
Em um movimento que marca uma reconfiguração geopolítica no Afeganistão pós‑2021, a Rússia anunciou que prestará assistência técnica, inteligência e capacitação ao governo do Talibã para combater o ISIS‑K, a filial local do Estado Islâmico. A iniciativa, confirmada por Zamir Kabulov, representante especial de Moscou para o país, destaca o grupo extremista como “inimigo comum” e sinaliza um alinhamento de interesses que pode alterar o equilíbrio de poder regional. Este artigo analisa os antecedentes históricos dessa cooperação, os tipos de apoio russo, bem como as potenciais implicações para a segurança, a política e a sociedade afegãs.
Rússia e Talibã unem forças contra o ISIS-K
Em um movimento diplomático e estratégico de alto impacto, a Rússia declarou que prestará assistência ao governo do Talibã no Afeganistão para combater a filial local do Estado Islâmico, conhecida como ISIS-K (Estado Islâmico Khorasan). A declaração foi feita por Zamir Kabulov, representante especial de Moscou para o Afeganistão, em entrevista à agência estatal RIA.
Contexto geopolítico
Desde a tomada de poder pelo Talibã em agosto de 2021, após a retirada das forças lideradas pelos EUA, o grupo não foi oficialmente reconhecido por nenhum país. Ainda assim, a segurança regional e os interesses estratégicos têm levado potências como a Rússia a reavaliar sua postura.
- Reconhecimento tácito: Em abril de 2025, a Rússia removeu formalmente o Talibã de sua lista de organizações terroristas, onde havia sido incluído em 2003.
- Ameaça do ISIS-K: O grupo foi responsabilizado por diversos ataques no Afeganistão e, segundo inteligência dos EUA, pelo atentado de março de 2024 a um centro de shows nos arredores de Moscou, que deixou 145 mortos.
“Inimigo comum”
Kabulov descreveu o ISIS-K como “inimigo comum” de Moscou e Cabul. Segundo ele, os esforços do Talibã para erradicar células do grupo extremista no Afeganistão são reconhecidos e valorizados pela Rússia.
“Verificamos e apreciamos as ações que o Talibã vem empreendendo contra o ramo afegão do ISIS”, afirmou. “Ofereceremos nossa melhor assistência às autoridades afegãs por meio de estruturas especializadas.”
Formas de assistência russa
- Apoio de inteligência: Compartilhamento de informações de vigilância e contra-terrorismo.
- Treinamento e capacitação: Envio de especialistas e instrutores para formar unidades antiterroristas do Talibã.
- Equipamentos especializados: Possível fornecimento de tecnologia de monitoramento, comunicação segura e armamentos não letais.
Implicações regionais e globais
A cooperação entre Rússia e Talibã sinaliza uma reconfiguração das alianças no Afeganistão, com reflexos significativos:
- Segurança regional: Pode fortalecer a capacidade do Talibã de controlar territórios e reduzir ataques do ISIS-K, diminuindo fluxos de refugiados e atividades criminosas transfronteiriças.
- Influência russa: Amplia o papel de Moscou como ator-chave na Ásia Central, contrapondo-se à presença chinesa e às antigas influências ocidentais.
- Relações internacionais: Representa um passo em direção ao reconhecimento formal do Talibã, especialmente se o governo afegão demonstrar avanços no combate ao terrorismo.
Reações e desafios
- Estados Unidos e OTAN: Monitoram com atenção; podem ver a aproximação como perda de influência, mas também como uma oportunidade de pressionar o Talibã por garantias antiterroristas.
- Países vizinhos: Paquistão e Irã avaliam os impactos sobre suas próprias políticas de segurança e controle de fronteiras.
- Desafios internos ao Talibã: Divergências entre facções sobre o nível de cooperação com potências estrangeiras podem minar a coesão do regime.
Próximos passos
Ainda neste mês, Rússia e Afeganistão realizarão um fórum de negócios na cidade de Kazan para discutir projetos conjuntos, incluindo:
- Exploração mineral: Aproveitamento das vastas reservas estratégicas de minerais do Afeganistão.
- Gasodutos e infraestrutura: Planos para integrar rotas energéticas que conectem a Ásia Central ao sul da Ásia, com potencial impacto regional.
A proposta de nomeação de um embaixador afegão em Moscou também está em pauta. Segundo Kabulov, a medida encerraria “todos os obstáculos à cooperação plena entre nossos países em diversas áreas”.
Conclusão
A decisão da Rússia de apoiar o Talibã contra o ISIS-K reflete interesses convergentes de segurança e geopolítica. Ao consolidar essa aliança, Moscou busca reforçar sua influência regional e conter a expansão do extremismo islâmico. Para o Talibã, o apoio russo representa um avanço diplomático e uma oportunidade de fortalecimento interno. Resta observar como este alinhamento afetará o delicado equilíbrio de poder no Afeganistão e suas repercussões na comunidade internacional.
Faça um comentário