Reformulação Governamental na Ucrânia: Resiliência Nacional, Relações com Washington e Desafios Democráticos

Yulia Svyrydenko discursando no Parlamento ucraniano durante a sessão de reformulação do governo, com bandeiras da Ucrânia e da União Europeia ao fundo.
Foto oficial de Yulia Svyrydenko na posse como primeira-ministra da Ucrânia /chathamhouse

Em 17 de julho de 2025, o Parlamento ucraniano aprovou uma ampla reformulação de governo — a maior desde o início da invasão russa — elevando Yulia Svyrydenko à chefia do Executivo. Além de reforçar a produção de defesa e buscar autossuficiência militar, o movimento visa reparar laços com os Estados Unidos, angariar novos financiamentos internacionais e dinamizar a economia em plena lei marcial. Este artigo revisita as principais medidas do novo gabinete, corrige imprecisões, atualiza com fatos recentes e analisa os riscos políticos internos.

Fortalecimento da Indústria de Defesa e Autossuficiência

Meta de produção interna:
A Ucrânia pretende elevar, nos próximos seis meses, a produção doméstica de armamentos de 40% para 50% das suas necessidades, reduzindo a dependência das ajudas externas.

Fusão ministerial:
O Ministério da Defesa foi incorporado ao Ministério para Indústrias Estratégicas, sob comando de Denys Shmyhal, ex-primeiro‑ministro. A unificação busca agilizar decisões e atrair parcerias público‑privadas em projetos de drones interceptadores com IA e mísseis de longo alcance.

Negociações com Washington:
Svyrydenko conduziu a criação do US‑Ukraine Reconstruction Fund, e agora negocia acordos para investimentos americanos na produção doméstica de drones — tecnologia que tem compensado a inferioridade numérica frente às forças russas.

Reconstrução de Laços com os Estados Unidos

  • Embaixadas reforçadas:
    Em 21 de julho, Zelensky nomeou 14 novos embaixadores — incluindo Olha Stefanishyna como representante em Washington — para pressionar a aprovação de mais assistência militar e diplomática junto ao governo Trump.
  • Compromisso de Trump:
    O presidente Donald Trump sinalizou aumento no fornecimento de armas a um eventual novo governo republicano, criando janela para contratos e facilitação de transferências tecnológicas a Kiev.

Desafios Econômicos e Financiamento Externo

  • Déficit e FMI:
    O orçamento de guerra requer cerca de US$ 75 bilhões em dois anos, mas só metade foi assegurada. Svyrydenko anunciou intenção de buscar um novo programa de empréstimos junto ao FMI já em agosto, visando elevar o crescimento acima de 4 % em 2026, contra estimados 3 % em 2025.
  • Pacotes europeus:
    Em Roma, foi lançado um European Recovery Fund de € 2,3 bilhões. A Comissão Europeia estuda também antecipar empréstimos do pacote de US$ 50 bilhões do G7, além de usar ativos russos congelados para compensar faltas orçamentárias.
  • Mercado de trabalho:
    A Ucrânia enfrenta escassez de 4,5 milhões de trabalhadores na próxima década. O plano inclui incentivos habitacionais e de emprego para refugiados retornarem, programas de requalificação para veteranos, mulheres e pessoas com deficiência, e reforma da legislação trabalhista.

Riscos de Retrocesso Democrático

  • Lei Marcial e eleições:
    Sob lei marcial, as eleições seguem suspensas — medida apoiada por 71 % da população. A impossibilidade de voto, porém, reduz a renovação política e acentua o poder do Executivo.
  • Autoritarismo e controle:
    Ao mesmo tempo em que ministros acusados de corrupção foram afastados, surgem denúncias de intimidação a opositores, restrições a agências anticorrupção e cerceamento de imprensa. Tais práticas podem minar a confiança ocidental e alimentar desinformação russa.

Prioridades de Transparência e Inclusão

Para que a reformulação produza efeitos sustentáveis, o governo ucraniano precisa:

  1. Garantir Transparência:
    Publicar editais e relatórios de parcerias industriais e de defesa.
  2. Ampliar a Participação:
    Incluir sociedade civil, setor privado e especialistas internacionais no planejamento da reconstrução.
  3. Fortalecer a Fiscalização:
    Reforçar tribunais de contas e agências anticorrupção, assegurando independência e recursos.

Conclusão

A reformulação de julho de 2025 reforça a determinação ucraniana — militar e diplomática — em resistir à agressão russa. Contudo, o sucesso dependerá da habilidade de equilibrar decisões de guerra com o respeito irrestrito à democracia e ao Estado de Direito. A reconstrução nacional só será sólida se for construída sobre transparência, participação e fortalecimento institucional.

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