelson Mandela Bay (2011–2014)
  • Deputado na Assembleia Nacional (2014–2016; 2019–presente)
  • Membro do Mayoral Committee em Nelson Mandela Bay (2016–2018)
  • Membro da Assembleia Legislativa da Eastern Cape (2018–2019)
  • Líder provincial da DA no Eastern Cape (desde fevereiro de 2023)
  • Vice-Ministro do Comércio, Indústria e Competição (3 jul. 2024 – 26 jun. 2025)

Por que Whitfield foi exonerado?

Até o momento, não foi divulgada nenhuma justificativa oficial para a remoção de Whitfield. Fontes do governo apenas reforçaram que não se trata de uma reforma geral do gabinete. Analistas apontam que o ato pode ser reflexo de:

  1. Atritos orçamentários
    A DA pressionou contra o aumento do IVA proposto pelo ANC, resultando na exclusão do reajuste do orçamento de 2025. O episódio, encerrado em 11 de junho de 2025, foi um dos pontos de maior tensão interna.
  2. Divergências sobre políticas de desigualdade
    Enquanto o ANC defende intervenções estatais mais vigorosas para reduzir disparidades herdadas do apartheid, a DA critica medidas que considera excessivas e potencialmente prejudiciais ao crescimento econômico.
  3. Desconfiança política mútua
    A gestão de ministros e vice-ministros de partidos diferentes em uma mesma pasta sempre foi apontada como desafio, e a saída inesperada de Whitfield desta posição pode sinalizar um braço de ferro interno.

Reação da Democractic Alliance

O porta-voz da DA, Willie Aucamp, qualificou a demissão como “um desenvolvimento muito sério” e informou que o Federal Executive do partido se reuniria ainda em 26 de junho para decidir possíveis medidas de resposta. Aucamp ressaltou que a decisão uniliteral de Ramaphosa viola o princípio de parceria acordado em 2024.

Impactos na estabilidade e no futuro do governo

  • Risco de retração de apoio: caso a DA entenda que o acordo foi rompido, poderá retirar a sustentação ao governo, ameaçando a maioria funcional do ANC no Parlamento.
  • Atraso em reformas: projetos de infraestrutura, combate ao desemprego e atração de investimentos dependem de consenso; conflitos internos podem paralisar decisões cruciais.
  • Sentimento do mercado: investidores monitoram rumores de impasse político. Embora o rand tenha se mantido estável após o anúncio, a volatilidade pode aumentar se a coalizão se fragmentar.

Conclusão

A demissão de Andrew Whitfield, sem justificativa oficial, representa um choque para a coalizão que tenta conciliar visões opostas desde junho de 2024. Nas próximas semanas, o desfecho dos debates internos na DA e a reação de Ramaphosa serão fundamentais para determinar se o governo de unidade nacional sobreviverá a mais este teste de confiança mútua ou se a política sul-africana rumará novamente ao impasse.

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